Itália chama embaixador de volta

Gesto complica relação entre os dois países por conta da concessão de refúgio ao extremista Cesare Battisti

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Por Roma
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A Itália intensificou ontem seus protestos contra a concessão do refúgio político para o extremista Cesare Battisti no Brasil ao convocar seu embaixador em Brasília de volta a Roma - no ritual da diplomacia, o gesto evidencia a insatisfação com a conduta de autoridades brasileiras e a deterioração das relações entre os dois países. O subsecretário de Relações Exteriores da Itália, Alfredo Mantica, se declarou tão "indignado" com o Brasil que chegou a sugerir o cancelamento da partida amistosa entre as seleções brasileira e italiana, no dia 10 de fevereiro, em Londres. Depois, recuou. Mantica também insinuou que a Itália, que atualmente preside o G8, vai dificultar a aproximação do Brasil com a organização que reúne as maiores economias do mundo. A iniciativa de convocar o embaixador Michele Valensise foi tomada após o procurador-geral da República no Brasil, Antonio Fernando de Souza, recomendar ao Supremo Tribunal Federal a extinção do processo de extradição de Battisti. O extremista de 54 anos, preso no Rio de Janeiro em 2007, foi condenado na Itália a prisão perpétua por quatro homicídios quando militava na organização Proletários Armados pelo Comunismo (PAC), nos anos 70. Ele nega ter cometido os crimes. Para Antonio Fernando, que anteriormente havia se manifestado a favor da extradição, o processo perdeu o sentido com a decisão do ministro da Justiça, Tarso Genro, de dar a Battisti o status de refugiado político. Tarso considerou que o italiano é alvo de perseguição por sua atuação política e que não teve direito à ampla defesa - o ativista, condenado à revelia, acusou seu advogado na Itália de falsificar uma procuração para representá-lo. Em nota, o governo italiano qualificou como "grave" a decisão do procurador-geral e ressaltou que a convocação do embaixador foi feita após consulta ao primeiro-ministro Silvio Berlusconi. O ministro da Defesa italiano, Ignazio La Russa, disse à agência de notícias Ansa que não aceitará a decisão do governo brasileiro e que seu país deve "tentar todos os caminhos possíveis e imagináveis" para conseguir a extradição. "Neste momento, meu pensamento vai para as famílias das pessoas assassinadas por Cesare Battisti, um terrorista que foi condenado a prisão perpétua por crimes enormes e que, apesar de ter sido entregue à Justiça, conseguiu obter do Brasil uma inacreditável concessão de refúgio político", criticou. Não são apenas integrantes do governo Berlusconi que atacam a decisão brasileira. Walter Veltroni, ex-prefeito de Roma e líder do Partido Democrata (PD), principal força de oposição na Itália, disse que seu partido vai propor uma moção de protesto contra a concessão do refúgio. Para Veltroni, Berlusconi precisa pedir ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva "respeito aos direitos das vítimas". Também do Partido Democrata, o ex-primeiro-ministro Massimo D''Alema disse que o Brasil cometeu "um erro grave", mas defendeu a "retomada do diálogo político para buscar soluções". JAMIL CHADE COM AGÊNCIAS INTERNACIONAIS www.estadao.com.br Para 11.880 leitores, o governo brasileiro não deveria ter concedido refúgio político ao italiano Cesare Battisti 76% NÃO 24% SIM

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