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Investidores apostam em dívida dos emergentes, diz jornal

Por Agencia Estado
Atualização:

O jornal britânico Financial Times, em editorial publicado hoje, afirma que o movimento de alta dos papéis da dívida dos países emergentes parece ser sustentável. O diário financeiro observou que a euforia com as ações esticou os valores dos estoques acionários além de níveis justificáveis por causa de ainda incipientes sinais de recuperação. "É natural suspeitar que a dívida dos mercados emergentes está vivendo uma bolha similar", disse o jornal. "Mas embora vários aspectos desta alta requiram uma pausa para reflexão, há razões para acreditar que a dívida do mercado emergente vai provar ser um negócio melhor do que os estoques." Mesmo após o movimento de realização de lucros na semana passada, a dívida emergente tem oferecido retornos considerados excelentes. O índice do banco JP Morgan para emergentes mostra um retorno de 22% desde o início do ano. Os spreads das dívidas emergentes caíram para níveis não presenciados desde antes da moratória russa em agosto de 1998. O jornal observa que alguns aspectos da alta refletem dinâmicas de curto prazo do mercado ao invés de uma avaliação de seus fundamentos. Antes e durante a guerra no Iraque, os investidores saíram em busca de retornos mais elevados, os yields mais graúdos oferecidos pelos emergentes, pois além da pouca atratividade dos papéis do Tesouro norte-americano eles ficaram muito receosos em apostar numa recuperação econômica para comprar ações. Os fundos hedge, quase ausentes das dívidas emergentes desde 1998, entraram nesse movimento. O FT afirma que alguns países que estão aproveitando esta maré de confiança, como a Turquia e Venezuela, ainda afetados por instabilidade política e grandes dívidas, parecem estar sobrevalorizados. "Mas mesmo que essas embarcações vulneráveis comecem a afundar, é provável que a classe de ativos como um todo não seja afetada", disse o FT. "Como a Argentina mostrou, já se foram os dias quando problemas num único, grande mercado emergente arrastava os outros para o buraco". Segundo o diário, devedores e credores estão exibindo sinais positivos de maturidade comparando-se à última euforia dos mercados de dívidas. "Simbolizado pelo gerenciamento macroeconômico exemplar do Brasil, cujo recente corte na taxa de juros deu outro estímulo aos mercados de dívidas, os devedores têm no geral se comportado com responsabilidade até o momento", disse o FT. "Os governos de grandes mercados emergentes, têm em geral resisitido à tentação de relaxar nas disciplinas fiscais dolorosamente estabelecidas e de iniciar outra onda de empréstimos." Além disso, apesar de os "corretores de curto prazo que entraram nesse recente movimento de compra, "investidores em mercados emergentes parecem menos suscetíveis a modas passageiras do que no passado". O diário alertou, no entanto, que os riscos para essa classe de ativos vão permanecer. Elevações das taxas de juros no Grupo dos Sete (G7) maiores países industrializados poderiam gerar "um rápido movimento de venda nos mercados de renda fixa, aos quais os investidores têm sido atraídos pela promessa implicita do Federal Reserve de manter as taxas de juros baixas". Além disso, se a ameaça de deflação se transformar numa possibilidade séria, as dívidas de maior risco seriam as que mais sofreriam. "Mas se esses extremos forem evitados, a dívida emergente poderá mostrar ter sido uma das melhoras apostas dos investidores", concluiu o jornal.

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