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'Há quem trabalha com critérios políticos', diz Mandetta após ser excluído de reunião com Bolsonaro

Pressionado a alinhar o discurso ao do presidente, que critica medidas de isolamento social, ministro da Saúde disse que vai se pautar pela ciência

Foto do author Julia Lindner
Foto do author André Borges
Por Julia Lindner e André Borges
Atualização:

BRASÍLIA - Após ficar de fora de reunião do presidente Jair Bolsonaro com um grupo de médicos para tratar de cloroquina, nesta quarta-feira, 1º, o ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, afirmou que só trabalha com ciência, enquanto "outros trabalham com critérios políticos". 

"Só trabalho com a academia, só trabalho com a ciência. Existem pessoas que trabalham com critérios políticos, que são importantes também, deixem que eles trabalhem. Não me ofendem em nada. Eu trabalho com foco, disciplinae ciência", disse Mandetta ao ser questionado por jornalistas sobre o encontro, durante coletiva de imprensa no Palácio do Planalto.

Ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta Foto: Wilton Junior/Estadão

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Pressionado a alinhar o discurso ao de Bolsonaro, que critica medidas de isolamento social, Mandetta disse que vai se pautar pela ciência "até o limite de tudo o que estiver na nossa frente". 

"Se isso dá um barulho aqui ou ali, é secundário, terciário. Querem trazer sugestão de quem quer que seja? Tragam com ciência, pesquisa referendada pelo Conselho Federal de Medicina (CFM), que é quem vê questão de medicamento", afirmou. "Eu trabalho com critérios técnicos. O resto não analiso."

Nos últimos dias, Mandetta reafirmou diversas vezes que o uso da cloroquina para tratamento do novo coronavírus ainda não tem comprovação científica e que o medicamento só deve ser usado em casos graves com a devida orientação médica. Do contrário, pode ter consequências. 

Bolsonaro, por sua vez, já chegou a dizer recentemente que o fármaco, usado para malária e outras doenças, tem tido efiácia de "100%" para tratar a covid-19.

Isolamento 

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Com quase 7 mil casos de covid-19 registrados no Brasil até esta quarta-feira, 1º, o ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, estima que o número seja ainda maior. De acordo com ele, com o aumento da realização de testes, a quantidade de pessoas contaminadas deve aumentar na próxima semana. Considerando esse cenário e a falta de equipamentos para profissionais da saúde, Mandetta voltou a defender o isolamento social.

“Não é hora de relaxar, não é hora de fraquejar, a hora é de redobrar o cuidado", defendeu durante balanço do novo coronavírus no Palácio do Planalto. De acordo com ele, com o aumento no número de casos, a taxa de mortalidade, atualmente em 3,5%, deve cair. No País, há registros de 240 mortes por covid-19.

"O número de casos confirmados está menor do que os que estão circulando, o que aumenta muito mais os cuidados", disse o ministro. De acordo com ele, se o Brasil não tivesse adotado o isolamento social, a situação seria muito pior, já que o País não teria estrutura para atender a todos.

"Já estaríamos em espiral de casos se não estivéssemos em isolamento. Lembrando, o Brasil não fez lockdown, o que fez foi diminuição da circulação. Agora precisa redobrar o esforço, senão vamos ter problema de EPI (equipamentos de proteção individual)."

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