Investida de Cunha chega ao seu ápice

Peemedebista iniciou ofensiva contra Dilma após ser eleito para a presidência da Câmara; petistas dizem que impeachment foi vingança

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Por Daniel de Carvalho e BRASÍLIA
Atualização:

Mais de um ano depois de uma série de pressões contra o governo e 157 dias após acolher o requerimento dos juristas Hélio Bicudo, Miguel Reale Júnior e Janaina Paschoal, o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), chega hoje ao ápice de sua ofensiva – ou vingança, como definem petistas – contra a presidente Dilma Rousseff. Às 14h, o peemedebista, réu no Supremo Tribunal Federal (STF) sob acusação de envolvimento na Lava Jato, abre a sessão de votação do impeachment da presidente.

Desavenças. Eduardo Cunha, presidente da Câmara, e a presidente Dilma têm histórico de embates Foto: ERALDO PERES|AP

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As desavenças entre Cunha e Dilma vêm de bem antes daquela quarta-feira, 2 de dezembro de 2015, dia em que Cunha instaurou o processo. No início de 2013, a presidente já não demonstrava simpatia pelo peemedebista e o olhava com desconfiança. Quatro meses depois, com Cunha já líder de seu partido, os dois se enfrentaram por causa da MP dos Portos.

No início de 2015, voltaram a medir força. Dilma apoiou Arlindo Chinaglia (PT-SP), mas seu desafeto foi eleito presidente da Câmara. Começava aí a agonia do governo. Na Casa, já se sabia que a abertura do impeachment era questão de tempo. Cunha maltratou o quanto pôde a gestão Dilma. Pautas-bomba, críticas contundentes, esforço para separar PT e PMDB. Com o governo enfraquecido e apoio da oposição, ocupou o vácuo de poder deixado pela presidente petista. Reuniões dia e noite aconteciam diariamente na residência oficial da Câmara, quartel-general do impeachment.

A deflagração do processo era moeda que Cunha usava para negociar apoio no Conselho de Ética, onde será julgado sob acusação de mentir ao afirmar que não tem contas no exterior.

Desde que rompeu formalmente com o governo, em 17 de julho do ano passado, cortou relações diretas, mas não deixou de negociar. Seu intermediário era o deputado André Moura (PSC-SE). Integrante da tropa de choque de Cunha, Moura era o responsável por dialogar com o chefe de gabinete da Presidência, Jaques Wagner, à época ministro da Casa Civil. Procurado pela reportagem para falar sobre o caso, o ministro não se manifestou.

Decretos. Cunha estava tenso em 2 de dezembro. “Muito nervoso”, como descreveu um de seus homens de confiança. Acostumado a dormir pouco, já pela manhã fez reunião com aliados e advogados. Havia decidido que, naquela tarde, acolheria o pedido de impeachment apresentado pelos juristas. A justificativa: edição de decretos que autorizam crédito suplementar sem autorização do Congresso e contratação ilegal de operações de crédito, as chamadas pedaladas fiscais.

O entra e sai de oposicionistas e governistas no gabinete da presidência era ininterrupto. O contexto daquela semana evidenciava a todos que a deflagração do processo era uma questão de horas.

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Na véspera, o PT havia trocado o silêncio cúmplice pelo ataque. “Confio em nossos deputados, no Conselho de Ética, votem pela admissibilidade”, escreveu no Twitter o presidente do PT, Rui Falcão, por volta das 17h de 1.º de dezembro.

Integrante do Conselho de Ética, o deputado Zé Geraldo (PT-PA), aumentou o tom das críticas. “O governo está sendo chantageado por Eduardo Cunha. O Cunha tem uma metralhadora nas mãos, todo mundo sabe que ele e o grupo dele trabalham com essa arma”, afirmou no mesmo dia. / COLABOROU DAIENE CARDOSO