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Joice Hasselmann: 'Levarei o Senhor Eduardo Bolsonaro ao Conselho de Ética e à PGR'

Em discurso na Câmara, a deputada se emocionou e disse que nem ataques recebidos da esquerda foram tão 'sórdidos'

Por Mariana Haubert e Camila Turtelli
Atualização:

BRASÍLIA - Ex-líder do governo no Congresso, a deputada Joice Hasselmann (PSL-SP) se emocionou e chegou a chorar ao discursar na tribuna do plenário da Câmara, nesta terça-feira, 5, ao relatar os xingamentos e as ameaças que tem recebido nas redes sociais. Para ela, o movimento representa um autoritarismo "sujo". 

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A deputada também anunciou que irá protocolar uma representação contra o atual líder do PSL, deputado Eduardo Bolsonaro (SP), no Conselho de Ética da Câmara e na Procuradoria-Geral da República por considerar que ele é um dos que lideram os ataques. Diante do desabafo, diversos parlamentares até mesmo da oposição a aplaudiram e se solidarizaram.

"Não vou tolerar nenhum tipo de afronta, crime, calúnia, seja ela virtual ou não, de quem quer que seja, nem do filho do presidente da República. Levarei o senhor Eduardo Bolsonaro ao Conselho de Ética e à PGR", disse Joice.

A deputadaJoice Hasselmann chorounesta terça-feira natribuna do plenário da Câmara ao discursar sobre as agressões que vem sofrendo na redes sociais Foto: DIDA SAMPAIO/ESTADÃO

Desde que foi destituída da liderança do governo no Congresso como consequência de uma crise no PSL, a deputada tem acusado o governo e os filhos do presidente Jair Bolsonaro de usarem uma "milícia digital" para atacar desafetos políticos. Entre os os xingamentos que disse ter recebido pelas redes sociais estão imagens de porcas e da personagem infantil Peppa Pig.

Na tribuna, Joice contou que nem mesmo quando foi atacada pela esquerda as ofensivas chegaram a "níveis tão sórdidos" e defendeu o respeito entre partidos opositores. "Quem é de direita tem que saber divergir. Se não, é autoritarismo do mais sujo, do mais baixo. Não precisamos concordar uns com os outros, mas também não precisamos nos odiar porque somos de partidos diferentes ", disse.

A deputada se emocionou no momento em que relatou que um de seus filhos, de 11 anos, a questionou sobre o motivo de a chamarem de porca na internet. "Essas lágrimas não são por mim. Como vocês puderam ouvir, minha história é de guerreira, mas meu filho de 11 anos recebendo imagens com meu rosto com corpo de prostituta, com o corpo deformado, isso eu não vou permitir", afirmou. Joice contou que, pela primeira vez, se sentiu vítima do "mais sujo machismo". 

"Quando meu filho perguntou porque estavam fazendo isso comigo, eu respondi que são criminosos, são bandidos. O código civil e o código penal não deixam de existir só porque é virtual. Se não pararmos essa esquizofrenia, essa loucura, essa gangue, a gente não tem como reconstruir esse país", completou.

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A deputada também afirmou não concordar com "muita coisa" que o presidente Jair Bolsonaro está fazendo. "Acho que ele se apequenou em alguns momentos na cadeira. Isso é triste para mim porque eu fiz campanha no país inteiro por ele", disse. 

Ela citou como principal exemplo o envolvimento direto de Bolsonaro na crise do seu partido, o PSL, que culminou com a sua destituição do cargo de líder do governo no Congresso e alçou Eduardo à liderança do PSL na Câmara. 

Para ela, o país não pode virar uma "República da filhocracia e República do Twitter". "É uma crise atrás da outra e causada pelo que? Me dêem uma resposta lógica. Qual foi o meu crime? [...]  Discordar uma única vez, discordar de um golpe. Discordar do meu presidente, o homem que eu ajudei a eleger. discordar dele se apequenar", disse.

Joice mencionou ainda outros deputados do PSL que, de acordo com ela, estão sofrendo perseguição também, como os deputados Julian Lemos (PB), Dayane Pimentel (BA), Nereu Crispim (RS), Delegado Pablo (AM), e Felipe Francischini (PR), que é presidente da Comissão de Constituição e Justiça. 

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Em relação à deputada Soraya Manato (ES), Joice afirmou que o governo ameaçou retirar cargos para os quais ela teria feito indicações. "Não foi isso que prometemos, não foi toma lá, dá cá, não foram cargos ou voto. Eu sigo leal ao que eu prometi", disse.  Apesar das críticas ao presidente, Joice afirmou que continuará apoiando Bolsonaro nas pautas "a favor do Brasil" e disse que vai se empenhar na aprovação do pacote de reformas que o governo apresentou hoje ao Congresso. 

"Ele [Bolsonaro] não é Deus, é um homem e homem falha. E um homem nobre tem que saber ouvir críticas. Quando você discorda ou critica alguém muito perto é porque você quer amadurecimento e quer que a pessoa melhore", disse.

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Ao fim de seu discurso, diversos deputados, até mesmo da oposição, pediram a palavra para prestar solidariedade à colega. "Aqui a senhora poderá encontrar um adversário que defende teses contrárias às que você defende, mas saiba que nunca trataremos como inimiga. O Brasil precisa romper com esse ciclo da política que não tem mais adversários, mas inimigos que precisam ser aniquilados. Que o seu discurso sirva para acabar com o ódio", disse o deputado Orlando Silva (PCdoB-SP).

"O papel que você teve na mudança desse país foi fundamental. Ninguém mais que você fez transformar e mudar esse país com a reforma da Previdência. Ninguém sabe ainda quanto foi pago para fazer essa reforma aqui passar. Muita gente está omitindo muita coisa. As pessoas têm nos atacado, cuspido no prato em que comeram", disse o deputado Delegado Waldir (PSL-GO), que durante a crise do seu partido perdeu a liderança da legenda para Eduardo Bolsonaro. 

Para o deputado Julian Lemos (PSL-PB), também colocado de lado pelo clã Bolsonaro, os ataques virtuais à deputada representam um caso grave de machismo. "Nunca na história desse país houve um ataque tão grande de machismo, de falta de escrúpulos, onde na página de um filho de presidente tem uma imagem de uma porca com biquínis. Isso é uma violação à essência da mulher", afirmou o deputado Julian Lemos (PSL-PB). 

Já o deputado Pompeo de Mattos (PDT-RS) afirmou ficar impressionado como em "tão curto tempo" o presidente passou a "desconhecer toda uma luta, uma trajetória, um suporte que o presidente Bolsonaro recebeu de você". "Não sou do seu partido, mas a gente precisa respeitar. Temos divergências de ideias, de conceitos", disse Pompeo de Mattos (PDT-RS).

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