Índios prometem protesto em julgamento do STF

O objetivo é pressionar o tribunal a encerrar discussão sobre legalidade da demarcação

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Por Loide Gomes
Atualização:

Índios favoráveis à demarcação contínua da terra indígena Raposa Serra do Sol preparam para amanhã manifestações em Brasília, Boa Vista e Surumu, em Roraima. O objetivo é pressionar os ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) a encerrarem o julgamento sobre a legalidade da demarcação da reserva. O tribunal retomará a discussão amanhã, com o voto do ministro Marco Aurélio Mello, após ser interrompido duas vezes, em agosto e dezembro passado. O placar está 8 a 0 a favor da demarcação contínua. O índio macuxi Dionito José de Sousa, coordenador do Conselho Indígena de Roraima (CIR), pretende reunir perto de 3,5 mil pessoas nas manifestações da campanha Anna, Pata, Ana Yan (Nossa Terra, Nossa Mãe). O distrito de Surumu, palco dos mais recentes conflitos envolvendo índios e não-índios, deverá concentrar o maior número de manifestantes. São esperados cerca de 3 mil. O restante vai se reunir na Praça do Centro Cívico, em Boa Vista, onde ficam as sedes dos três poderes. No plenário do STF, haverá pelo menos 40 líderes indígenas - também conhecidos como tuxauas. Eles chegaram a Brasília no último sábado. "A mobilização é pacífica. Vamos fazer uma feira cultural dos povos indígenas, com cantos e danças tradicionais", explicou o coordenador. Dionito acredita no desfecho favorável aos quase 20 mil índios que ocupam cerca de 1,7 milhão de hectares na reserva. Ele exige a expulsão imediata dos arrozeiros. "Queremos ser respeitados e que as autoridades cumpram a lei", afirmou. O superintendente da Polícia Federal em Roraima, José Maria Fonseca, informou que a Operação Upatakon 3, para a retirada de fazendeiros, arrozeiros e habitantes não-índios, será executada imediatamente após a decisão do STF. Ponderou, entretanto, que será estabelecido prazo isso. Embora prefira não falar em datas, ele acredita que 30 dias seja razoável para concluir a operação. Ela será executada por agentes da Polícia Federal e da Força Nacional de Segurança. O número de homens é mantido em sigilo, mas se for preciso, o Exército poderá entrar em ação. "O Exército sinalizou apoiar a operação e não apenas na logística", garante Fonseca. Por questões de segurança nacional, até bem pouco tempo os militares eram radicalmente contra a demarcação e consequente desocupação da terra indígena, localizada na faixa de fronteira do Brasil com a Venezuela e a Guiana. O planejamento da ação está pronto desde o ano passado. A primeira fase, que consiste na mobilização do pessoal, termina amanhã, com a chegada a Roraima de todo o efetivo. Inicialmente, serão mantidas três bases - em Pacaraima, Surumu e Placas - para impedir confrontos na terra indígena. A previsão, segundo Fonseca, é que a operação continue até o segundo semestre. "Vamos ficar até que a paz seja totalmente restabelecida", garante.

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