Intelectuais e políticos debatem socialismo

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Por Agencia Estado
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Luiz Inácio da Silva não pôde comparecer, nesta segunda-feira, durante o Fórum Social Mundial, ao quarto e último seminário do Instituto da Cidadania, que reúne especialistas para elaborar programas de governo. Precisou voltar para São Paulo no domingo à noite. Mas deixou uma mensagem gravada, que foi exibida em telão e que se encerrava com a seguinte frase, que ele já citou em outras ocasiões: "Não existe socialismo sem democracia e não existe democracia sem socialismo". A tarefa de explicar como essa conciliação seria possível coube a cinco pessoas. Dois são políticos: o prefeito de Porto Alegre, Tarso Genro, do PT, e o ministro francês da Educação Profissional, Jean-Luc Melenchon, do Partido Socialista. E os outros três são intelectuais: o economista Paul Singer e os sociólogos Francisco de Oliveira e Carlos Nelson Coutinho. Apesar de todos os cinco terem dito praticamente as mesmas coisas, o curioso é que os dois políticos foram bem mais moderados que os três intelectuais. Tarso Genro, que é autor de um livro chamado "A Utopia Possível", disse que não existe um projeto socialista suficientemente convincente hoje. Mas afirmou que cabe aos socialistas a tarefa de "reagir ao mercado" e "restaurar a subjetividade" que estaria sendo eliminada por meio do capital especulativo, do militarismo imperial e da manipulação da mídia. Então propôs três medidas para "resistir à globalização": uma nova ordem internacional, "sem a tutela dos EUA"; uma "reorganização inclusiva da sociedade", com a criação de mais empregos; e novas "instituições republicanas", estruturas de poder não-estatais, como, supostamente, o Orçamento Participativo. Melenchon concordou em que não existe mais o socialismo como projeto e defendeu uma intensificação dos movimentos sociais que ampliassem os direitos do trabalhador e promovessem a solidariedade, e também pediu uma ordem internacional "multipolar". "Não existe mais o determinismo histórico", disse Melenchon, referindo-se a um conceito essencial da teoria socialista. "A história não é linear. A própria natureza é incerta, casual." Mas os intelectuais brasileiros não pensam assim. Paul Singer disse que o capitalismo está produzindo "uma exclusão social catastrófica" e que apenas o socialismo pode ser sua "sombra crítica". Afirmou que conquistas como o sufrágio universal são "socialistas" e que a esquerda deve "ocupar os enormes interstícios do sistema capitalista". Defendeu um Estado de Bem-estar Social fundado em cooperativas produtivas, democracia participativa e solidariedade, como caminhos para o socialismo se manter vivo. Oliveira foi além. Parafraseou o verso de Paulinho da Viola dizendo que "a moçada está pedindo o socialismo de volta". Reconheceu que o atual momento histórico tem uma complexidade ainda não entendida, mas insistiu em que o socialismo tem o poder de "produzir um novo homem", porque o capitalismo seria "um produtor de lixo". Citou Lula, Tarso, o governador Olívio Dutra e o líder do MST João Stédile como "pastores da noite", sendo aplaudido pelas 450 pessoas presentes. "O Fórum Social Mundial se tornou o mapa das possibilidades socialistas." Coutinho foi ainda além. Chamou o conservador Edmund Burke de liberal e disse que "a burguesia sempre foi contra a democracia", afirmando ainda que os países socialistas da Rússia e do Leste Europeu - os quais sempre apoiou, como intelectual militante - eram "países despóticos, que se auto-intitulavam socialistas", mas lamentou a queda desse regime. "O colapso da União Soviética piorou o mundo. O mundo era bipolar; agora é monopolar." Rejeitou a social-democracia européia e, numa ginástica semântica, defendeu uma "gradual socialização dos meios de produção", por uma estratégia que chama de "reformismo revolucionário". Ao final, o escritor e editor Hamilton Pereira, seguindo idéia dada por Oliveira em sua palestra, cantou a Internacional Socialista.

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