PUBLICIDADE

Isolado, Jordão lidera ranking dos municípios mais pobres do País

Por Moacir Assunção
Atualização:

Situado no Acre, na confluência dos rios Tarauacá e Jordão, o município de Jordão, de 6,3 mil habitantes, é um dos mais isolados do País. E também um dos dois mais pobres, segundo os índices do IDF. O lugar é tão remoto que foi ali, nas matas da região, que fotografaram meses atrás um grupo de índios isolados, apontando seus arcos, em atitude guerreira, para o avião que transportava estudiosos da Fundação Nacional do Índio (Funai), numa imagem que impressionou o mundo. Uma das cidades mais próximas, Taraucá, dista cinco dias de viagem de barco. Tudo fica tão longe que o preço de um litro de gasolina custa R$ 4,30 - quase o dobro do que se paga na bomba em São Paulo. O botijão de gás chega a R$ 65. A distribuição da população lembra a de um Brasil antigo, quando a maioria das pessoas vivia na roça. Ali, 70% dos habitantes estão na zona rural; e 40% do total são índios. O índice de analfabetismo chega a 61%. Dirigida pelo prefeito Hilário Melo, petista que acaba de ser reeleito, a cidade, com seis automóveis e quatro caminhões, tem poucas ruas pavimentadas. A rede de esgoto ainda está sendo construída. A internet só pode ser acessada por meio de rádio, em dois pontos da cidade: um no escritório local do governo do Estado e outro em uma lan house. A economia depende da transferência de recursos dos governos federal e estadual. Além de escolas de ensino fundamental e médio, a cidade conta com uma unidade da Universidade Federal do Acre. Ao saber dos índices do IDF, o prefeito ficou inconformado. "Não posso concordar", disse ele. "Esses números não refletem nem de longe o que somos. Temos universidade, escola técnica de enfermagem, energia elétrica 24 horas, acesso à internet, uma floresta muito rica e um belo artesanato indígena. Além disso, dormimos de porta aberta, sem medo, e 80% da população freqüenta a escola." O governo do Estado também não gostou de ver Jordão no topo da lista dos municípios mais pobres. Segundo o assessor especial do governo Antônio Alves, o IDF utiliza critérios que só privilegiam aspectos urbanos. "São uma condenação ao mundo rural", afirmou. "Falar em analfabetismo onde a maior parte da população se comunica por meio de línguas indígenas é complicado. Embora não haja creche em Jordão, também não há crianças dessasistidas", disse. Para Alves, o IDF deveria rever seus critérios.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.