Grupos invadem outra fazenda do Opportunity no Pará

Sem-terra alegam que fazendas de Dantas foram adquiridas por 'lavagem de dinheiro'; Mendes criticou repasse

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Por Anne Warth
Atualização:

Cerca de cem integrantes do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) e da Federação Nacional dos Trabalhadores e Trabalhadoras na Agricultura Familiar do Pará (Fetraf) invadiram nesta manhã a Fazenda Cedro, no município de Marabá, no sul do Pará. A fazenda pertence à Agropecuária Santa Bárbara, ligada ao Opportunity e ao sócio-fundador do grupo, Daniel Dantas. Os invasores permanecem nos acampamentos montados nas fazendas. "Eles dizem que as fazendas foram adquiridas por meio de lavagem de dinheiro", afirmou. Segundo ele, os integrantes dos movimentos sociais sabem que as fazendas estão ligadas ao banqueiro.   Além disso, segundo o delegado, os manifestantes alegam que as fazendas próximas à PA 151 não poderiam ter sido vendidas, uma vez que elas foram cedidas pelo Estado a moradores da região para exploração de castanha-do-pará há cerca de 40 anos. Sob essa justificativa, o governo do Pará, por meio da Procuradoria do Estado, obteve na Justiça, em caráter liminar, o bloqueio do título da venda da Fazenda Espírito Santo para a Agropecuária Santa Bárbara em dezembro do ano passado.     No sábado, integrantes do MST e da Fetraf invadiram a Fazenda Espírito Santo, localizada no município de Xinguara, no sul do Pará, também da Agropecuária Santa Bárbara. Cinco pessoas foram mantidas reféns das 4 horas às 9 horas e outras 350, entre funcionários e familiares, sofreram ameaças dos invasores, que portavam armas de fogo.   Já na Fazenda Cedro, a invasão ocorreu sem ameaças ou uso de violência. Os integrantes do MST e da Fetraf montaram acampamento a 300 metros da rodovia PA 151, mas não entraram em contato com as cerca de 220 pessoas que estão na fazenda, entre funcionários e familiares.   Segundo o gerente da Fazenda Cedro, Carlos Eduardo Antunes de Oliveira, há temor em relação à possibilidade de que os manifestantes invadam a sede da fazenda nesta madrugada. Ele afirmou que a diretoria do grupo já fez um boletim de ocorrência comunicando a invasão. "Os funcionários estão apavorados, com medo de que ocorra aqui o que aconteceu na Fazenda Espírito Santo ontem", disse, em entrevista à Agência Estado.   O delegado Alberone Afonso Miranda Lobato, diretor da Delegacia de Conflitos Agrários (Deca) de Marabá, confirmou a invasão das duas fazendas neste final de semana. Ontem, ele esteve na Fazenda Espírito Santo ao meio-dia e instaurou inquérito policial para investigar os crimes cometidos pelos invasores, como as ameaças e os danos à fazenda. Ele disse que agora o clima no local "está mais tranquilo".   "Fomos lá para mediar o conflito, pois os grupos de invasores não estão unidos. Independentemente da nossa ação, a Agropecuária Santa Bárbara já contratou uma empresa para fazer a segurança no local", declarou.   O delegado Alberone disse que já são cinco as fazendas da Agropecuária Santa Bárbara ocupadas no Sul do Pará desde junho do ano passado por integrantes de movimentos sociais - além de Espírito Santo e Cedro, estão ocupadas as fazendas Maria Bonita, Porto Rico e Fortaleza. Fazendas de outros grupos também foram invadidas, mas Alberone destaca que o alvo preferencial dos invasores tem sido as fazendas da Agropecuária Santa Bárbara.   O delegado afirmou que a reintegração de posse das fazendas só pode ser feita pela Polícia Militar após autorização judicial. "O clima está muito tenso no Sul do Pará", afirmou.     Mendes critica   Na semana passada, em reação ao "carnaval vermelho", o presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Gilmar Mendes, disse  ser ilegal o repasse de recursos públicos para movimentos sociais que invadem terras. O ministro também cobrou uma atuação mais enérgica do Ministério Público contra os invasores.   Em 2001, o STF analisou a legalidade do Estatuto da Terra, que proíbe o repasse em caso de invasões. Os ministros rejeitaram um pedido de liminar para que partes da lei fossem derrubadas. O fato foi lembrado por Gilmar Mendes para demonstrar que os repasses não podem ser feitos para movimentos que invadem propriedades públicas e privadas. "O tribunal rechaçou a inconstitucionalidade", afirmou o presidente do Supremo.

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