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Governo vai respeitar tempo do parlamento para votar Previdência, diz Major Vitor Hugo

Em entrevista ao Estadão/Broadcast, deputado federal que vai liderar o governo na Câmara defendeu que a reforma tenha tramitação rápida no Congresso

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Por Camila Turtelli e Mariana Haubert
Atualização:

BRASÍLIA - Escolhido para ser o líder do governo na Câmara em seu primeiro mandato, o deputado Major Vitor Hugo (PSL-GO) defende que a reforma da Previdência tenha uma tramitação rápida no Congresso para que os efeitos do impacto fiscal sejam sentidos o quanto antes. 

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Em entrevista ao Estadão/Broadcast, Vitor Hugo disse que, embora o governo queira ver a reforma concluída até o final do primeiro semestre, o presidente Jair Bolsonaro terá que respeitar o tempo do Parlamento. Egresso das escolas militares, ele afirmou que a reforma precisa levar em conta as peculiaridades da carreira. O deputado, porém, não explicitou quais pontos devem ser incluídos no texto discutido pelo governo.

Vitor Hugo rejeita a tese de que não tem experiência para o cargo e conta que já vem se preparando para o desafio desde muito antes de sua indicação. Ele tem se aproximado de ministros e autoridades de alto escalão para promover uma boa relação entre o Executivo e o Legislativo. Uma de suas metas é conseguir levar ao Congresso, com frequência semanal, os ministros para que possam debater sobre projetos diretamente com os parlamentares. "O sucesso do governo depende da aprovação de uma série de medidas", disse.

Sobre as denúncias contra um dos filhos de Bolsonaro, o senador eleito Flávio Bolsonaro (PSL-RJ), Vitor Hugo acredita que elas não atrapalharão os trabalhos do governo no Congresso e disse ver com naturalidade o movimento da oposição para criar uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para apurar o caso.

O presidente Jair Bolsonaro e o deputado federal eleito Major Vitor Hugo (PSL-GO) Foto: Facebook Major Vitor Hugo/Reprodução

O líder contou ainda ser favorável a uma revisão do pagamento do auxílio-mudança para deputados que tenham sido reeleitos ou que, como ele, já tenham residência em Brasília. "Eu vou abrir mão do benefício", declarou.

Leia a íntegra da entrevista:Estadão/Broadcast - O que o governo já apresentou para o senhor sobre a reforma da Previdência? Vitor Hugo - Conversei com o secretário da Previdência, Rogério Marinho, na semana passada. E tenho mantido contato com ele pelo WhatsApp. Toda vez que sai uma notícia, eu confirmo com ele se o posicionamento já é esse. Mas eu não posso entrar no mérito de nenhuma pauta que foi apresentada porque extrapola a minha função. Depois que a proposta for formalmente apresentada, aí começa o meu trabalho de convencimento, de articulação, de ir à imprensa para defender. Antes é especular. Lógico que já tive acesso a alguns detalhes, mas não me sinto à vontade para falar.

Estadão/Broadcast - Vai ter espaço para que os parlamentares trabalhem neste texto? Porque o ministro Onyx Lorenzoni, da Casa Civil, chegou a dar uma declaração de que o Congresso mexeria pouco no conteúdo para acelerar a tramitação. Há uma pressa realmente de se votar ainda no primeiro semestre? Vitor Hugo - Existe uma pressa porque a gente gostaria que o impacto fiscal da reforma já se desse o quanto antes. Aliás, esse é o grande objetivo. De que a reforma auxilie na redução do déficit fiscal. Então, o quanto antes aprovar, melhor. Mas o tempo político não é o tempo normal. É imprevisível. É difícil falar. O ideal é sim [aprovar no primeiro semestre], mas o governo vai respeitar o tempo do Parlamento.Estadão/Broadcast - O senhor tem tido conversas com outras lideranças para já adiantar a discussão sobre a reforma? Vitor Hugo - Eu tenho conversado com os líderes, mas eu não tenho entrado no mérito de nenhuma questão até para não contaminar a discussão porque neste momento estamos formando a base. Então eu pergunto se tem alguma dificuldade de acompanhar a gente de forma geral nas pautas econômicas. E com os líderes com os quais eu conversei não houve nenhuma resistência

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Estadão/Broadcast - Como assim uma dificuldade? Vitor Hugo - Existe uma expectativa, que já foi colocada diversas vezes, de que o governo vai priorizar a pauta da Previdência. E que existem outras pautas econômicas. A reforma tributária, proposições legislativas que ajudem no desenvolvimento da infraestrutura.

