HIV desenvolve resistência a coquetel, diz pesquisa

Por Agencia Estado
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O vírus da aids desenvolve resistência ao coquetel anti-HIV mesmo nos casos em que o tratamento dos doentes funciona perfeitamente, revela estudo da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). Dos 22 pacientes acompanhados por até dois anos que conseguiram manter a carga viral indetectável na corrente sangüínea, 13 apresentaram vírus mutantes, que conseguem resistir a pelo menos uma das três drogas do coquetel que receberam. A pesquisa ainda está em andamento, mas os resultados finais foram divulgados ontem, durante o XIII Congresso Brasileiro de Infectologia - que acontece até hoje no Rio - e estão sendo enviados a jornais científicos para publicação. Apesar de confirmar algo que já tinha sido mostrado em várias pesquisas, que é a surpreendente capacidade do vírus de resistir aos remédios, o estudo é considerado inédito, porque demonstra que essa capacidade de mutação do HIV é grande mesmo quando as drogas têm êxito no combate ao vírus. Os 22 pacientes foram escolhidos porque conseguiram manter, durante o tratamento (que variou entre 48 e 104 semanas), carga viral indetectável no sangue. A cada quatro semanas, exames realizados pela Unifesp analisaram o HIV que restou nos núcleos de células contaminadas - áreas chamadas de "reservatórios" do HIV, porque são regiões onde, mesmo sob ação dos remédios, o vírus não consegue ser combatido e continua existindo. Em apenas 9 dos 22 doentes o HIV não ficou resistente a nenhuma das três drogas. Dos 13 restantes, 7 apresentaram cepas com mutações para escapar do AZT, 4 tinham resistência ao 3TC e outros 3 tiveram mutações no HIV contra o Indinavir. As três drogas compõem o coquetel usado nesses pacientes. Surpresa A pesquisa revelou também um fato considerado preocupante. Apesar de os 22 doentes só terem sido expostos às três drogas do coquetel, a análise do vírus mostrou que, em 5 pacientes, ele também ficou resistente a uma classe de drogas que eles nunca tomaram. "Essa é uma surpresa ruim, que indica a capacidade de o HIV reagir a drogas diferentes das que conhece", afirma Ricardo Diaz, chefe do laboratório de retrovirologia da Unifesp. O acompanhamento desses 22 doentes confirmou que, mesmo quando as drogas conseguem acabar com o vírus na corrente sangüínea e na maior parte do corpo, o vírus que se esconde nos "reservatórios" continua sofrendo mutações para escapar da ação dos remédios. O que significa que, apesar de o teste indicar carga viral indetectável, isso não quer dizer que o HIV desapareceu do corpo (o que seria a cura da doença), mas que ele está em regiões que não podem ser atingidas pelos exames. E a pesquisa mostra que também não significa que esse vírus escondido está inativo, como já se pensou. "Mesmo sendo atacado e destruído pelas drogas, ele mantém sua atividade e consegue driblar os remédios. E essa é, sem dúvida, uma má notícia para os pacientes", conclui Diaz.

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