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Jornalista Alberto Dines morre aos 86 anos

Dines, que estava na profissão desde 1952, foi editor-chefe do Jornal do Brasil nos anos 1960 e 1970, quando driblou vetos da ditadura

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Por Redação
Atualização:

O jornalista Alberto Dines morreu na terça-feira, 22, aos 86 anos, em São Paulo. Ele tinha sido internado há dez dias no Hospital Albert Einstein, no Morumbi (zona sul), em decorrência de uma gripe, mas o quadro se agravou para uma pneumonia. A causa da morte não foi oficialmente informada. Dines marcou sua carreira de mais de seis décadas pela postura crítica ao regime militar e à própria mídia.

O falecimento foi confirmado pelo site criado por ele em 1995, o Observatório da Imprensa, nas redes sociais. “É com profunda tristeza que a equipe do Observatório da Imprensa comunica o falecimento de seu fundador, Alberto Dines (1932-2018), na manhã de hoje (terça-feira) no hospital Albert Einstein, em São Paulo. Estamos preparando uma edição especial sobre o legado do mestre Dines a ser publicada em breve”, diz o texto divulgado no Facebook pelo Observatório.

Alberto Dines tinha 86 anos e vivia em São Paulo. Foto: Renata Jubran/AE

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+ Dines, uma referência

Dines nasceu em 19 de fevereiro de 1932, no Rio. Aos 20 anos iniciou a carreira na revista A Cena Muda e apenas dez anos depois já era editor-chefe do Jornal do Brasil, onde atuou como diretor dos cadernos Comunicação e Cadernos de Jornalismo, ao lado de Fernando Gabeira. Em 1963, criou a cadeira de jornalismo comparado da PUC-RJ e, em 1968, foi preso após criticar a ditadura em um discurso na universidade.

Sua postura crítica em relação ao governo militar abreviou sua carreira no Jornal do Brasil, de onde saiu demitido em 1973 após driblar a proibição de publicar na primeira página do jornal manchete sobre a morte do então presidente chileno Salvador Allende. O JB foi às bancas com um texto longo sobre o assunto na primeira página, sem, contudo, exibir uma manchete, ou seja, um título principal. A capa entrou para a história do jornalismo brasileiro.

Após dois anos, assumiu a chefia da sucursal da Folha de S.Paulo no Rio e lá permaneceu até 1980. Nesse período, criou o espaço Jornal dos Jornais, dentro da Folha, em que entre 1975 e 1977 fez críticas ao jornalismo na época. Após escrever uma sátira para o Pasquim, jornal famoso por fazer críticas à ditadura, Dines deixou a publicação.

Em 1982, Dines se mudou para Portugal para escrever a biografia do escritor Stefan Zweig (alemão que fugiu para o Brasil no governo de Adolf Hitler). Após a publicação do livro, assumiu o cargo de secretário editorial da Editora Abril, onde criou a versão portuguesa da revista Exame. Em 1988, foi nomeado diretor do Grupo Abril em Portugal.

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Em 1993, já no Brasil, foi cofundador do Laboratório de Estudos Avançados em Jornalismo (Labjor) da Unicamp. Sempre interessado na vida acadêmica e na qualidade da profissão, criou dois anos depois o Observatório da Imprensa. O portal foi para a TV em 5 de maio de 1998, em programa veiculado semanalmente. Dines escreveu 15 livros, de ficção a reportagens e biografias. Ele deixa mulher e quatro filhos.

Repercussão

O presidente Michel Temer lamentou a morte de Dines. “O jornalismo brasileiro perde um dos pilares da ética e do profissionalismo”, disse, no Twitter. “Alberto Dines passou pelos mais importantes veículos do País e criou uma geração de jornalistas comprometidos com a correção da informação. Meus cumprimentos à família”, concluiu o presidente.

O governador de São Paulo, Márcio França, também se manifestou. Segundo ele, o País se despede “de um jornalista brilhante”. Em nota, a Associação Brasileira de Imprensa (ABI) afirmou que “o principal legado de Dines foi a coerência que sempre manteve diante dos mandamentos que regem a boa prática do jornalismo”. Dines integrava o Conselho Consultivo da ABI. 

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