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Indecisos e eleitores de Russomanno e Chalita ficam com Haddad

Dos 52 eleitores de 7 bairros entrevistados pelo ‘Estado’ em agosto, 14 tiveram de refazer a opção no 2º turno e apenas 1 votou em Serra

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Por Redação
Atualização:

No 1.º turno, os eleitores que não se identificavam nem como petistas nem como tucanos saíram em busca de um candidato cujo passado fosse conhecido, mas que ao mesmo tempo não estivesse associado a promessas não cumpridas e a frustrações com o que já foi tentado e não deu certo. Essa fórmula os levou a Celso Russomanno e a Gabriel Chalita. No domingo, 28, tiveram de escolher entre o novo Fernando Haddad e o experimentado José Serra.

 

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O novo revelou-se mais atraente. Até porque Haddad já não é mais desconhecido; só não é experimentado.

 

Semanas antes do início do horário eleitoral, em agosto, o Estado entrevistou 52 eleitores de 7 bairros da cidade. Agora, voltou a ouvir os eleitores indecisos e os que já haviam escolhido candidatos que não fossem Haddad nem Serra. Dos 14 entrevistados, 2 indecisos acabaram definindo-se por Haddad já no 1.º turno; 1 que havia votado em branco agora escolheu o petista; 4 votaram em Russomanno, dos quais 3 agora migraram para Haddad e 1 anulou; 2 votaram em Chalita e agora, em Haddad; 1 eleitor de Soninha votou nulo; 3 que estavam indecisos na época da entrevista acabaram se definindo por Serra, em geral por não gostarem do PT; e 1 que votou em branco no 1.º turno agora escolheu o tucano. Ou seja, dos 14, apenas uma conversão para Serra no 2.º turno.

 

Marreteiros. O técnico em TV Ismael Lopes, de 65 anos, que mora na Capela do Socorro, votou em Russomanno e diz que "agora só sobrou Haddad". O primeiro motivo que Lopes aponta é a promessa de eliminar a cobrança pela vistoria ambiental de automóveis. Dono de uma oficina de reparos de televisores, Lopes também se queixa das restrições nas fachadas comerciais e da retirada dos "marreteiros", como ele chama os vendedores das calçadas. "A propaganda é a alma do negócio", argumenta Lopes, que diz que no ano que vem vai fechar a oficina que tem há 30 anos no bairro de Santo Amaro. "Na época dos marreteiros tinha mais gente e dinheiro circulando", compara ele. "Gosto de Serra para governador, presidente, desde que não deixe uma tranqueira como Kassab."

 

Vitório Gonçalves, dono de uma oficina de usinagem de ferramentas no Itaim Paulista, que também votou em Russomanno, usa as mesmas palavras: "Agora só sobrou Haddad. Do jeito que está não pode ficar". Gonçalves reconhece que votou no PT "com medo", por causa das gestões anteriores do partido, que segundo ele "acabaram com São Paulo".

 

"Não tem o que pensar, é Haddad", diz José Vieira, de 60 anos, mecânico de máquinas desempregado no Itaim Paulista, que votou em Russomanno. "Quem anda por São Paulo não pode votar em Serra. Kassab só sabe multar. Olhe para as calçadas."

 

Em sua primeira eleição, Felipe Ferreira da Silva, de 17 anos, estudante e ajudante de cabeleireiro de Ermelino Matarazzo, considerava os políticos corruptos e iguais, quando conversou com o Estado. Mas, com a propaganda, definiu-se por Haddad, "pelas coisas que ele fez pelo pobre, que Serra não fazia". Ele cita o plano de tornar o bilhete único mensal.

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O descumprimento da promessa e a rejeição a Kassab potencializaram-se mutuamente. "Serra mudou e deixou uma pessoa que não conhecíamos", lembrou o cabeleireiro Fábio Santana, 30 anos, do Itaim Paulista. Ele votou em Chalita no dia 7, e em Haddad domingo. Seu primo Adevaldo Santana, de 38 anos, que fabrica manequins para lojas, não conhecia Haddad quando falou com o Estado em agosto. Mas depois votou nele, por ser do PT, "o partido mais dedicado à zona leste".

