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Já infectado, Heleno despachou com seis colegas de governo

Aos 72 anos, ministro do GSI esteve em encontros e reuniões com boa parte da equipe ministerial

Por Emilly Behnke
Atualização:

BRASÍLIA – Desde os primeiros indícios de doentes do coronavírus no avião presidencial que voltou dia 11 de Miami, o general da reserva Augusto Heleno Ribeiro, um dos integrantes da comitiva, não alterou sua rotina. Aos 72 anos, idade do grupo de mais risco de contágio, o ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional esteve em encontros e reuniões com boa parte da equipe ministerial. 

O presidente Jair Bolsonaro e o ministro doGSI, Augusto Heleno Foto: Adriano Machado/Reuters

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Veterano de missões, o general da reserva não adotou a precaução em sua volta dos Estados Unidos. Experiência nesse campo não falta no currículo dele. O general da reserva já foi comandante nos rincões insalubres da Amazônia e, entre 2005 e 2006, da Missão das Nações Unidas no Haiti. Tempos depois da saída de Heleno de Porto Príncipe, em 2010, o país caribenho sofreu um surto de cólera, que deixou dez mil mortos. A ONU admitiu que não conseguiu prever a epidemia.

Num campo de batalha, a saúde e a segurança de um general e de seu entorno são prioridades, pois a tropa não pode ficar sem cérebro. Tanto que, entre oficiais, um general que pega uma doença no front recebe solidariedade em público e crítica nas conversas reservadas.

Por meio de sua conta no Twitter, Heleno orientou seus seguidores, no dia 12, a levarem em conta as recomendações do Ministério da Saúde na prevenção ao coronavírus. Mas, na prática, não fez quarentena – mesmo sabendo que colegas da comitiva estavam com a doença – e adotou a posição do presidente Jair Bolsonaro de minimizar o impacto da pandemia.

No mesmo dia do post, Heleno foi ao Palácio da Alvorada conversar com Bolsonaro. Um novo encontro entre os dois ocorreu, na sexta-feira, no Planalto. Na manhã de segunda-feira, o general participou de uma reunião na Defesa com os ministros Braga Netto (Casa Civil), Sérgio Moro (Justiça), Luiz Eduardo Ramos (Secretaria de Governo) e Luiz Henrique Mandetta (Saúde), além do presidente da Agência Nacional de Vigilância Sanitária, Antônio Barra Torres.

Já na manhã de anteontem, terça-feira, ele se encontrou novamente com Ramos e deu entrevistas após sair do Serviço Médico da Presidência. Heleno chegou a brincar com seu colega de governo. “Essa mancha na sua gravata é coronavírus?”, perguntou a Ramos. Em cinco dias de despachos na Presidência, ele esteve com dezenas de servidores da casa. Da sua tropa atual no GSI, quatro já haviam "caído". Pegaram coronavírus ao acompanhar Bolsonaro na viagem aos Estados Unidos.

O ministro do GSI ignorou manuais de guerra que fizeram a cabeça de gerações militares. No livro A Arte da Guerra, o general chinês Sun Tzu (544 a.C.- 496 a.C.) escreveu que “nunca se deve confiar na probabilidade do inimigo não estar vindo”. O pensador ainda citou como uma das “fraquezas fatais” de um general está o descaso pela própria vida. 

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Outra referência dos estudos militares ignorado por Heleno, o general prussiano Car von Clausewitz (1780-1831) pregou estratégias que levem em conta a incerteza. “Deve deixar sempre uma margem para a incerteza nas maiores e nas menores coisas”, destacou no livro Da Guerra. A preocupação com doenças no campo de batalha sempre marcou comandantes militares. Napoleão Bonaparte chegou a dizer, após derrota na Rússia, que foi vencido pelo General Tifo, termo genérico para doenças bacterianas.

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