Indivíduos agem como porta-vozes de grupos e categorias

Vídeo de caminhoneiro do interior de Goiás com ofensas a ministros do STF foi visto por 2,4 milhões no Facebook

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Por Samuel Lima
2 min de leitura

Um dos vídeos mais compartilhados no Facebook sobre as manifestações de 7 de setembro é uma gravação do pastor Silas Malafaia e de outros líderes evangélicos convocando os fiéis para a Avenida Paulista. Os pastores se revezam falando sobre a defesa da liberdade, da democracia e do Brasil. “O povo cristão jamais se calará”, completa o empresário Tomé Abduch.

Em outra gravação com grande alcance na rede, um caminhoneiro fala da cidade de Porteirão, em Goiás, chamando a “categoria da rodagem” para dar uma resposta aos “urubus de toga” no ato de 7 de setembro. O vídeo acumulou mais de 2,4 milhões de visualizações na rede social. 

O pastor e porta-voz do bolsonarismo, Silas Malafaia, em vídeo para convocação de atos no 7 de Setembro. Foto: Reprodução/YouTube

Como mostrou uma série de reportagens do Estadão ao longo da semana, esses dois grupos — e também ruralistas e policiais — demonstraram uma participação mais ativa na convocação. Esse cenário também se reflete no ambiente virtual, conforme um levantamento da AP Exata divulgado no dia 1º de setembro. Evangélicos e caminhoneiros representaram 16,7% e 10,5% das menções relacionadas ao evento no Twitter, o maior patamar entre duas manifestações governistas recentes.

Nesse contexto, a apresentação de personagens como representantes de uma parcela majoritária de suas categorias — notadamente evangélicos, caminhoneiros, ruralistas, policiais e militares — foi outra estratégia explorada pela base aliada do presidente. O caminhoneiro “Zé Trovão” e o coronel da reserva da Polícia Militar de São Paulo e presidente da Ceagesp Ricardo Mello Araújo, por exemplo, foram festejados nas redes de Carla Zambelli (PSL-SP).

O pesquisador Fábio Malini, da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), que está monitorando 110 grupos bolsonaristas no Telegram, observa que a mobilização para o 7 de setembro parece estar mais “institucionalizada” do que em eventos anteriores. David Nemer, professor da Universidade de Virgínia que pesquisa as interações no WhatsApp, analisa o cenário de forma semelhante.

“Não dá para mensurar realmente se as ruas terão grande adesão ou não, mas estamos vendo um interesse de poucos para criar esse ambiente de que a massa está aderindo. Nos protestos anteriores, era mais orgânico, de baixo para cima”, relata Nemer, fazendo a ressalva de que a convocação também ocorre por outros meios além das redes sociais.  Caio Machado. pesquisador da Universidade de Oxford e diretor do Instituto Vero, lembra que uma parcela significativa dos conteúdos de teor político circulam de forma oculta, por meio de redes criptografadas, como aplicativos de mensagem. Ainda assim, existe direcionamento de conteúdo.

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“A mobilização a partir dos grupos se dá em um efeito cascata”, comenta Machado, citando um mapeamento de WhatsApp feito durante as eleições de 2018. Na época, essa pesquisa identificou que várias pessoas se repetiam entre os grupos, moderavam esses espaços e os alimentavam rotineiramente com a mesma produção pré-fabricada.

Desinformação. O Estadão Verifica publicou quatro checagens de conteúdos falsos que mencionavam diretamente o 7 de Setembro. Um deles era um vídeo de um acampamento indígena em Brasília, que circulava como uma preparação dos apoiadores de Jair Bolsonaro. Outro era um suposto áudio da ministra da Agricultura, Tereza Cristina, defendendo uma greve de caminhoneiros e uma intervenção militar, mas a autoria não é dela.

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