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Igrejas cristãs fazem campanha contra violência

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Por Agencia Estado
Atualização:

Dez anos é um prazo otimista para se acabar com a violência no Brasil. Mesmo assim, as igrejas cristãs lançaram hoje a campanha "Década para superar a violência", um esforço para que todas as religiões ditas cristãs se unam para promover a paz, a dignidade e o respeito ao ser humano, fatores que, na própria opinião dos religiosos, estão bem distantes da realidade brasileira atual. Nada de orações ou penitências para se extirpar o mal da face da terra. Todos os representantes defenderam políticas sociais mais justas, revisões nas políticas de globalização e ações efetivas das instituições religiosas para diminuir a distância entre ricos e pobres. Só assim, os homens vão se desprender dos valores materiais e aproximar-se novamente de Deus. A campanha foi idealizada em fevereiro deste ano, durante culto realizado em Berlim, na Alemanha. O presidente do Conselho Nacional de Igrejas Cristãs do Brasil, pastor Joaquim Beato, afirma que a espiritualidade tem um papel fundamental no combate à violência. "Devemos nos convencer sobre a importância do ajuste pessoal de cada um, de nossa forma de pensar e agir". Ele define a violência como uma realidade multiforme. "Nós não podemos acreditar que ela se acabará quando temos dois bilhões de pessoas no mundo situadas abaixo da linha da pobreza". Beato conclamou as igrejas a rever as suas posições ao longo da História e pedir perdão por terem sido coniventes com a violência mundial. "Durante a 1ª Guerra, enquanto os jovens da Europa matavam e morriam, as igrejas dos países abençoavam as armas". O presidente da Confederação Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), dom Jayme Chemello, defendeu que a violência é um traço que atravessa a História e a religião católica não poderia ficar de fora dessa nova cruzada. Chemello destacou a realidade brasileira, exposta à violência das armas, do trânsito, das injustiças sociais. "Pela Constituição Federal, o salário mínimo existe para dar condições de vida digna ao trabalhador. O valor atual não dá para pagar um médico", ressaltou o presidente da CNBB. Para ele, outro elemento de violência que precisa ser combatido é a corrupção. "Quando você desvia verbas, retira dinheiro de algum lugar e coloca em outro, isso pode gerar graves crises sociais". Dom Jayme define essa forma de violência como uma das mais perigosas, por ser invisível. "A corrupção estraga muito mais o país do que qualquer Comissão Parlamentar de Inquérito", alegou. Apesar da campanha original ser conduzida pelas igrejas cristãs, o presidente da CNBB defende que essa luta envolva todas as religiões, inclusive as que não seguem o cristianismo. "Mas é bom frisar que, se não somos capazes de estabelecer a fraternidade entre nós próprios, não poderemos cobrar fraternidade dos outros credos". O presidente do Colégio Episcopal da Igreja Metodista, Paulo Tarso Lockmann, declarou que as pessoas não podem apenas se sensibilizar com a violência exposta nos meios de comunicação. "A população tende a ignorar o debate depois que assunto deixa de aparecer na televisão ou nos jornais, e se esquecem que aquelas cenas fazem parte do seu cotidiano".

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