Grupo queria sangrar cofres públicos, diz relatório

Por Rodrigo Rangel
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Destinada originalmente a rastrear saques suspeitos às vésperas das eleições de 2006, a Operação Boi Barrica acabou por esbarrar no que, segundo a própria Polícia Federal, seria a prova de que o grupo do empresário Fernando Sarney se transformou numa "organização criminosa" instalada na estrutura da administração federal. A partir de escutas telefônicas e documentos obtidos na quebra do sigilo eletrônico dos investigados, a polícia afirma ter chegado a provas de que o grupo usava o poder do sobrenome Sarney para ter acesso, por exemplo, ao Ministério das Minas e Energia e às estatais do setor elétrico, feudos de José Sarney. Outro nicho de atuação do grupo é a Valec, estatal encarregada da construção da Ferrovia Norte-Sul, onde o senador mantém apadrinhados. Os relatórios da PF falam na influência de Fernando Sarney junto à cúpula do Ministério das Minas e Energia, ocupado por Edison Lobão (PMDB), indicado de Sarney. Há conversas dos investigados com Lobão e com seu antecessor, Silas Rondeau, outro apadrinhado do senador. Rondeau figura entre os investigados, a exemplo do diretor de Engenharia da Valec, Ulisses Assad, colega de Fernando Sarney na Poli (Escola Politécnica) da USP. Outro integrante da turma que está entre os investigados é Astrogildo Quental, diretor da Eletrobrás. A PF observa, num dos documentos enviados à Justiça, que a atuação do grupo "demonstra claramente" que se está "diante de uma grande estrutura criada para sangrar os cofres públicos". "A organização criminosa tem se utilizado de seu poder político, notadamente pela influência do alvo principal (Fernando Sarney) e seu livre transito por diversas esferas do governo", diz um dos documentos. Segundo a investigação, empresas mantidas em nome de Gianfranco Perasso e Flávio Lima, também colegas de Fernando, se aproveitavam da posição de comando de Ulisses Assad na Valec para driblar a Lei de Licitações e ganhar contratos do projeto da Ferrovia Norte-Sul. Para a PF, os dois engenheiros atuam como testas de ferro de Fernando Sarney.

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