Jovens de rua usam maconha como analgésico

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Por Agencia Estado
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Entre os jovens de rua, o comportamento de risco para a aids está intimamente ligado à falta de estrutura familiar e ao uso de drogas, de acordo com um estudo realizado por pesquisadores da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). Essa interrelação, entretanto, é menos óbvia do que parece. A droga, principalmente a maconha, é usada pelos jovens como um "analgésico" para suportar as dores do ato sexual, já que muitos começam a se prostituir em idade precoce. "É como se a droga fosse uma conseqüência e não causa do sexo inseguro", diz o psiquiatra Dartiu Xavier, diretor do Programa de Orientação e Atendimento a Dependentes (Proad) da Unifesp. O estudo é baseado em entrevistas com 387 jovens, com idades entre 11 e 18 anos, que procuraram atendimento do Proad no período de um ano. A maior parte (73%) era de meninos. Para fins de comparação, os pesquisadores também analisaram o comportamento de um grupo de 160 jovens de classe média. A proximidade de alguns resultados pode mascarar a vulnerabilidade das populações, como no caso do uso de preservativos. "Não usar proteção com um parceiro não é considerado sexo inseguro, pois a monogamia é uma estratégia de sexo seguro", compara Xavier. Quando um jovem deixa de usar camisinha com inúmeros parceiros, entretanto, o risco de contrair e transmitir a doença é enorme. O mesmo vale para o sexo sob o efeito de drogas: a proporção entre os jovens de rua que o praticam é até menor, mas cerca de 40% tinham mais de dez parceiros por mês. Uma das surpresas da pesquisa foi apontar a maconha como a droga mais usada depois do álcool entre a população de rua. Normalmente, seriam o tabaco e a cola. O consumo era especialmente alto entre os jovens prostituídos, que usavam a droga para enganar a dor das relações homossexuais. O estudo também apontou forte relação entre o comportamento de risco e a violência familiar. Dois terços dos jovens de rua abusados sexualmente sofreram a agressão dentro da família, normalmente por parte do pai ou do padrasto. "Nas classes mais altas isso não aparece como uma variável importante", relata Xavier, que orientou a pesquisa da mestranda Fátima Dinis Rigato. Os resultados serão importantes para a definição de estratégias regionais de educação e intervenção entre os jovens de rua.

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