 

Lucilei Martowski, de 48 anos, que trabalha com bordados e mora em Pirituba, também estava indignada pelo fato de Serra ter desistido da prefeitura e pensava em votar em branco quando conversou com o Estado. Mas seu antipetismo falou mais alto. "Nenhum presta, mas não queria que Haddad chegasse lá porque não gosto do PT e acabei votando no Serra." Na semana passada ela cogitava de novo votar em branco, mas ontem (domingo) votou em Serra porque sua irmã, que é professora numa creche, contou-lhe que o vice dele, Alexandre Schneider, ex-secretário municipal da Educação, "fez uma lei dando 15 dias de férias no meio do ano" para os professores.

 

"Serrei", brinca o advogado Jair Tait, 66 anos, de Pirituba, que antes da propaganda eleitoral estava indeciso. "Sou contra o PT, e no Russomanno não acredito nem beijando a mãe."

 

Antes do horário eleitoral do 1.º turno, a dona de casa Rosa Maria Maciel, 61 anos, do Jardim São Luís, havia dito que costumava votar no PMDB, mas não estava a par de quem seriam os candidatos. Votou em Serra. "Detesto o PT", disse ela. "Olhe o que está aparecendo", continuou, referindo-se ao julgamento do mensalão. "Serra não é grande coisa, mas é melhor que o PT."

 

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Quando encontrou com o Estado, o representante comercial Bernardo Azinheira, de 76 anos, também do Jardim São Luís, estava indeciso entre Chalita e Serra, embora tivesse votado em Russomanno quatro anos atrás. "Entre o certo e o duvidoso", optou pelo tucano. "Serra tem muito mais experiência e competência", disse ele. "Tenho dúvidas sobre Haddad."

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O estudante Leopoldo Soares, de 18 anos, que mora em Ermelino Matarazzo, votou em Soninha Francine, por ser mais "liberal". Pensou em votar em Haddad, mas acabou anulando ontem. O PSDB é muito "conservador" para ele, e Soares se sente mais próximo do PT, "apesar de que já foi melhor de ideologia e hoje se afastou do que era antes". Mas foi decisivo um percalço de Haddad quando ministro da Educação: "Passei por aquela palhaçada do Enem", diz ele, referindo-se às fraudes que levaram à anulação da prova, em 2009. "Perdi quase um ano de estudo, porque a prova não valeu e não posso entrar nas universidades federais."

 

‘Palhaçada’. Phillip de Souza da Silva, de 25 anos, usa a mesma palavra: "Teve a palhaçada do Enem, e vou fazer a prova daqui a duas semanas." Ele votou em Russomanno dia 7 e domingo anulou. "Não dá para colocar mais um petista no cargo, porque já tem a presidente Dilma Rousseff", disse ele. "O governador Geraldo Alckmin é aliado de José Serra. Vai entrar Haddad e virar bagunça." Por outro lado, diz ele, "Serra e Kassab dão na mesma. Serra larga de mão, não está nem aí." Agente de zoonoses da prefeitura, ele diz que "Serra nunca fez nada pelos funcionários públicos".

 

Policial aposentado, Milton Bittencourt, 58 anos, de Pirituba, votou em branco no 1.º turno e pensava fazer o mesmo, mas no domingo mudou de ideia: "Lá na hora votei no 13. Conversando com colegas, vi que é melhor não ter continuidade, não ficar tudo tucano, porque vão nos bicar."

 

O dilema de Jackson Silva, um operador de máquina de 19 anos e eleitor de primeira viagem, também de Ermelino, sintetiza a extraordinária carga de desgaste que estigmatiza esta eleição. Embora sua família sempre votasse no PT, ele decidiu tentar Chalita. "Pesquisando bem, vi que Serra abandonou a prefeitura", constatou o jovem. "Será que vai cumprir o mandato?" Haddad, por sua vez, diz ele, "é do PT, que ficou anos na prefeitura e no governo federal". Além disso, pessoalmente "não tem experiência".

 

"Fica a dúvida", confessou Silva, na quarta-feira. Mas domingo votou em Haddad: "Meu pai disse que se Serra fosse eleito seria perigoso porque ele ia eliminar programas criados pelo Haddad, como o Cereja (Centro de Referência em Educação de Jovens e Adultos)."

 

É quase como uma lei da física: quanto menos contato, menos atrito.

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