Índios deixam sede da Funasa após determinação da Justiça

Grupo decide acampar em frente ao local; presidente de fundação se nega a demitir coordenador

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Por Roldão Arruda e Ligia Formenti
Atualização:

Os índios que invadiram na terça-feira a sede da coordenadoria regional da Fundação Nacional de Saúde (Funasa) em São Paulo abandonaram o prédio ontem à noite e montaram um acampamento improvisado em frente ao local, na região central da capital paulista. Veja galeria de fotos do segundo dia da invasão no prédio da Funasa em SP A decisão de desocupar o edifício foi tomada quando os índios souberam, por telefone, que a Justiça Federal em São Paulo havia deferido um pedido de reintegração de posse feito pela Funasa. Os líderes do movimento afirmaram então que não queriam confronto e saíram antes mesmo da chegada do oficial de Justiça que trouxe a ordem de desocupação. Os indígenas decidiram, porém, continuar mobilizados pela demissão do coordenador regional da Funasa, Raze Rezek. Eles afirmam que, desde a posse de Rezek, em agosto de 2007, o atendimento às populações indígenas só piorou. "Não há ambulâncias para transportar os doentes. Em muitos lugares o esgoto corre a céu aberto e não há fornecimento de água tratada. As crianças estão ficando doentes", assegurou o cacique Guaraci Uwewidjú, um dos porta-vozes do grupo. O presidente da Funasa, Danilo Forte, disse ontem, em Brasília, que não discutiria a saída do coordenador regional enquanto os manifestantes continuassem ocupando o prédio da fundação. DIÁLOGO Os índios que ocuparam a Funasa representam 37 aldeias indígenas espalhadas por São Paulo, a maior parte delas na área do litoral. Eles chegaram ao edifício por volta do meio-dia de terça-feira, determinaram o encerramento do expediente e mantiveram um grupo de funcionários como reféns. À noite, após um encontro com o coordenador regional, que não estava na sede no momento da ocupação, eles libertaram os funcionários. Ontem pela manhã, os índios voltaram a se reunir com o coordenador e conversaram, por telefone, com o presidente da Funasa. Segundo relato do cacique Darã Awá, foi um diálogo tenso e que não teve fim: "Ele desligou o telefone no meio da conversa." Ontem, nenhum funcionário foi detido pelos índios. O coordenador ficou no edifício até por volta das 14 horas, quando saiu, dizendo que iria almoçar, e não retornou. EXONERAÇÃO Em novembro do ano passado, diante das pressões indígenas para que solucionasse os problemas nas aldeias, Rezek já havia encaminhado um pedido de exoneração à presidência da Funasa. Mas Danilo Forte não aceitou a demissão. Agora, mais uma vez sob pressão indígena, Rezek voltou a encaminhar o pedido e de novo foi mantido no cargo. Ao justificar sua decisão, o presidente da Funasa disse que Rezek estava "chocado". "Ele está transtornado, não tem experiência de conviver com movimentos sociais, sobretudo o indígena, que é bastante politizado", completou Forte. Rezek disse ontem que a Funasa está acelerando os processos de licitações para a compra de materiais e contratação de serviços, com o objetivo de atender às reivindicações dos índios. "De 80% a 90% das solicitações estão sendo atendidas", afirmou. Mas os índios o contestaram abertamente e convidaram os jornalistas a visitar as aldeias para conhecer melhor a realidade que enfrentam. "Ele nem sequer visita as aldeias. Não sabe o que acontece lá", disse Darã Awá. No fim da tarde, os índios se reuniram com Moisés Sousa Alves, chefe de gabinete do presidente da Funasa, que veio a São Paulo para negociar.

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