Íntegra do discurso de Lula no Congresso da CUT

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Por Agencia Estado
Atualização:

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva participou, na manhã desta quarta-feira, do 8º Congresso Nacional da CUT, do qual edtão participando 2.735 delegados. A seguir, leia a íntegra do discurso do presidente: Meus queridos e queridas companheiras, Delegados e delegadas da Central Única dos Trabalhadores, Meus queridos companheiros e companheiras, convidados estrangeiros presentes neste Congresso, Meu querido companheiro João Felipe, Presidente da CUT, Meus companheiros da Direção da CUT, que estão na Mesa, Delegados e delegadas, Eu quero dizer para vocês que cada vez que eu participo de um Congresso da CUT é como se eu tivesse na minha casa conversando com minha mulher e com meus filhos porque eu me sinto como se estivesse em casa no meio de companheiros. E mesmo aqueles que possam divergir, nós temos que respeitá-los porque na casa da gente também muitas vezes a família pensa diferente (aplausos). Entretanto nós temos que ter em conta o que nós queremos. Precisamos ter em conta o que estamos fazendo para que a gente possa ter dimensão do passo que cada um de nós pode dar. Eu tenho, meu caro João Felício, a consciência de que muitas pessoas que morrem afogadas, não morrem porque não sabem nadar. Porque se as pessoas tivessem controle emocional e consciência que seu corpo é mais leve do que a água, essas pessoas, se mantivessem a tranqüilidade, certamente muitos não morreriam. Morrem porque ficam nervosas, batem demasiadamente as mãos e os pés, abrem a boca demais, bebem águas indevidas e morrem afogadas. (aplausos e vaias tímidas). Num governo, também é assim. Um País do tamanho do Brasil, com a quantidade de problemas que tem, o presidente da República precisa em nenhum momento perder o equilíbrio, em nenhum momento perder a noção daquilo que ele mesmo espera de si e daquilo que são os compromissos históricos que ninguém pediu para que eu assumisse com a classe trabalhadora e que eu assumi ao longo de mais de 30 anos desde que eu comecei a minha vida sindical. Eu tenho confiança, meu caro João Felício, de cada passo a ser dado. E tenho consciência das dificuldades, mas levanto todo santo dia, João Felício, com a certeza que vamos cumprir aquilo que sonhamos juntos. Não é apenas a música do Raul Seixas que disse que sonhar junto transforma o sonho em realidade. Nós vamos transformar esse País juntos, trabalhadores, governo, empresários, produtores rurais, sem-terra, mulheres, homens, negros e brancos. E vamos transformar porque temos consciência da importância do nosso País no cenário mundial e porque temos importância e clareza das coisas que vamos fazer. Acho importante e normal - e quero deixar claro aqui que ninguém virará meu amigo porque defende as reformas ou meu inimigo porque não defende as reformas, ninguém virará. Quem lida comigo há 30 anos sabe que se tem uma coisa que eu não perco, nos bons e nos maus momentos, é o bom senso de não confundir as divergências políticas e minhas relações de amizade pessoal. E vamos fazer as coisas numa mesa de negociação onde todos poderão dizer o que pensam, onde todos poderão brigar por aquilo que acreditam que seja verdadeiro até que uma determinada maioria possa construir aquilo que entendam que seja o melhor para esse País. Mas muitas vezes, João (Felício), acontece coisas que deixam a gente meio chateados. Aqui tem mulheres e homens casados, que saem de manhã para trabalhar e trabalham o dia inteiro, das sete da manhã às seis da tarde. Alguns pegam três ônibus para trabalhar e trabalham de segunda a sexta. Às vezes uma companheira mulher chega meia hora atrasada porque teve um problema qualquer, o marido está em casa e, ao invés que reconhecer as doze horas do trabalho dela prefere reconhecer apenas a meia hora que ela atrasou e por conta