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Isolado, Renan não ouve conselhos nem dos amigos

Presidente do Senado recorre a manobras para adiar as investigações contra ele

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Por Redação
Atualização:

O presidente do Senado, senador Renan Calheiros (PMDB-AL), está isolado e se recusa a seguir os conselhos políticos de seus colegas mais próximos. Na tentativa de neutralizar a acusação de pagar despesas pessoais com dinheiro do lobista de uma empreiteira, Renan recorreu a sucessivas manobras para adiar ou impedir as investigações do conselho, sempre orientado pelos advogados. "Ele precisa ter a nitidez de que esse é um processo político e não apenas jurídico", avalia um senador do PMDB próximo a Renan. Ao adotar uma estratégia meramente jurídica, o presidente do Senado entrou em confronto com a oposição e começou a perder aliados em seu próprio núcleo de apoio. Na última quinta-feira, em plenário, a líder do PT, senadora Ideli Salvatti (SC), uma aliada de primeira hora, surpreendeu o plenário ao criticar publicamente a decisão de Renan de adiar para a próxima terça-feira a reunião da Mesa Diretora do Senado destinada a formalizar o pedido de perícia da Polícia Federal nos documentos com os quais o senador pretende provar que possui recursos próprios para pagar as despeas. Reservadamente, outros senadores do PT criticam a forma como Renan vem agindo para protelar as investigações. Na avaliação de senadores de diferentes partidos, o presidente do Senado, além de perder aliados, está perdendo espaço político. E isso poderá ser decisivo na hora de fazer sua defesa no plenário da Casa. Se aprovado pelo Conselho de Ética, o processo contra ele será submetido ao plenário. Se mantiver a estratégia atual de defesa e o clima de confronto, ele corre o risco de ter o mandato cassado. O diálogo com a oposição está rompido, e os oposicionistas ameaçam paralisar os trabalhos do Senado, em agosto, após o recesso parlamentar, se Renan tentar impedir as investigações e a perícia em suas contas. A obstrução das votações pela oposição seria prejudicial ao governo, já que a pauta está trancada por quatro medidas provisórias (MPs), e a base governista é frágil para aprová-las. Ajuda O líder do governo no Senado, senador Romero Jucá (PMDB-RR), um dos senadores mais próximos de Renan, tem tentado ajudar o amigo. Mas outros senadores do PMDB disseram que o presidente do Senado não segue nem os conselhos de Jucá, preferindo agir na linha indicada pelos advogados. "Renan não está escutando ninguém", atesta um colega. "Só quem pode melhorar o clima no Senado é o próprio Renan", avalia um senador do PT numa roda de conversa. É unânime entre os senadores a convicção de que a saída para a crise é política e não jurídica. A expectativa é a de que Renan recorra ao Supremo Tribunal Federal (STF) para impedir eventual quebra de seus sigilos fiscal e bancário durante o processo de investigações. Além das notas fiscais e recibos apresentados por Renan para tentar provar que faturou R$ 1,9 milhão nos últimos quatro anos com venda de gado de suas fazendas, em Alagoas, os peritos terão de examinar cheques e depósitos de dinheiro utilizados na comercialização das rezes. Renan alega que foi desse rendimento que retirou o dinheiro com que pagou pensão à jornalista Mônica Veloso, com quem tem uma filha de três anos. Até o senador Wellington Salgado (PMDB-MG), um dos maiores defensores de Renan, admite que a saída para a crise passa pelo seu afastamento, pelo menos até a conclusão das investigações, do cargo de presidente do Senado. Salgado disse que Renan está sob fogo cerrado da mídia e da oposição e, por isso, deveria se licenciar do cargo, para "esfriar a cabeça": "Ninguém agüenta isso. Ele deve estar estressado e precisa se acalmar."

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