Itamaraty pedirá explicações a embaixador venezuelano

Amorim disse que venezuelano ultrapassou ´limites´ no impasse sobre a TV estatal de Hugo Chávez, mas frisou que Hélio Costa exagerou ao chamá-la de ´péssima´

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Por Agencia Estado
Atualização:

O Itamaraty vai convocar nesta semana o embaixador da Venezuela no Brasil, general Júlio García Montoya, para explicar-se sobre a maneira desrespeitosa com que tratou o ministro das Comunicações, Hélio Costa, na polêmica travada entre ambos sobre o modelo venezuelano de TV estatal. Interessado em evitar que o bate-boca deslanche em impasse nas relações bilaterais, o ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, explicou nesta segunda-feira que o embaixador ultrapassou "limites". Mas fez questão de também indicar que passará um pito no seu colega de ministério. "O embaixador (Montoya) tem todo o direito de defender e esclarecer os pontos de vista de seu país. Mas, dirigindo-se a um ministro brasileiro, ele tem também de respeitar certos limites na terminologia", declarou Amorim. "Acredito que alguma coisa tenha sido involuntária. O nosso interesse não é o de alimentar polêmica. Também vou falar com o ministro Hélio Costa com o mesmo objetivo." A polêmica surgiu na semana passada, quando Hélio Costa defendeu que a TV do Executivo - o mais novo projeto de comunicação do governo Luiz Inácio Lula da Silva - não será um órgão estatal nem seguirá o mesmo padrão "péssimo" de qualidade da TV oficial venezuelana. "Estatal é o que o Chávez faz", declarou Costa, na última quinta-feira, referindo-se às decisões do governo de Hugo Chávez de criar a Telesur e de nacionalizar redes privadas de televisão. "Não tem ninguém querendo fazer TV estatal nem culto à personalidade (no Brasil)." Montoya rebateu no dia seguinte. Por meio de nota à imprensa, afirmou que Costa cometeu um "desatino político e diplomático" e um "deslize emocional" ao definir TV estatal. "Assusta-nos o fato de descobrir que personalidades ligadas ao governo brasileiro cometam o erro de justificar posições políticas comprometidas valendo-se da comparação desqualificadora do nosso país", afirmou o embaixador. No sábado, Costa reafirmou suas críticas à TV estatal venezuelana e revidou em seguida. "Esse embaixador é um mal-educado e deselegante", afirmou. "O programa do Chávez que eu gosto mais é aquele do SBT, até porque é engraçado", ironizou, valendo-se de comparação ao programa humorístico mexicano. O bate-boca deixou um rastro indesejável ao governo brasileiro, que prepara o segundo encontro entre os presidentes Lula e George W. Bush, dos Estados Unidos, em menos de um mês. Bush tornou-se uma espécie de arquiinimigo de Chávez, o alvo constante de suas críticas ao imperialismo e contraponto para sua defesa da expansão da revolução bolivariana na América Latina. Entretanto, a decisão do Itamaraty de chamar o embaixador venezuelano para explicações deixou claro que limites de tolerância foram ultrapassados e que, embora não pretenda alimentar essa controvérsia, o governo brasileiro não poderia omitir-se. Tradicionalmente, a missão de pedir explicações e de repreender representantes estrangeiros no Brasil caberá ao secretário-geral das Relações Exteriores - no caso, o embaixador Samuel Pinheiro Guimarães.

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