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Grupo conservador ligado à Igreja Católica ataca Sínodo

Abaixo-assinado com 20 mil assinaturas repete argumento do governo ao falar em ‘inaceitável’ atentado à ‘soberania’

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Por Tania Monteiro
Atualização:

Insatisfeitos com o tom adotado pelos organizadores do Sínodo da Amazônia, representantes de grupos conservadores ligados à Igreja Católica vão realizar nos dias 4 e 5 de outubro, em Roma, um encontro para contestar a abordagem sobre a questão ambiental. Setores católicos questionam o que classificam como tentativas de interferência em “soberanias nacionais” e criticam o endosso a políticas ambientais que privariam a população da região amazônica do desenvolvimento.

O discurso repete os argumentos do governo de Jair Bolsonaro que, conforme mostrou o Estado, tem a preocupação de que o Sínodo se torne mais um palco para críticas ao País na questão ambiental. O receio do Palácio do Planalto é de que o encontro de bispos não se limite a questões religiosas, discutindo também temas relacionados a políticas públicas dos países amazônicos.

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Neste ano, durante 20 dias, 45 caravanistas recolheram 20 mil assinaturas na região amazônica, questionando os desvios que estariam ocorrendo na preparação do Sínodo. O abaixo-assinado que será entregue à cúpula da Igreja fala em “inaceitável” atentado a “diversas soberanias nacionais” por “tentativa de internacionalização” da Amazônia.

A contestação ao Sínodo será apresentada por grupos conservadores ligados à Igreja, como Instituto Plínio Correa de Oliveira e Voz da Família. O texto do abaixo-assinado faz um “pedido aos padres sinodais por uma Amazônia cristã e próspera, e não uma imensa favela verde dividida em guetos tribais”. 

‘Zoológicos humanos’.

Em outro trecho do documento, os grupos repudiam a “utopia comuno-tribalista pela qual uma minoria de antropólogos neo-marxistas e de teólogos da libertação pretende manter nossos irmãos indígenas no subdesenvolvimento, confinando-os num gueto étnico-cultural (verdadeiros ‘zoológicos humanos’) que os privam dos benefícios da convivência e da civilização nacional, como foi denunciado pelo professor Plínio Correa de Oliveira, há 40 anos”. 

Divergências.José Luís Azcona, bispo emérito da Ilha de Marajó, faz críticas a documento Foto: DIOCESE DE NAVIRAI

Expressão semelhante foi usada por Bolsonaro, em seu Twitter, em abril, quando defendeu o direito dos índios de trabalhar e produzir. “Chega de tratar nossos irmãos como animais de zoológicos ou como massa de manobra política”, escreveu o presidente, ressaltando que a “comunidade inteira” ganha com a inserção social indígena.

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O porta-voz do Instituto Plínio Correa de Oliveira, Nelson Barreto, afirmou ao Estado que integrantes do grupo chegaram a se reunir com representantes do governo para tratar de suas preocupações. “Nós reconhecemos que era mais fácil que nós mesmos, leigos católicos, nos manifestássemos sobre a condenação aos erros que estão sendo praticados na preparação do Sínodo, já que, infelizmente, muitos dos representantes do episcopado não se manifestaram”, disse ele.

Dentro da Igreja, o bispo emérito da Ilha de Marajó, José Luís Azcona, é um dos raros integrantes que questionaram pontos do documento preliminar preparado para o Sínodo da Amazônia. D. Azcona criticou o que chama de “visão distorcida” em relação ao chamado “rosto amazônico” e a “interculturalidade”.

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