Índios ameaçam interditar divisa de Alagoas com Sergipe

Eles ocupam a sede da Funai desde domingo e exigem a liberação de cestas básicas, assistência à saúde, educação e a regularização das terras ocupadas por eles

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Por Agencia Estado
Atualização:

Os índios de quatro etnias de Alagoas e Sergipe, que ocupam desde domingo a sede da Fundação Nacional do Índio (Funai) em Maceió, ameaçam interditar a qualquer momento a BR-301, entre os municípios de Porto Real de Colégio, em Alagoas, e Propriá, em Sergipe, na divisa dos dois Estados, caso não sejam atendidos nas suas reivindicações. Eles exigem a liberação de cestas básicas, assistência à saúde, educação e a regularização das terras ocupadas pelas tribos Kariri-Xocó e Xuxurus-Kariri, de Alagoas, e Xocó-Kuará e Kaxangós, de Sergipe. Os índios reivindicam ainda a saída do administrador da Funai em Alagoas, José Heleno, que teria entregue o cargo à presidência nacional da Funai. Segundo o pajé Júlio Queiroz Suíra, da tribo Kariri-Xocó, a ocupação é pacífica, mas por tempo indeterminado. "Não aceitamos negociar com a gerência da Funai em Alagoas porque o gerente vem nos enrolando há muito tempo. Queremos a presença do presidente nacional da Funai. Só negociaremos com ele", afirmou o pajé. Ao todo, cerca de 120 índios ocupam as dependência da Funai, no Centro de Maceió. O pajé Suira disse que na aldeia, os demais integrantes da tribo Kariri-Xocó e de outras etnias aguardam apenas uma ordem para interditar a BR, próximo a ponte sobre o Rio São Francisco, em Porto Real de Colégio, na divisa de Alagoas com Sergipe. "Estamos aguardando uma definição da presidência da Funai em Brasília. Se não atenderem as nossas reivindicações, vamos bloquear a BR e impedir a passagem de carros, por nossas terras. Só assim o presidente Lula toma conhecimento da nossa luta, já que os empregados dele não resolvem a questão", afirmou o pajé Suíra. Ele confirmou que na quarta-feira cerca de 40 índios que participam da ocupação da Funai em Maceió invadiram a sede da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) para exigir a liberação de 300 cestas básicas. "Pulamos o muro porque o portão estava fechado, mas não houve saque. A Polícia Militar chegou e conseguimos resolver a questão de forma civilizada. Recebemos 100 cestas básicas", relatou. O pajé da tribo Kaxangás, Cícero Correia, disse que enquanto tiver comida os índios aguardam a liberação das outras cestas básicas. "Quando faltar, vamos lá buscar mais", afirmou. Segundo ele, enquanto durar a ocupação, nenhum funcionário entra na sede da Funai, mas garantiu que não haverá depredação. "As salas estão fechadas, para ninguém bulir em nada", garantiu. O major PM Neivaldo Amorim, do Centro de Gerenciamento de Crises da Polícia Militar de Alagoas, que negociou com os índios a desocupação da Conab em troca das 100 cestas básicas, disse que entrou em contato com representantes da Funai em Brasília e deixou o número de telefone para um possível contato, mas não houve retorno. Cada cesta básica possui feijão, arroz, flocos de milho, farinha de mandioca, arroz, leito em pó, macarrão e óleo. Documento Segundo a cacique Maria Sá, em documento encaminhado ao presidente do Senado, senador Renan Calheiros (PMDB-AL), lideranças indígenas de todo o país informaram que existem 215 etnias no Brasil, falando 180 línguas, com uma população superior a 734 mil índios. "Eles também pedem que o presidente nacional da Funai, Mércio Pereira, deixe o cargo", acrescentou a cacique alagoana.

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