Jefferson sobre Dirceu: 'Ele me derrubou, eu o derrubei'

Após diagóstico de tumor, Roberto Jefferson reitera acusações contra ex-ministro e diz que origem de rusgas foi acordo em Furnas

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Por Redação
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Roberto Jefferson diz não conseguir dormir há dez dias. O ex-deputado de 59 anos recebeu o diagnóstico de um tumor de 4 centímetros no pâncreas. "Fica passando um filme para lá e para cá. E eu, de olhos arregalados, às 3h da manhã."

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Nessa retrospectiva pessoal, diz não se arrepender do episódio em que denunciou, em junho de 2005, o pagamento mensal a deputados para manterem fidelidade ao governo e acusou o então chefe da Casa Civil, José Dirceu, de comandar o esquema que deu origem ao processo no Supremo Tribunal Federal. Ao contrário, Jefferson repete acusações contra Dirceu. Ambos foram cassados pela Câmara e estão inelegíveis até 2015. No processo do mensalão, o presidente do PTB responde por corrupção passiva e lavagem de dinheiro.

O ex-deputado acusa Dirceu de ter abastecido jornais e revistas de informações contra ele. A principal foi uma fita em que um funcionário dos Correios, Maurício Marinho, recebia propina e detalhava um esquema de corrupção que beneficiaria Jefferson. Quando as investigações tiveram início, o petebista contra-atacou e denunciou o mensalão.

"Eu vi no noticiário a marca da Casa Civil. O Zé Dirceu me atingiu, eu dei o troco. Ele me derrubou, eu o derrubei", relembrou Jefferson, em seu escritório no Rio, um dia antes de se internar para a retirada do tumor.

Na sala, está a foto com o olho roxo – que Jefferson atribuiu a um acidente – quando depôs na CPI dos Correios. Em outra ponta, posa com uma de suas duas motos. Assume o espírito estradeiro ao falar sobre o tumor: "Se a sentença da biópsia for de curto prazo, vou dizer: ‘Um beijo pra todo mundo e vou andar de Harley-Davidson, vou para a estrada!’".

Furnas. Jefferson diz que a origem dos ataques de Dirceu foi um acordo com o então ministro em que PT e PTB dividiriam recursos de empresas ligadas a Furnas. O acerto previa a permanência do diretor Dimas Toledo, desafeto do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Em abril de 2005, Jefferson falou do acordo a Lula.

"José Dirceu e eu fizemos um acordo sobre Furnas sem o presidente saber. Tinha coisa que o presidente não sabia, era bola nas costas", contou. O raciocínio se repete ao dizer que acredita na inocência de Lula no caso do mensalão. "Ele ficou surpreso quando contei. Me perguntou: ‘Roberto Jefferson, o que é mensalão?’ O presidente demorou a agir, mas acredito que não sabia."

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Não é o que pensa o advogado Luiz Barbosa, ex-deputado que, segundo Jefferson, o representa de graça. Barbosa sustenta a tese de que Lula ordenou o mensalão. "O procurador-geral da República não explica por que não denunciou o patrão, só os empregados. Os ministros são auxiliares do presidente", insistiu.

Jefferson foi incluído no processo por ter dito que recebeu R$ 4 milhões do PT em 2004. Alega que não faz sentido ser acusado de corrupção se foi o denunciante. E jura que acreditava na origem lícita da verba que, segundo ele, cobriria gastos de campanha. "Fiz um acordo com o PT, não com traficante do Alemão, com Cachoeira. Para mim, dinheiro do PT é lícito. Não lavei dinheiro."

Jefferson, que ganhou fama como o "advogado dos pobres" de O Povo na TV, na extinta TV Tupi, está no PTB desde 1980. Em 1992, liderou a tropa de choque de Fernando Collor de Melo. Foi eleito presidente do PTB em 2003 e afastou-se por um ano, depois da cassação.

De volta ao posto, dá a palavra final nas grandes decisões, mas não posa com candidatos. "Não posso. Sai uma foto minha dizendo: ‘O mensaleiro Roberto Jefferson’." Confiante no sucesso da cirurgia, Jefferson acredita que, quando começar o julgamento, estará no quarto do hospital. "Se puder, vou assistir pela TV."

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