O governador do Espírito Santo, Paulo Hartung (PMDB), criticou nesta sexta-feira a insistência de seu colega de Santa Catarina, Luiz Henrique da Silveira, em manter a reunião de governadores peemedebistas, mesmo diante da ausência anunciada de quatro dos sete recém eleitos pelo partido. "O presidente Lula deu um passo importante, com o convite ao presidente do PMDB (deputado Michel Temer) e à executiva para uma conversa na quarta-feira", lembrou Hartung, para quem é hora de ter cautela e esperar para ver que propostas sairão deste diálogo institucional com o partido. "Reunir segmentos do PMDB nesta hora, sejam governadores, prefeitos ou bancadas, não ajuda", avaliou o governador. Assim que foi informado do convite a Temer na quinta à tarde, Hartung ainda tentou, mais uma vez, convencer Silveira a desistir do encontro. Não teve sucesso. Ele e o governador eleito do Rio de Janeiro, senador Sérgio Cabral, defenderam o adiamento da reunião e sua transferência para Brasília, diante da forte pressão do presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL). O senador trabalhou pelo esvaziamento com o discurso da inconveniência política de o anfitrião do primeiro encontro de governadores ser da ala de oposição ao Planalto. O catarinense, no entanto, manteve-se intransigente. Além de ter tido uma má repercussão entre os governadores, a ofensiva do presidente do Senado foi considerada um erro político, porque aprofunda a divisão interna e não rende dividendos ao Planalto no partido. "Os articuladores do esvaziamento desta reunião jogaram contra o governo", avalia o deputado Geddel Vieira Lima (PMDB-BA). Ele está convencido de que o produto final deste encontro seria "um documento absolutamente sinalizador da disposição dos governadores em conversar com o governo". Da mesma forma, Temer adverte que nem poderia ser diferente, uma vez que cinco dos sete recém eleitos (ES, RJ, TO, AM e PR) já declararam apoio a Lula. Articulação do Sudeste Segundo Hartung, os governadores da região Sudeste - São Paulo, Minas Gerais, Rio de Janeiro e Espírito Santo - deram início a uma articulação inédita que tem como ponto de partida a troca de experiências administrativas. A idéia é fazer com que os encontros evoluam para uma atuação política conjunta no Congresso e junto ao governo federal, a exemplo do que costumam fazer os governadores nordestinos. "Pela primeira vez o Sudeste terá um diálogo e um debate mais articulado, não só sobre temas que afetam particularmente a região, como o problema da segurança pública, mas também sobre questões nacionais", disse à Agência Estado. Depois de receber o governador eleito do Rio de Janeiro, senador Sérgio Cabral (PMDB), em Vitória, na semana passada, Hartung desembarcou em Minas Gerais nesta sexta-feira, para uma conversa com o tucano Aécio Neves. E a agenda de conversas não pára aí. Na semana que vem, o capixaba irá a São Paulo para um encontro com o novo governador paulista José Serra (PSDB), que por sua vez também teve conversas políticas e administrativas com Aécio, a exemplo do que fizera Sérgio Cabral. O governador fluminense procurou Hartung e Aécio, interessado em levar para o governo do Rio a experiência do ajuste fiscal bem sucedido implantado por ambos em seus Estados, ao longo de seu primeiro mandato. Foi o próprio Serra quem tomou a iniciativa de convidar Hartung para uma conversa. Além de ser economista como e ex-tucano, o capixaba foi o primeiro vice-líder de Serra na Câmara, quando ambos eram deputados e companheiros de bancada de Aécio. Na verdade, esta articulação política dos administradores do está sendo facilitada pela relação pessoal que os quatro mantém há anos, alguns desde a juventude. Cabral e Hartung, por exemplo, militaram juntos no extinto Partidão. As ligações políticas e familiares se estendem ao ex-prefeito de Vitória e deputado federal eleito Luiz Paulo Velloso Lucas (PSDB), de quem uma irmã de Cabral foi secretária municipal de Cultura. Este texto foi ampliado às 16h32.