disso começa a brigar (aplausos). Com o homem acontece a mesma coisa. Muitas vezes o companheiro trabalha das sete às seis todo santo dia e às vezes pára para tomar uma cervejinha com um companheiro e quando chega em casa não tem nenhum elogio pelas doze horas que ele trabalhou, mas tem críticas pela meia hora que ele tomou cerveja. Eu faço essa comparação por algumas coisas que acontecem no governo que não são diferentes do que acontece na família. Na semana passada, João, quem está na área da Saúde se lembra, nós lançamos o mais importante projeto para cuidar dos doentes mentais nesse País, ou seja, ?A Volta para Casa?, que vai fazer com que a maioria dos doentes mentais possam voltar para casa e a família vai receber um salário para cuidar dessa pessoa em casa e o Estado vai dar assistência para essa pessoa em casa. Qual não foi minha surpresa que ao ver a televisão e ler os jornais, eles não falavam quase nada do projeto, falavam de uma mulher que veio dizer que o Fernandinho Beira-Mar se recuperou porque estava lendo a Bíblia. Nós lançamos o mais importante e o único projeto de turismo da história do Brasil, numa perspectiva de criarmos 1,2 milhão empregos. Nos dias seguintes eu leio os jornais e não tem uma matéria sobre o lançamento do projeto de turismo, tem uma declaração de uma reunião minha com a bancada do PT. Eu estou vendo a cara do companheiro (Antonio Carlos) Spis aqui e eu estou lembrando da luta que nós tivemos durante a campanha dizendo que a gente não iria permitir que as plataformas P-51 e P-52 fossem feitas na Noruega. Estamos com cinco meses de governo e as plataformas vão ser feitas no Brasil, gerando emprego na indústria naval (aplausos). Da mesma forma, João Felício, que pela primeira vez na história do Brasil a agricultura familiar, que no ano passado recebeu apenas R$ 4 bilhões de financiamento e só liberaram R$ 2 bilhões, neste ano nós vamos liberar R$ 5,4 bilhões para a agricultura familiar. E não vamos anunciar para não liberar. O Banco do Brasil sabe que neste ano todo o dinheiro anunciado vai ter que ser liberado para que a agricultura familiar possa sobreviver com dignidade. Todo mundo sabe que3 eu vou fazer a reforma agrária, não porque alguém quer ou porque é um compromisso histórico meu, é porque é uma necessidade de fazer justiça social nesse País. E fazer reforma agrária significa dar condições para que quem já está na terra possa produzir decentemente. Os companheiros sem-terra e da Contag têm quase 80% dos assentados vivendo em péssimas condições. Fazer reforma agrária não é apenas assentar, é assentar é dar assistência técnica, é dar crédito, é garantir preços é organizar em cooperativas, é organizar em agroindústria, é fazer as pessoas se tornarem produtivas nesse País. Isso nós vamos fazer da mesma forma como nós vamos fazer o mais importante plano de cargos e salários para o setor público já feito na história desse País (aplausos). O que não pode é alguém julgar uma criança quando ela ainda está no ventre da mãe, porque nós temos apenas cinco meses de governo, e se eu fosse uma criança gerada nos ventres da minha mãe ainda faltaria quatro meses para vocês dizerem se eu seria bonito ou feio. Portanto, não vamos bater os braços nem gritar desesperado porque pode se morrer afogado desnecessariamente (início de vaias superado por gritos de apoio ao presidente: "Olê, Olê, Olá, Lula, Lula!"). Companheiro João Felício (presidente faz uma pausa). Eu tive a felicidade de ir à cidade de Buíque em Pernambuco anunciar, meu companheiro João Felício, crédito para 500 mil famílias do semi-árido, um crédito chamado seguro-agrícola. Para quê? Para que trabalhadores que tiverem seca vão poder ter dinheiro na mão para sobreviver no ano da seca. E se ele plantar e não tiver preço para o produto dele, o Estado vai comprar a safra dele para o projeto Fome Zero e vamos levar comida aonde não tem comida nesse País. Da