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João Goulart é enterrado com honras de chefe de Estado

Segundo enterro encerrou o ato de exumação dos restos mortais para investigação da causa da morte do ex-presidente

Por Elder Ogliari
Atualização:

São Borja - Morto em 6 de dezembro de 1976, o ex-presidente João Goulart foi enterrado pela segunda vez nesta sexta-feira, em São Borja, na fronteira com a argentina, exatos 37 anos após sua morte. Desta vez, a cerimônia foi organizada com as honras de um chefe de Estado que o primeiro funeral não teve. As homenagens reuniram a família Goulart e contou com a participação de políticos como o senador Pedro Simon (PMDB), o ex-deputado federal Ibsen Pinheiro (PMDB), a ministra dos Direitos Humanos Maria do Rosário (PT), o deputado federal Vieira da Cunha (PDT) e o governador em exercício Pedro Westphalen (PP), além de alguns amigos ainda vivos do ex-presidente, admiradores e militantes trabalhistas.Por decreto do prefeito, a cidade - de 60 mil habitantes, que também foi berço do ex-presidente Getúlio Vargas e do ex-presidente da Câmara durante o governo Itamar Franco, Ibsen Pinheiro - parou para homenagear um de seus filhos mais ilustres. Centenas de pessoas foram ao aeroporto esperar pelo caixão e uma multidão acompanhou o velório na catedral São Francisco de Borja. Cerca de mil acompanharam o enterro. O corpo chegou a São Borja por volta das 13 horas. Depois do desembarque, passou diante de 150 soldados do Exército, que dispararam três tiros de fuzil e executaram a marcha fúnebre. Em seguida foi colocado sobre um caminhão do Corpo de Bombeiros e levado em cortejo guardado por cavaleiros da Brigada Militar até a igreja. No trajeto, o corpo foi saudado por pessoas nas janelas das casas, decoradas com bandeiras do Brasil. Por onde o caixão passou foi aplaudido e saudado com gritos "Jango, Jango, Jango".Investigação. O segundo enterro de Jango encerra ato de exumação dos restos mortais para investigar da causa da morte do ex-presidente. Ele morreu em Mercedes, na Argentina, durante o exílio. O primeiro enterro ocorreu em clima tenso. Três mil pessoas desafiaram a ordem militar de um velório rápido e carregaram o caixão pelas ruas de São Borja. A causa oficial da morte do ex-presidente, parada cardíaca, foi contestada por um ex-agente da repressão uruguaia, que diz ter participado de uma operação de envenenamento de Goulart. Trinta e sete anos depois, em 14 de novembro deste ano, os restos mortais foram removidos e transportados para Brasília para coleta de amostras a pedido da Comissão da Verdade. Uma equipe de peritos internacionais vai tentar identificar a verdadeira causa da morte ou informar se isso se tornou missão impossível. A ministra dos Direitos Humanos, Maria do Rosário, considerou a investigação da morte de Goulart e o enterro com honras oficiais "uma etapa importante para o resgate da história do Brasil", mas admitiu que o Estado tem responsabilidades também com todos os desaparecidos durante o regime militar e seus familiares. "Há lacunas a serem preenchidas e precisamos nos aproximar e dar uma resposta a essas famílias".Curiosamente o Estado do Rio Grande do Sul foi representado pelo presidente da Assembleia Legislativa Pedro Westphalen, do PP, partido que sucedeu a Arena, que, por sua vez, dava sustentação ao regime militar que derrubou Goulart. O governador Tarso Genro (PT), também filho de São Borja, está em viagem para a China, e o vice, Beto Grill (PSB), na Bahia para acompanhar o sorteio das chaves da Copa do Mundo. Westphalen lembrou que sua presença era institucional. Ele destacou o espírito democrático de Goulart e evitou polêmicas ao dizer que o momento não era de retomar discussões sobre a deposição do ex-presidente e o regime militar. "Essa discussão não cabe agora, a democracia do Brasil está consolidada".

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