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Jaime Lerner: 'todas as cidades deveriam ter um sonho e persegui-lo'

Após abandonar a política, ex-governador se dedicou a instituto de urbanismo

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Por Marleth Silva
Atualização:

Depois de deixar o governo do Paraná e abandonar a política, Jaime Lerner passou a se dedicar ao instituto de urbanismo que leva seu nome e que está instalado na casa que ele projetou e onde viveu com a família, no bairro Cabral, em Curitiba. Lá, trabalhava cercado de jovens. Dizia que é a produção em equipe, com várias mentes diferentes trazendo sugestões, que origina os melhores projetos.

Como fazia trabalhos no Exterior e em outros Estados – é de autoria dele os projetos recentes da orla de Porto Alegre (RS), de reestruturação urbana de Balneário Camboriú (SC) e de um parque suspenso sobre o Minhocão de São Paulo, que chegou a entregar para o então prefeito João Doria - viajava muito e acompanhava as mudanças em cidades de todo o mundo. Recentemente, foi o caso da cidade de Perm, nos Urais russos, que o chamou para ajudar em um projeto para torná-la mais atrativa para os jovens e evitar a migração.

Jaime Lerner, ex-governador do Paraná, morreuaos 84 anos Foto: Felipe Rau/Estadão

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Sobre o Brasil, dizia que os prefeitos estão se escondendo atrás das restrições orçamentárias e do teto de gastos para justificar a falta de inovação e de criatividade, que ele via como a solução para melhorar a vida nas cidades. Em uma entrevista de 2016, resumiu: “Acho que se procuram justificativas para não fazer. Uma delas é querer prever tudo antes de começar. Isso é impossível. Inovar é começar”.

Avesso à vida partidária, Lerner foi para o PDT levado por Leonel Brizola, de quem era um grande admirador. Em todo encontro com amigos, o urbanista contava histórias divertidas sobre Brizola, sempre imitando o sotaque gaúcho. Também foi amigo e admirador de Oscar Niemeyer, que sempre visitava, no Rio de Janeiro, uma de suas cidades favoritas. Niemeyer é o autor do projeto do museu que hoje leva seu nome em Curitiba e que foi construído, na década de 1960, para a administração pública do Paraná. Durante o mandato como governador do Paraná, Lerner resolveu adicionar o edifício apelidado de Olho, que constava no projeto original, e usá-lo como museu de artes. Teve que chamá-lo de Museu Novo, porque Niemeyer não aceitou a homenagem com seu nome. Mais tarde, houve a mudança para Museu Oscar Niemeyer.

Nos últimos anos de vida, Jaime Lerner sofreu com dores que o obrigaram a passar por uma cirurgia na coluna e se apoiar em uma bengala. Mesmo assim, manteve o hábito de tomar café ou almoçar feijoada com os amigos aos sábados, de preferência em locais com mesas na calçada. Nessas ocasiões, contava sobre suas descobertas musicais, rabiscava em guardanapos ideias para as cidades que visitava e fazia piadas sobre si mesmo, especialmente sobre o excesso de peso e as mazelas do envelhecimento. Uma das histórias que contava era sobre quando, em um restaurante na Argentina, notou que duas pessoas na mesa ao lado disseram sobre ele: “Como come, el gordo!”. Lerner achava muita graça de ser chamado de “el gordo”.

A seguir, algumas reflexões de Lerner sobre urbanismo e gestão pública extraídas de entrevista concedida à revista jurídica Law, em maio de 2016:

Quando você faz o fundamental, o importante cresce. Agora, quando você faz só o importante, fica muito claro que você não está mudando nada.

Todas as cidades deveriam ter um sonho e perseguir esse sonho. Em Curitiba, nós tivemos vários sonhos.

O maior erro é o excesso de dependência do automóvel. Todo o espaço público está privatizado pelo automóvel e para a infraestrutura que ele demanda.

O pessimista não é mais realista que o otimista. O problema do pessimista é que ele acaba torcendo para que os desastres aconteçam e confirmem suas previsões.

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