
13 de junho de 2017 | 03h00
A grave crise política descambou para suspeita de espionagem, contrainformação e desqualificação de todos contra todos, a ponto de a Procuradoria-Geral da República (PGR) ter descoberto, nada mais, nada menos, que um dos seus telefones funcionais estava grampeado. Grampo na PGR? Era só o que nos faltava.
Não se sabe quem fez, ou faria, essa agressão à PGR e ao procurador-geral Rodrigo Janot. Logo, há especulações, que igualmente não poupam ninguém e nenhum Poder. Se houve grampo, foi a PF, que vive às turras com o MP? Ou a Abin, órgão de inteligência do governo, suspeito de fazer devassa na vida do relator da Lava Jato, Edson Fachin? Ou algum deputado, senador ou empresário alvo de investigações?
Cármen Lúcia diz que STF não vai adotar providências sobre suposta 'devassa' contra Fachin
A história ilustra como está Brasília, onde ministros do STF já pedem varreduras de seus telefones, temendo estarem grampeados, seja por aventureiros, seja por órgãos de Estado. Também ministros do Executivo e parlamentares de diferentes partidos já pensam em checar, ou já checaram, seus gabinetes e telefones, preventivamente, enquanto conversas por telefone, em gabinetes e até em locais públicos estão cada vez mais contidas, desconfiadas, quase codificadas. Se nem o presidente da República escapa...
A partir daí, multiplicam-se histórias e versões, sem que se esclareçam quais são verdadeiras, quais são falsas e quem está espalhando o quê. Uma verdadeira é que o ministro Gilmar Mendes quase saiu aos tapas, na chamada “sala de togas” do STF, com o vice-procurador eleitoral Nicolao Dino, que pedira impedimento do ministro Admar Gonzaga no julgamento de Dilma-Temer no TSE e poderia gerar um tenebroso empate.
Mas, em geral, as histórias ficam pairando, nem absolutamente confirmadas nem descartadas. A devassa de Fachin é uma delas. O presidente da República desmentiu, o chefe do GSI também, mas, pelo sim, pelo não, a presidente do STF, Cármen Lúcia, condenou duramente no sábado e, ontem, ressalvou que não cabia investigação “por ora”.
É assim que, em vez de uma saudável luta de ideias, métodos, programas e visões de País, o que se vê é o mundo do poder embolado num confronto insano, onde germinam a injúria, a calúnia e a difamação. A troca de acusações entre PGR, PF, Abin, ministros do Supremo e a Presidência da República, sem contar a barafunda do Congresso, mais confunde do que esclarece, mais desqualifica do que se qualifica.
É como se houvesse metralhadoras giratórias nos Poderes, a ponto de Temer ter gravado pronunciamento ontem para as redes sociais, negando que o governo tenha tentado, ou venha a tentar, qualquer ataque contra o Judiciário e o Legislativo. A sensação é que ele estava não só defendendo a harmonia entre os Poderes, mas se autodefendendo da acusação de estar transformando o gabinete presidencial em bunker contra a Lava Jato.
A Lava Jato é um orgulho nacional e continua firme, forte e nos calcanhares de quem tem de estar. O nível de acertos é inegável. Se há erros, ou excessos, podem e devem ser corrigidos pelos seus próprios agentes. Articulações de cúpulas que são alvo é que geram guerras, atritos e jogo sujo.
Assim como se defende neste espaço que nem todo político é ladrão e nem toda doação de campanha foi propina, agora é não à demonização generalizada. Há divergências entre Poderes e órgãos de Estado, mas não se pode, a qualquer pretexto, atingir a honra de procuradores, delegados, ministros do TSE, do STJ e do Supremo, autoridades do Executivo e todo e qualquer parlamentar. Divergir é salutar. Meter a mãe no meio é focar nos alvos errados e desqualificar o que (ainda) há de mais qualificado no País.
Encontrou algum erro? Entre em contato
Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.