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Hospitais de guerra aliviam agonia causada pela dengue no Rio

Por PEDRO FONSECA
Atualização:

O primeiro dia de operação dos hospitais de campanha das Forças Armadas nesta segunda-feira representou um alívio para a população do Rio de Janeiro, vítima de uma epidemia de dengue, que já matou mais de 50 pessoas desde o início do ano, e das longas filas para receber atendimento na rede pública de saúde. Sem conseguir que a filha de 6 anos seja atendida desde o dia 18 de março, o comerciante Jorge Luiz Carvalho Alves precisou pegar um empréstimo para levar a criança a uma clínica particular no fim de semana. Com o diagnóstico de dengue confirmado, mas sem condições financeiras de manter o tratamento particular, ele foi um dos primeiros a procurar o hospital de campanha da Aeronáutica, montado na Barra da Tijuca (zona Oeste), atrás de socorro. "Aparentemente ela esta mal, e vai ser internada", disse o comerciante, de 51 anos, com os olhos marejados, após ver a filha ser levada para a UTI do hospital de campanha com diagnóstico de dengue hemorrágica. "Vai morrer muita gente se for depender dos hospitais públicos, muita criança", acrescentou Alves, que contou ter passado por quatro hospitais públicos sem conseguir atendimento para a filha, até pegar o dinheiro emprestado. Um hospital de campanha do Exército e outro da Marinha também começaram a operar nesta segunda-feira para dar suporte à rede pública de saúde, que tem sido insuficiente para atender o grande número de casos neste início de ano. Até agora, 43.523 casos de dengue foram notificados oficialmente no Rio de Janeiro em 2008. Das 54 mortes já confirmadas como sendo em decorrência da dengue, metade delas é de crianças de 2 a 13 anos. Pelo menos outros 60 casos de pessoas que morreram com suspeita de dengue ainda estão sendo investigados. A capital responde pela maioria dos óbitos estaduais, com 31 mortos. Em todo o ano passado, houve 31 mortes por dengue no Estado. O caso da filha do comerciante, que aguardava vaga na rede pública para ser transferida a um hospital, foi um dos mais graves entre os 100 primeiros atendimentos realizados pelos oficiais da Aeronáutica nas quatro horas iniciais de funcionamento do hospital de campanha. Um homem de 38 anos, também com diagnóstico de dengue hemorrágica, já tinha um leito reservado no Hospital de Ipanema (zona sul) e seria transferido nesta tarde. "Temos capacidade para atender até 400 pessoas por dia, mas podemos aumentar em 100, 200 pessoas se os atendimentos continuarem rápidos. Em média, estamos levando 5 minutos para ter o resultado do exame de sangue", afirmou o major Roberto Thurry, comandante do hospital de campanha da Aeronáutica. De acordo o major, o atual hospital tem configuração mais simples do que em 2005, quando uma crise na saúde pública do Rio também gerou a participação das Forças Armadas com hospitais de campanha. "Agora você combate única e exclusivamente a dengue", disse ele. LONGA VIAGEM A diarista Ana da Silva Henrique, de 29 anos, preferiu viajar uma hora e meia de ônibus até o local de triagem do hospital de campanha da Barra da Tijuca em vez de ir até o Hospital Cardoso Fontes, em Jacarepaguá, a 30 minutos de sua casa. Ela contou ter ficado 4 horas à espera de atendimento em outro hospital público, o Rocha Faria, no domingo, e voltou para casa após uma rápida consulta. Como os sintomas continuaram, ela foi nesta manhã atrás do atendimento militar. "Nos militares você vê que pode confiar. Só no tratamento que você recebe das pessoas, já tem diferença. No hospital você fica esperando e as pessoas não têm respeito nenhum por você. Isso aqui é uma maravilha", disse ela, enquanto recebia hidratação venosa, em uma tenda climatizada. Segundo Ana, ela chegou às 9h para a triagem e às 10h já estava recebendo a hidratação. O hospital da Aeronáutica é o único dos militares onde há atendimento direto aos pacientes. Os outros dois são destinados ao tratamento de pessoas encaminhadas pelos hospitais de suas regiões --Marinha em Nova Iguaçu e Exército em Deodoro. Nos três hospitais de campanha, que funcionarão 24 horas, 1.200 militares estarão em ação, entre oficiais de saúde e homens de logística. Ao todo, são 140 leitos sob responsabilidade das Forças Armadas. Outros 500 militares atuarão ao lado de 1.200 homens do Corpo de Bombeiros em ações de combate ao mosquito Aedes aegypti, transmissor da doença.

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