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Impeachment antecipou plano

O MDB se preparava para disputar a eleição de 2018, mas chegou ao poder dois anos antes após o afastamento da presidente Dilma Rousseff

Por João Domingos
Atualização:
O presidente Michel Temer Foto: Felipe Rau/Estadão

Quando Michel Temer e o MDB decidiram encomendar os estudos que deram origem ao projeto “Uma ponte para o futuro”, eles imaginavam duas coisas: a primeira, uma política antagônica ao PT na economia; a segunda, a reabilitação dos peemedebistas diante do eleitor, pois o plano do partido seria apresentado como fórmula mágica para salvar o País.

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Acontece que o impeachment levou o MDB ao poder antes da hora e o fez antecipar seu plano econômico. Por isso, teve de abandonar a ideia de esperar o PT chegar à eleição de 2018 às portas da catástrofe, senão no meio dela, sangrando em meio a uma gestão fracassada, inflação nas alturas, desemprego em alta e escândalos de corrupção sem fim.

Se na parte econômica Temer montou uma equipe invejável no campo liberal, na política não há como negar que ele cometeu muitos erros. Cercou-se de amigos que foram envolvidos em denúncias de irregularidades, como os ministros Eliseu Padilha (Casa Civil), Moreira Franco (Secretaria de Governo, primeiro, e Minas e Energia, depois), Romero Jucá (Planejamento), Henrique Eduardo Alves (Turismo), para citar alguns.

Sem falar em Eduardo Cunha, responsável por acatar o pedido de impeachment, logo afastado do mandato e da presidência da Câmara por decisão do Supremo Tribunal Federal (STF), processado pelo Conselho de Ética, cassado e preso pela Operação Lava Jato. Em outras palavras, o MDB que assumia o poder não era nada diferente do PT que saía. O resultado é que o cidadão avaliou o governo muito negativamente e Temer passará para a História como o mais rejeitado de todos os presidentes desde que esse tipo de sondagem é feito.

Mesmo com esses problemas no partido, com a rejeição batendo recorde em cima de recorde, Temer conseguiu num primeiro momento tocar o governo num ritmo de reformas alucinante. Até que no dia 17 de maio de 2017, quando Temer mal completara um ano de governo, veio a público o teor de uma conversa dele com o empresário Joesley Batista, conversa que teria ocorrido em março.

Essa conversa, pra lá de esquisita, seria responsável pelo fim do governo de Temer, por seu impeachment, por sua prisão, disseram tantos analistas políticos. Duas denúncias contra Temer, por corrupção passiva, lavagem de dinheiro e obstrução de Justiça foram apresentadas pelo então procurador-geral Rodrigo Janot. Temer recorreu a toda a experiência de Congresso que tinha e conseguiu fazer com que a Câmara arquivasse as denúncias. Mas a reforma da Previdência morreu ali.

Já no final do mandato, Temer viu a procuradora-geral da República, Raquel Dodge, apresentar uma terceira denúncia contra ele, desta vez por corrupção e lavagem de dinheiro. A denúncia é resultado de um inquérito que apurou as circunstâncias em que foi assinado um decreto que prorrogou contratos no Porto de Santos.

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Se na economia Temer conseguiu, num espaço pequeno, mudar tudo o que havia sido implantado pelo PT e que não dera certo, na política ele fracassou na tentativa de fazer de seu “PMDB”, hoje MDB, um partido com perspectiva de poder.

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