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Joesley Batista, do grupo JBS, chama Temer de 'ladrão-geral da República'

Declarações do empresário foram uma reação à nota do Palácio do Planalto que o chamou de 'grampeador-geral da República'

Foto do author Vera Rosa
Por Vera Rosa , Ligia Formenti e Rafael Moraes Moura
Atualização:

BRASÍLIA - O empresário Joesley Batista, do grupo JBS, chamou o presidente Michel Temer de “ladrão geral da República” e disse que ele “envergonha” todos os brasileiros. Delator da Lava Jato, Joesley afirmou em nota que a colaboração premiada é um direito e que o ataque a essa prerrogativa revela a “incapacidade” de Temer se defender “dos crimes que comete.”

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As declarações do empresário foram uma resposta a outra nota, divulgada na sexta-feira, 1, pela Secretaria de Comunicação da Presidência (Secom), na tentativa de criar uma “vacina” à nova denúncia que a Procuradoria-Geral da República promete apresentar contra Temer. Na ocasião, o Palácio do Planalto desqualificou o operador Lúcio Funaro, que firmou acordo de delação com o Ministério Público, e se referiu a Joesley como “grampeador geral da República.”

“A colaboração premiada é por lei um direito que o senhor presidente da República tem por dever respeitar. Atacar os colaboradores mostra no mínimo a incapacidade do senhor Michel Temer de oferecer defesa dos crimes que comete. Michel, que se torna ladrão geral da República, envergonha todos nós brasileiros”, respondeu Joesley, em nota.

O empresário Joesley Batista, da JBS Foto: AYRTON VIGNOLA/ESTADÃO

O advogado Antônio Cláudio Mariz de Oliveira, defensor de Temer, disse que a declaração do empresário “não merece nenhuma resposta em face da sua origem e do conhecido comportamento absolutamente reprovável do delator”. O depoimento de Joesley - que gravou conversa com Temer, no Palácio do Jaburu - serviu como base para a primeira denúncia apresentada contra o presidente pelo procurador-geral da República, Rodrigo Janot, por corrupção passiva. 

“A resposta já foi dada pela Câmara dos Deputados, que rejeitou a denúncia baseada na acusação dessa mesma pessoa”, afirmou Mariz.

ESTRATÉGIA

Na expectativa de uma nova acusação, Temer decidiu antecipar a estratégia de forte reação política ao conteúdo da delação de Funaro, ainda sob sigilo. O Estado apurou que as acusações do operador atingem não apenas Temer como outras figuras de expressão no PMDB, com potencial para aumentar a crise no governo. Diante desse cenário, deputados do Centrão - grupo que reúne partidos médios - estão exigindo a cadeira do ministro da Secretaria de Governo, Antonio Imbassahy (PSDB), responsável pela articulação política, para renovar o apoio a Temer.

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A Secom afirmou, na sexta-feira, que Temer se reserva o direito de não tratar de “ficções e invenções”. Argumentou, ainda, quea "suposta segunda delação" de Funaro apresenta "inconsistências e incoerências próprias de sua trajetória de crimes" e insinua uma parceria entre ele e Joesley.

Para o Palácio do Planalto, Joesley “mentiu” e omitiu fatos em sua delação e, mesmo assim, “continua tendo o perdão eterno” de Janot. “Prêmio igual ou semelhante será dado a um criminoso ainda mais notório e perigoso como Lúcio Funaro?”, questionou a nota da Secom.

A nota destaca que Funaro foi preso há um ano por "ameaçar de morte" a seus ex-parceiros comerciais e diz não estar claro como se deu sua "conversão" diante de Janot. Em tom de ironia, a nota pergunta qual "mágica" teria feito o operador, "que traiu a confiança da Justiça e do Ministério Público", ganhar agora credibilidade. 

"Diante da vontade inexorável de perseguir o presidente da República, Funaro transmutou-se em personagem confiável. Do vinagre, fez-se vinho. Quem garante que, ao falar ao Ministério Público, instituição que já traiu uma vez, não o esteja fazendo novamente?", indaga a nota. "Se era capaz de ameaçar a vida de alguém para escapar da Justiça, não poderia ele mentir para ter sua pena reduzida? Isso seria, diante de sua ficha corrida, até um crime menor."

CONTiNUA APÓS PUBLICIDADE

O Palácio do Planalto recebeu informações de que a denúncia de Janot contra Temer será, desta vez, por obstrução de Justiça. Na nota, a Secom menciona o diálogo gravado clandestinamente por Joesley para sustentar que o presidente "jamais" obstruiu a Justiça.

"A gravação usada pelo seletivo acusador desmente a acusação. Outro agravante é o fato de o grampeador-geral da República ter omitido o produto de suas incursões clandestinas ao Ministério Público. No seu gravador, vários outros grampos foram escondidos e apagados. Joesley mentiu, omitiu e continua tendo o perdão eterno do procurador-geral. Prêmio igual ou semelhante será dado a um criminoso ainda mais notório e perigoso como Lúcio Funaro?", provoca a nota.

A primeira denúncia contra Temer, por corrupção passiva, foi rejeitada pelo plenário da Câmara em 2 de agosto e a segunda acusação deve ser apresentada nos próximos dias por Janot, que deixa o cargo no próximo dia 17. Na contra-ofensiva, o presidente disse que os irmãos Batista refizeram sua delação, "demonstrando terem mentido e omitido fatos, sobretudo em relação às falcatruas com o BNDES".

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Na avaliação do Planalto, os delatores prestaram falso testemunho na Operação Bullish e puderam, "camaradamente", 'corrigir' suas mentiras ao procurador-geral. "Sem um puxão de orelhas sequer", diz o texto divulgado pela Secom. 

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