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Há meio século na política, ACM morre em São Paulo aos 79 anos

Por MAIR PENA NETO
Atualização:

Há mais de meio século na vida política brasileira, Antonio Carlos Magalhães (DEM-BA) morreu às 11h40 desta sexta-feira por falência múltipla de órgãos, secundária a insuficiência cardíaca, no Instituto do Coração, em São Paulo, onde estava internado desde 13 de junho. Aos 79 anos, o senador já havia sido hospitalizado outras vezes este ano, apresentando quadro de insuficiência cardíaca. Em março, ele esteve internado com quadro infeccioso decorrente de pneumonia e disfunção renal. ACM enfrentava o ocaso nos seus últimos momentos. Seu grupo político, que manteve o poder por quase duas décadas na Bahia, foi derrotado nas eleições de outubro de 2006. E, apesar de ter recuperado seu mandato de senador em 2002, ACM, como era conhecido, ficou marcado pelo escândalo da manipulação do painel eletrônico do Senado, que o levou a renunciar em 2001. Político tido como ultraconservador, ACM, que no passado era chamado de Toninho Malvadeza, manteve relacionamento cordial com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), pontuado por agressões em pelo menos duas ocasiões: na época das denúncias do mensalão em 2005 e às vésperas das eleições do ano passado. Na campanha de 2006, ACM, conhecido frasista, disse que Lula era "um rato gordo e etílico, cujos furtos no Palácio do Planalto eu tenho denunciado no Congresso Nacional". Em resposta, Lula disse que o baiano era o "hamster do Nordeste". Após a posse, Lula recebeu ACM para um encontro no Palácio do Planalto. CORONEL Um dos últimos coronéis da política nacional, Antonio Carlos Magalhães iniciou a carreira política na União Democrática Nacional (UDN), em 1954, quando se elegeu deputado estadual na Bahia. Em 1958, foi eleito deputado federal, sendo reeleito em 1962 e 1966. Seu poder político começou a ser construído durante a ditadura militar, quando foi nomeado prefeito de Salvador, em 1967, e governador da Bahia, em 1970, pelo general-presidente Emílio Garrastazu Médici. ACM voltou, pela via indireta, ao governo da Bahia em 1978. Filiado à Arena, partido de sustentação do regime militar, criado dois anos após o golpe de 1964, ACM foi nomeado em 1975, pelo então presidente Ernesto Geisel, para a presidência da Eletrobrás . ACM passou pelo PDS (Partido Democrático Social), que sucedeu a Arena após o fim do bipartidarismo estabelecido pelos militares, e posteriormente participou da fundação da Frente Liberal, que deu origem ao PFL, no qual se manteve até a morte. Com a mesma estrutura, a sigla passou a se chamar Democratas em março deste ano, mantendo-se na oposição ao governo Lula. O fim do regime militar em 1985 não significou o término da carreira política de ACM, que foi nomeado naquele ano por José Sarney, primeiro presidente civil em 21 anos, para o Ministério das Comunicações. A distribuição de concessões de rádio e TV a políticos para assegurar a extensão do mandato de Sarney para cinco anos foi uma das acusações feitas à gestão de ACM à frente do ministério. ACM voltou ao governo da Bahia, desta vez eleito pelo voto popular, em 1991, e ingressou no Senado em 1994. Seu apogeu aconteceu durante o primeiro mandato de Fernando Henrique Cardoso (1995-2002), quando foi presidente do Senado e indicou dois ministros de sua cota pessoal: Rodolpho Tourinho (Minas e Energia) e Waldeck Ornelas (Previdência). Sem falar do governo da Bahia e a prefeitura de Salvador, ocupados por seus aliados. O Senado foi o abrigo de ACM até o fim da vida, com a breve interrupção do período em que renunciou ao mandato para não ter os direitos políticos cassados. Durante a votação secreta que cassou o senador Luiz Estevão (PMDB-DF), em 2000, ACM e o então senador José Roberto Arruda, atualmente governador do Distrito Federal pelo DEM, foram acusados de quebra de decoro pela violação do painel eletrônico do Senado, revelando como votaram os senadores. ACM retornou ao Senado em 2002, mas já sem a mesma expressão política. Em 2006, sofreu uma derrota em seu principal reduto, com a vitória do candidato do PT Jaques Wagner ao governo da Bahia. O triunfo do petista foi considerado o fim da hegemonia do "carlismo", como ficou conhecida a corrente política comandada pelo senador. (Reportagem adicional de Fernanda Ezabella)

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