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José Genoíno garante que fará muito mais do que o PSDB

Por Agencia Estado
Atualização:

Ele trocou o certo pelo duvidoso. Está há 20 anos no Congresso e admite que sentirá saudade do Parlamento. Aos 56 anos, José Genoíno será confirmado amanhã, no encontro estadual do PT, como candidato ao governo paulista. Deputado federal mais votado do País, ele tenta agora seu primeiro cargo executivo. Mas a situação não é fácil: as pesquisas dão a Genoíno apenas o quarto lugar, com menos de 10%. "Só que não entro na disputa achando que vou perder", diz esse cearense, que garante nunca fazer oposição raivosa. "Eu aposto no quanto melhor, melhor." O encontro petista de amanhã vai testar o humor dos militantes sobre a remota possibilidade de alianças com o PL e o PMDB de Orestes Quércia. Outro desafio, pois há vários focos de resistência. Genoíno não diz se subiria no palanque de Quércia. "Essa questão não está posta", alega. Ex-guerrilheiro, ele se define como um apaixonado pela política, que aceita qualquer desafio, "mesmo correndo riscos". Agência Estado - Por que 60% dos eleitores de Lula ainda não votam no senhor, segundo pesquisa do Vox Populi? José Genoíno - Muitos não sabem que sou candidato. Quando é apresentado meu nome, com a sigla PT e minha foto, o grau de conhecimento aumenta. Portanto é questão apenas de campanha. Entro na disputa como alternativa a uma falta de projeto para São Paulo. Qual é seu projeto? Falta a São Paulo um projeto econômico de crescimento com geração de emprego. Temos de priorizar regiões econômicas conforme suas vocações e ter política mais agressiva de exportações, com a criação de uma agência especial para comércio exterior. A Embraer participa da maior concorrência internacional da Aeronáutica para compra de caças. A empresa tem sede aqui e o governador não fala nada? Sem contar o grande vazio, que é na segurança. São Paulo precisa de um comandante político que impulsione as forças do Estado. E o que tem São Paulo hoje? Um vice-governador que cumpre função burocrática. Não tem iniciativa. No caso do desemprego, culpa o governo federal , que é do partido dele. Por que a esquerda sempre teve um discurso brando sobre segurança? A esquerda realmente teve dificuldade de tratar a questão. Primeiro por causa da repressão no período autoritário. Porque normalmente, e é correto, a esquerda atua nas causas sociais. Mas não se pode ficar só nelas. Além disso, quando a direita fala em olho por olho, dente por dente, é o discurso da omissão do Estado, da barbárie. Assim, todos ficam cegos. Seu secretário pode ser alguém de fora do PT? Pode ser de fora. Mas suas propostas, como a de Rota na rua, são polêmicas no PT. Aceito críticas. Não defendo Rota na rua no discurso tradicional. É uma força especial que deve agir em casos especiais com comando preciso, como os de seqüestro. Mas, recentemente, o governo teve algumas vitórias no combate ao crime... O PSDB governa o Estado há 8 anos. O que ocorre agora são medidas de impacto, porque o governo estava na lona. O que as pessoas têm de perguntar é por que só se descobriu o problema agora. Mas não aposto no quanto pior, melhor. Para mim, quanto melhor, melhor. E quero governar o Estado porque farei muito melhor que eles. O sr. suspenderá as privatizações? O processo tem de ser paralisado. Somos contra privatizar energia, água, universidades e queremos negociar com a União para recuperar a Ceagesp, aeroportos, o Porto de Santos. Queremos aumentar a presença do setor público no controle do que foi privatizado, mas não reestatizar ou romper contratos. Temos de reduzir o custo São Paulo, que aumentou muito no governo do PSDB. Pesquisa encomendada pelo PT recomenda que o sr. não vincule sua imagem à da prefeita Marta Suplicy, por causa do desgaste... Todas as administrações do PT são defensáveis no meu palanque. Estamos honrando compromissos da dívida e recuperando serviços públicos. Ainda não estamos à altura das exigências da população, mas temos projetos sociais importantes. Vamos explicar as dificuldades e não esconder nada. O sr. sobe no palanque com Orestes Quércia? Estamos discutindo com o PMDB, não com pessoas. Eu me sinto muito à vontade de subir no palanque com o escritor Fernando Morais. E com Quércia? Essa questão não está posta, porque não aconteceu. O PT não vai abrir mão do seu programa, dos seus compromissos, da sua história. A própria negociação com o PMDB de Quércia e o PL não é contraditória? Não. O PMDB tem muita gente que não tem prática condenável, que tem tradição democrática. O que tentamos evitar é o rolo compressor contra nós. O desafio é saber dialogar, fazer alianças sem concessões no que for fundamental. É o fio da navalha que temos de enfrentar. Eu negocio com todo mundo. No governo, também negociarei, independentemente de renda, dos mais altos executivos até os sem-terra. Sei combinar firmeza com tolerância. Lula está preparado para isso também? Lula será o governo de maior negociação na história do País. É o único que terá condições de negociar um verdadeiro contrato social. O sr. concorda com o deputado Aloizio Mercadante, quando ele diz que o Brasil mudou para melhor? Em algumas coisas sim, em outras não. A distribuição de renda piorou, aumentou o desemprego, as privatizações foram uma transferência patrimonial do serviço público. O País melhorou do ponto de vista da democracia, dos direitos humanos. Não temos crise político-institucional. Foi um amadurecimento. Qual é seu maior medo nesta campanha? O que não quero é baixaria. Sempre disputei projetos e idéias. Não tenho inimigos.

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