Irritado em ambiente hostil, Temer se cala sobre Padilha

Presidente é recebido com vaia e grito de 'carrasco' durante cerimônia do Minha Casa Minha Vida, em São José do Rio Preto

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Por José Maria Tomazela
Atualização:

SÃO JOSÉ DO RIO PRETO - O presidente Michel Temer (PMDB) se irritou na manhã desta sexta-feira, 24, ao ser questioado sobre as delações de ex-executivos da Odebrecht, em São José do Rio Preto (SP).Enquanto falava sobre a recuperação da credibilidade do País, Temer foi interrompido pela pergunta de uma jornalista. “Você me dá licença para terminar meu raciocínio? Falamos disso depois.”

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Logo depois, entretanto, questionado se as novas delações complicam a situação do ministro da Casa Civil, Eliseu Padilha, e do PMDB, Temer virou-se e se afastou, passando o microfone para o ministro das Cidades, Bruno Arújo (PSDB-PE). O ex-executivo da Odebrechet José de Carvalho Filho deu detalhes de pagamentos de R$ 4 milhões ao PMDB durante a campanha eleitoral de 2014.

No discurso para cerca de 4 mil beneficiados, durante a entrega de casas populares, Temer já havia se incomodado com alguns pessoas que gritavam “golpista” e se manifestavam contra a reforma da Previdência. “Carrasco, está restaurando a escravidão no Brasil”, gritou um dos manifestantes.

Parte do público também vaiou quando Temer chegou ao local do evento, principalmente em razão do atraso. As famílias esperavam sob calor intenso desde às 8 horas pela entrega das chaves, só iniciada às 11h45. O presidente iniciou o discurso avisando sobre um sorteio da mobília para quatro casas do núcleo. “Entramos numa casa e, depois que entregamos a chave, a senhora chorou por ver que a casa estava mobiliada.”

O presidente Michel Temer e o governador Geraldo Alckmin entregam chave a propriedade de unidade do Minha Casa Minha Vida, em São José do Rio Preto Foto: Beto Barata/PR

Após citar a parceria com o governo estadual, que custeou 10% das casas, Temer pediu aplausos para o governador Geraldo Alckmin (PSDB), também presente ao evento. “O Brasil aplaude o governador Geraldo Alckmin.” O governador tem se apresentado como possível pré-candidato à Presidência da República em 2018. Temer também e anunciou R$ 87 milhões para a duplicação da rodovia Transbrasiliana, pleito regional.

Carne Fraca – O presidente defendeu a carne brasileira, cuja qualidade entrou em xeque após a Operação Carne Fraca, da Polícia Federal, que flagrou irregularidades nos frigoríficos. “A carne brasileira é a melhor carne do mundo, não é fraca. O Aloysio (Nunes, ministro das Relações Exteriores, também presente) pegou o problema de saída, sabendo que nossa carne é forte, e trabalhou com o ministro Blairo Maggi (da Agricultura) para estancar essa restrição à carne brasileira. Vendemos para 150 países e a Coreia do Sul, que era grande compradora nossa, suspendeu mas já voltou a comprar a carne brasileira.”

Na única alusão, de forma indireta, à reforma da Previdência, que muda as regras para a aposentadoria da população, excluindo os servidores públicos, ele disse fazer se esforça para acolher as postulações sociais, mas precisa restaurar as contas públicas. “Em sete, oito menos reduzimos a inflação de 10,7% para 4,8% e você vê que a credibilidade do Brasil está aumentando.”

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Temer citou os resultados das últimas concessões na área de infraestrutura como prova dessa confiança. “Quatro aeroportos e um porto foram concedidos com ágio extraordinário. As pessoas só investem no Brasil quando o país vai bem. Alguém disse, Temer você precisa de muitas orações. Peço que rezem por mim e pelo Brasil, porque o que estamos fazendo é pelo bem do Brasil.”

Temer foi a Rio Preto inaugurar o Parque Solidariedade com 1,3 mil casas da segunda fase do Minha Casa Minha Vida. O obra foi iniciada e quase concluída no governo da ex-presidente Dilma Rousseff (PT). As obras pararam durante o processo de impeachment de Dilma. Cada casa com 46 m2, avaliada em R$ 81 mil, vai custar ao morador de R$ 25 a R$ 90 por mês durante 25 anos. O investimento é de R$ 111,8 milhões, dos quais R$ 13 milhões do governo estadual. Um grupo de manifestantes da Central Única dos Trabalhadores (CUT) e do Movimento dos Sem-Terra (MST) que protestava contra as reformas e pediam “fora Temer” foi mantido à distância pelo forte aparato policial.