Impeachment é agenda do passado, afirma Rossetto

Para ministro, não há base legal para afastar Dilma e temas’ em torno do presidente da Câmara são ‘graves’

Por Rafael Moraes Moura
Atualização:
Miguel Rossetto deve ser candidato a governador do RS em 2018 Foto: Dida Sampaio/Estadão

BRASÍLIA - Depois de o Palácio do Planalto ver o seu principal algoz, o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), ser denunciado por corrupção passiva e lavagem de dinheiro, o ministro-chefe da Secretaria-Geral da Presidência, Miguel Rossetto, disse ao Estado que os “temas” em torno do peemedebista são “graves”, mas ressaltou que caberá aos deputados se manifestarem sobre eventual afastamento de Cunha do cargo. Responsável pela articulação do governo com movimentos sociais, Rossetto afirmou que o impeachment é “uma agenda rejeitada, enfraquecida, do passado”. Abaixo, os principais trechos da entrevista.

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A acusação apresentada pelo procurador-geral da República, Rodrigo Janot, contra Cunha enfraquece as movimentações pelo impeachment de Dilma?

O impeachment é uma agenda rejeitada, enfraquecida, do passado. Não há base jurídica e legal para movimento dessa natureza. Outro tema são as iniciativas do Ministério Público Federal que envolvem o deputado Eduardo Cunha, que são temas graves, importantes, e serão tratados com toda a responsabilidade pela Câmara Federal.

Cunha deveria se afastar da presidência da Câmara?

Esse é um tema sobre o qual a Câmara deverá se manifestar.

Não há risco de ele aumentar as retaliações contra o Planalto?

Esse é um cenário cada vez mais recusado pela sociedade brasileira, o que se impõe é um outro padrão de comportamento. Essas agendas que estimulam o ódio e a intolerância são rejeitadas crescentemente. Não vou prejulgar iniciativas ou condutas do atual presidente.

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Os futuros desdobramentos das investigações não podem agravar o “caos político”?

A agenda da corrupção está sendo tratada com rigor no Judiciário, no Ministério Público Federal, nas polícias. Há uma outra agenda, de governo e do Parlamento, que é de desenvolvimento, orientada pelas exigências da sociedade brasileira. Minha expectativa é de que haja separação disso.

Como o senhor viu as mobilizações pró-governo da quinta-feira reunirem contingente menor que aquele que saiu às ruas no dia 16 contra a presidente? São poucos os dispostos a defender Dilma?

Não. As manifestações foram importantes, não só as de quinta-feira, mas o conjunto das manifestações de várias entidades da sociedade civil brasileira, como a OAB (Ordem dos Advogados do Brasil), as entidades empresariais, todas covergentes para um ponto: a afirmação da democracia brasileira e construção de uma agenda nacional de desenvolvimento. Vivemos um período de transição. Essa agenda da instabilidade política e institucional do impeachment, liderada pelos setores derrotados na disputa de 2014, se enfraqueceu enormemente.

Mesmo nos atos pró-Dilma, houve gritos de “Fora Levy”. Exigir a saída de um ministro é um posicionamento crítico forte, não?

É forte. Vejo isso com naturalidade, são críticas naturais.

O presidente da CUT, Vagner Freitas, falou em ir “para as ruas entrincheirados com arma na mão se tentarem derrubar a presidente”. Uma declaração dessas não piora as coisas?

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A fala e a repercussão fizeram com que o presidente esclarecesse a sua opinião, reconhecendo que aquela figura de linguagem não foi adequada. Ele rapidamente fez isso, se distanciando de qualquer ambiente de violência e recuperando uma ideia de força na defesa da democracia.

O senador Aécio Neves (PSDB-MG) acusou o Palácio do Planalto de se transformar em “um comitê de apoio à presidente”...

É a fala de um candidato derrotado e uma visão elitista. Se para ele é estranho o povo entrar no Planalto, para nós não é, não. O governo tem base parlamentar e social e é natural receber apoios.

O que achou do posicionamento do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, que disse que uma renúncia de Dilma seria um “gesto de grandeza”?

Fiquei surpreso com o ato de pequenez do ex-presidente, que associa à sua biografia política as piores práticas golpistas e antidemocráticas.

O governo não deveria vir a público pedir desculpas pelos erros cometidos no primeiro mandato?

Não há nenhum sentido político nisso. Os governos acertam, erram, mas as avaliações dos governos são dadas nos processos eleitorais. Isso não significa posição de arrogância ou soberba. A presidente tem humildade pra avaliar os erros do governo, corrigir rotas, escutar o povo e trabalhar.

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Ao anunciar a Agenda Brasil, o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), virou o grande fiador da governabilidade?

Renan recupera o papel institucional do Senado como espaço legislativo importante, que pensa o futuro do País, o que deverá iluminar uma agenda também para a Câmara. O movimento dele e do Senado traz uma estabilidade positiva ao País.

O que o senhor achou do boneco inflável do ex-presidente Lula, com roupa de preso, exibido nas manifestações de 16 de agosto?

Minha expectativa é de que essas manifestações desrespeitosas cessem. É uma infâmia, uma tentativa de degradação inaceitável e um desrespeito à liderança do presidente Lula.

Dilma vai cumprir o mandato até o final?

Cumpre o mandato e entregará um País melhor para o povo brasileiro.

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