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Jucá pedirá trégua em reunião com oposição, sem presença de Renan

PSDB e DEM só aceitam acordo sobre CPMF se aliados votarem proposta que acaba com voto secreto

Por Cida Fontes
Atualização:

Sem a presença do presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), o líder do governo, senador Romero Jucá (PMDB-RR), reúne-se hoje com a oposição para pedir uma trégua. Os líderes do PSDB e do DEM só aceitam fazer acordo se a base aliada se comprometer a votar a proposta de emenda constitucional (PEC) que acaba com o voto secreto para cassação de mandatos. O primeiro obstáculo, porém, será o próprio Renan. Sua ausência na reunião de hoje é um sintoma de sua desestabilização. "Duvido que Renan ponha essa PEC na pauta", afirmou o senador Tião Viana (PT-AC). Pelo seu raciocínio, o peemedebista vai impedir que as regras sejam alteradas, pois não quer enfrentar os próximos julgamentos pelo voto aberto. É nesse clima de desordem que Jucá conversará com a oposição, tentando preparar o ambiente para a chegada ao Senado da emenda que prorroga a CPMF. Como não tem 49 votos para aprovar a CPMF, o Planalto precisa do apoio da oposição. Por isso, o líder do governo terá de ser cuidadoso, justamente agora que cresceu o assédio a senadores do DEM para ampliar a maioria governista na Casa. César Borges (DEM-BA) está de malas prontas para filiar-se ao PR, apesar dos apelos de Sérgio Guerra (PSDB-BA), que foi a Salvador no fim de semana para convidá-lo a ingressar no PSDB. O vice-presidente José Alencar, do PRB, entrou no circuito oferecendo jantar aos senadores do DEM Romeu Tuma (SP), Edison Lobão (MA) e Demóstenes Torres (GO). O líder do DEM no Senado, José Agripino (RN), deixou claro que qualquer acordo com o governo está condicionado à votação das propostas que estabelecem o voto aberto e sessões abertas para cassação de mandatos. A oposição quer negociar também a votação do projeto que prevê o afastamento automático dos cargos da Mesa, corregedoria e presidências de comissões de quem estiver com processo no Conselho de Ética. O senador Jarbas Vasconcelos (PMDB-PE), relator dessa proposta na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), tranqüilizou os colegas afirmando que a nova regra não seria aplicada a Renan. Ou seja, só passaria a vigorar para os casos que surgirem após sua aprovação. "É um projeto correto e moralizador. Não é um gesto pequeno para atingir A ou B", afirmou o senador, que apresenta seu parecer amanhã na CCJ. "Precisamos votar o que interessa para que o Senado saia do fundo do poço", completou o relator da proposta. ESTRATÉGIA A estratégia da oposição de obstruir o plenário visa a desgastar e isolar politicamente Renan. Ao mesmo tempo, mantém o clima de tensão para levar o Planalto a forçar o presidente do Senado a se licenciar do cargo. Na conversa com a oposição, porém, Jucá tem um trunfo: o interesse de senadores do DEM na aprovação do nome de Luiz Antonio Pagot para o comando do Departamento Nacional de Infra-Estrutura de Transportes (DNIT), primeiro item da pauta da Casa e que só poderá ser votado com o fim da obstrução. Pagot é suplente do senador Julio Campos (DEM-MT) e já trabalhou no gabinete do senador Jonas Pinheiro (DEM-MT). Ambos pressionam a favor dele. O líder Agripino afirmou que não pretende fazer acordo para retirar a indicação do DNIT da pauta, até porque isso não agradaria aos dois senadores de Mato Grosso, que também são assediados pelo governo. Outra forma de Jucá atrair o DEM para desobstruir o plenário é inverter a pauta, com o objetivo de votar primeiro o nome do delegado Paulo Lacerda (ex-diretor-geral da Polícia Federal) para o comando da Agência Brasileira de Inteligência (Abin), deixando Pagot para um momento político menos tenso. Tuma trabalha para aprovar a indicação de Lacerda, que foi seu assessor.

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