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Itália viu surgir guerrilha em plena democracia

Entre os grupos radicais, o PAC de Battisti foi um dos menos ideológicos e mais efêmeros

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Por Carlos Marchi
Atualização:

Quando a extrema-esquerda decretou a "estratégia das tensões" e começou a praticar uma violenta guerrilha urbana, no início da década dos 1970, poucos países conseguiam ser mais democráticos que a Itália. Com o fracasso da experiência socialista no Chile, o Partido Comunista Italiano propôs o "compromisso histórico", uma aproximação com a arquirrival Democracia Cristã. Foi nesse quadro que a extrema-esquerda italiana marchou para a revolução. O Proletari Armati per il Comunismo (PAC), criado na Lombardia, norte da Itália, em 1977, estava entre os grupos menos consolidados ideologicamente e foi dos mais efêmeros. Alguns foram mais conhecidos, seja pela extrema violência de suas ações, como as Brigate Rosse (Brigadas Vermelhas), seja pela sofisticação de seu ideário, como o Potere Operaio (Poder Operário). Mas todas minavam a democracia com assaltos, sequestros e atentados brutais contra a população civil. Os italianos chamam essa época anni di piombo. Nada parecido com o Brasil, onde os anos de chumbo caracterizaram o mesmo período, mas se referem aos feitos da repressão militar. O PAC foi criado por Sebastiano Masala, Arrigo Cavallina e Giuseppe Memeo, que arregimentaram militantes de origem operária para promover ações de apoio a reivindicações trabalhistas. Numa de suas primeiras investidas, sabotou a oficina da Alfa Romeo em Milão, durante uma greve. Logo o grupo derivou para ações extremadas, como atirar nas pernas das pessoas nas ruas e organizar ataques à polícia e à Justiça. Um deles, em maio de 1978, feriu o médico Diego Fava, do Inam (Istituto Nazionale per l''Assicurazione contro le Malattie), o SUS italiano da época, que atendia a prisioneiros políticos nas cadeias. Num segundo ataque, feriu Giorgio Rossanigo, médico da prisão de Novara, e Arturo Nigro, agente carcerário em Verona. ASSASSINATO A primeira morte do PAC aconteceu em junho de 1978, quando tiros disparados por Cesare Battisti mataram o agente penitenciário Antonio Santoro, em Udine. A execução não foi decretada por razões políticas, mas por questiúnculas pessoais. Meses antes, Cavallina quebrara o braço na prisão e Santoro teria demorado para chamar a ambulância. Num mesmo dia, em fevereiro de 1979, o PAC fez sua incursão mais espetacular: em dois assaltos, matou o açougueiro Lino Sabbadin (ação de que Battisti participou prestando cobertura armada) em Santa Maria di Sala, próximo a Veneza, e o joalheiro Luigi Torregiani (ação que foi idealizada e organizada por Battisti), em Milão. Logo a polícia apertou a investigação sobre o grupelho e prendeu vários de seus militantes. Alguns deles se queixariam de ter sido torturados. Battisti nega ser o autor dos crimes. Em resposta, o PAC partiu para sua última ação conhecida: em 19 de abril de 1979, tiros desfechados por Battisti mataram o agente da Digos (Divisione di Investigazioni Generali e Operazioni Speciali) Andrea Campagna, em Milão. Presos, os principais dirigentes declararam o PAC extinto. Alguns militantes que estavam em liberdade ingressaram no grupo Prima Linea, que herdou filiados de outras dezenas de grupúsculos. Battisti foi preso na célula-sede do PAC, portando armas e explosivos. A partir daí, o PAC acabou.

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