mesma forma, meus companheiros e companheiras, que vocês hão de convir que não foi pouco fazer o que nós já fizemos a nível de política externa. Os preconceituosos contra mim diziam assim: ?como é possível o Lula governar o País se ele não sabe nem falar inglês, como ele vai conseguir conversar com o Bush, conversar com o Tony Blair??. E eu estou provando que não preciso falar inglês para ser respeitado no mundo (aplausos). Eu tenho que falar português. Eu não preciso falar inglês para ser respeitado, eu tenho que falar pura e simplesmente a língua de 175 milhões de brasileiros para ser respeitado no mundo. E pela primeira vez estamos concretizando o desejo e o sonho da integração Latino-Americana, porque é um discurso fácil de fazer, mas não há integração política econômica e comercial se não tiver a integração física. E integração física pressupõe estrada, ponte, ferrovia, aeroportos e se nós não tivermos isso o discurso da integração é balela. E nós vamos fazer a integração porque acreditamos que a forma mais fácil de fazer os ricos atenderem parte das nossas reivindicações e pararem com os subsídios nos seus produtos não é ficar chorando e reclamando. E quem me conhece sabe que eu não sou de chorar em reunião. Eu sou de chorar de emoção no meio de vocês, mas não sou de chorar em mesa de negociação. E está lembrado, João Felício? Eu comecei a minha vida sindical - se tiver alguém aqui da década de 70 dos metalúrgicos: o primeiro boletim que eu fiz na vida era mostrando que o trabalhador sozinho era um graveto fácil de quebrar, mas um monte de gravetinho junto era um feixe de lenha tão forte que ninguém conseguia quebrar. Vocês, a América do Sul, a América Latina vão se unir para se tornar um feixe difícil de ser quebrado. Eu disse ao presidente da China, ao presidente da Rússia, ao presidente da Índia, ao presidente da África do Sul: ?nós não precisamos ser convocados pelo G-8 para falar de nossas reivindicações, nós sozinhos temos força suficiente para estabelecer uma política troca entre nós e quando a gente fizer isso o G-8 vai nos chamar e vai nos respeitar muito mais?. Pois bem, meus companheiros e companheiras. Eu quero dizer a vocês que olhem bem nos meus olhos e tenham certeza que esse companheiro, torneiro mecânico, nordestino de Pernambuco, que perdeu três eleições, que não desistiu em nenhum momento, e por conta e responsabilidade de vocês chegou à Presidência da República não esquece e não vou esquecer nenhuma das coisas que eu assumi de compromisso na minha história política. Se alguém em algum momento teve vergonha do que foi, eu não tenho vergonha do que fui, não tenho vergonha do que sou e não terei vergonha do que serei. E eu dizia e vou repetir para vocês. Nós vamos fazer a economia brasileira mudar. Nós vamos fazer a economia voltar a crescer, nós vamos gerar os empregos que nós precisamos, nós vamos fazer as reformas que precisam ser feitas nesse País e vamos fazê-las com a maior tranqüilidade, vamos fazer coma maior tranqüilidade... (vaias) Vocês sabem que eu não me preocupo com vaias, porque eu acho a vaia tão importante quanto o aplauso (aplausos). Tem gente que me vaiava porque eu queria criar o PT. Tem gente que me vaiou porque eu queria criar a CUT. E vocês sabem o tanto que eu fui vaiado para criar a CUT em 1983. Eu só quero dizer uma coisa para vocês. Podem ficar certos de uma coisa, meus companheiros. E eu queria pedir uma coisa para vocês. Ao invés de alguns companheiros tão preciosos fazerem faixas contra, seria melhor dizer o que querem para gente poder se entender... (aplausos).... que é muito melhor. Por isso meus companheiros e minhas companheiras, podem ficar certos que eu virei em todos os congressos da CUT até o final do meu mandato e virei depois que deixar a Presidência da República. Muito obrigado, boa sorte e bom congresso para vocês.

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