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Jobim diz que urna eletrônica com voto impresso é ‘cruza de jaguatirica com cobra d’água’

Em audiência pública, ex-presidente do STF e do TSE defendeu manutenção do sistema atual de votação

Por Marcelo de Moraes
Atualização:

BRASÍLIA – O ex-presidente do Supremo Tribunal Federal e do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) Nelson Jobim defendeu a manutenção do sistema de urna eletrônica, sem adoção de comprovante de voto impresso. Em audiência pública da Comissão Especial da Câmara, que discute o projeto sobre uso de cédulas físicas para plebiscitos, referendos e eleições, Jobim disse que discorda da proposta de mudança. O jurista comparou a junção dos dois sistemas a uma “cruza de jaguatirica com cobra d’água”.

O voto impresso é defendido no Congresso principalmente por parlamentares bolsonaristas, integrantes de partidos do Centrão. “Acho que a mistura, a compatibilização do sistema de urna eletrônica que temos com o sistema de impressão de voto, como diria o deputado Pompeo de Mattos, poderia ser uma cruza de jaguatirica com cobra d’água”, afirmou Jobim, numa referência ao deputado do PDT gaúcho, que integra a comissão e é um dos defensores do sistema com voto impresso. O PDT, partido de oposição, defende a impressão do voto, mas sustenta que o modelo é diferente do proposto pelo presidente Jair Bolsonaro

Nelson Jobim, ex-presidente do Supremo Tribunal Federal e ex-ministro da Justiça Foto: Felipe Rau/Estadão

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Jobim disse se preocupar com o fato de a alteração no atual sistema acabar gerando sérios problemas para o processo eleitoral. “Essa comissão é um grande lugar para trabalhar no avanço da segurança da urna eletrônica. Mas não se terá a segurança da urna eletrônica no voto impresso. Vão criar outros problemas. Piores problemas com a possibilidade da fraude”, avaliou ele, que também foi ministro da Justiça no governo Fernando Henrique e titular da Defesa nos governos Lula e Dilma.

Defensores da mudança, como a deputada Bia Kicis (PSL-DF), argumentaram com Jobim que existe uma desconfiança do eleitor brasileiro em relação à segurança da urna eletrônica, com o temor de que o voto possa ser fraudado. O ex-ministro da Justiça discordou da posição da deputada, afirmando essa era uma generalização queela fazia ao falar de uma parcela dos eleitores como se fossem todos. "Eu também sou eleitor e não acho isso", disse.

O ex-ministro concorda que a evolução da tecnologia pode proporcionar a evolução do sistema usado na urna eletrônica. "A evolução do sistema é natural. Estamos às portas de o Brasil encerrar a licitação do chamado 5G. Que é a internet das coisas. É evidente que isso vai fazer uma alteração brutal no sistema tecnológico brasileiro. Ou seja, a evolução da tecnologia não é segurável. Ninguém segura essa evolução", previu.

Mas Jobim entende que isso não pode ser feito abrindo mão da eficiência da urna eletrônica. "Continuo dizendo, por experiência minha, que alguns podem não concordar porque o processo democrático é assim, que tenho mais demonstração de que a desconfiança faz mais sentido em relação ao voto impresso e à apuração manual do que ao sistema de voto eletrônico. Temos uma longa história sobre isso", afirmou o ex-ministro.

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