Estadão/Broadcast - Essas pautas podem vir junto da reforma da Previdência e podem tramitar em paralelo? Vitor Hugo - É uma possibilidade, mas eu não sei o que o governo está pensando neste momento. Eu não tive ainda uma conversa sobre essa estratégia de apresentação.

Estadão/Broadcast - A reforma tributária pode ser apresentada depois da previdenciária? Vitor Hugo - Eu não sei qual a ordem certa em que o governo pretende apresentar as propostas, mas a tributária com certeza está logo na sequência. O próprio Paulo Guedes [ministro da Economia] já falou que a reforma tributária complementa a reforma da Previdência e que juntas vão ajudar o Brasil a crescer muito mais.Estadão/Broadcast - O que mais de ajuste econômico e fiscal o governo pode mandar para o Congresso este ano? Vitor Hugo - Eu só tenho as manifestações públicas que o Paulo Guedes já fez e eu tenho certeza que vocês acompanham. Não tive nenhuma orientação privada, particular, sobre pautas para além da Previdência.

Estadão/Broadcast - O senhor vem de uma carreira militar. O que o senhor defende para a categoria, pessoalmente, na reforma da Previdência? Vitor Hugo - A maneira como o governo decidir é a que eu vou tratar aqui dentro. Agora, até por um mandamento constitucional e também, que é uma diretriz do presidente e é o meu sentimento e desejo, é que sejam levadas sempre em consideração as peculiaridades da carreira. Se vai ser discutido no bojo da reforma da Previdência agora ou se vai ser mandado depois, isso daí é indiferente desde que a Constituição seja atendida no sentido de levar em conta as especificidades da carreira.

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Estadão/Broadcast - O senhor tem conversado com muitos ministros e autoridades para estreitar a relação dos parlamentares com esses ministérios e órgãos. O senhor já combinou com algum ministro para vir ao Congresso assim que a reforma da Previdência for apresentada?Vitor Hugo - O ministro da Economia eu não conversei com ele ainda, mas vou conversar. Sobre a Previdência, em particular, eu só conversei com o secretário da Previdência [Rogério Marinho]. Não toquei sobre a vinda dele [Marinho] aqui, mas imagino que isso não venha a ser problema. Até porque ele foi parlamentar por muito tempo, então aqui é o ambiente dele também.Estadão/Broadcast - O senhor também já conversou pessoalmente com o presidente Jair Bolsonaro na semana passada? Vitor Hugo - Tenho mantido contato com ele, porque no final das contas quem foi eleito com 57 milhões de votos foi o presidente. E eu fui indicado por ele. Então, eu converso com todos os ministros, mas eu quero a posição dele. Na hora que eu tiver com o relator, negociando o texto [da Previdência], eu quero ter a diretriz clara do que ele pensa.Estadão/Broadcast - A indicação do senhor causou surpresa a outros parlamentares pela sua inexperiência como deputado. Como o senhor conheceu o presidente e por que ele o escolheu? Vitor Hugo - Fiquei 21 anos no Exército. Quando cheguei à tropa, meu primeiro comandante em Macapá era da turma do Bolsonaro. Então, quando cheguei aqui na Câmara, depois de 21 anos no Exército, era natural que eu olhasse para ele com um olhar semelhante ao que eu olhava para o meu primeiro comandante quando eu era aspirante. Houve uma aproximação natural. Quando cheguei aqui, ele já sabia a meu respeito e ele que me procurou. Ele é mais expansivo, mais brincalhão e eu mais reservado, até porque eu estava chegando do Exército, não sabia nem como lidar com os parlamentares, se com a mesma etiqueta do Exército ou outra.Estadão/Broadcast - Como o senhor pretende conversar e negociar com a oposição? Vitor Hugo - Um dos fatores da escolha foi o aspecto da minha personalidade que é ser conciliador. Quero ter uma relação o máximo possível cordial e respeitosa com a oposição.Estadão/Broadcast - Uma questão que tem fustigado o governo são as denúncias contra o filho do presidente, Flávio Bolsonaro. Como o senhor está acompanhando o caso? Considera que elas de fato são muito graves e podem atrapalhar o trabalho do governo no Congresso no início da legislatura? Vitor Hugo - Minha avaliação é a de que não vão atrapalhar. As instituições brasileiras como um todo estão funcionando. O senador vai ter a oportunidade de se defender no foro que o STF [Supremo Tribunal Federal] decidir. Essa é a questão particular de um senador, não vai impactar toda a grandiosidade das reformas.

Estadão/Broadcast - A instalação de uma CPI pela oposição preocupa? Ou não vê chances? Vitor Hugo - A CPI é um instrumento de fiscalização próprio das minorias. É um direito da oposição de pleitear e fazer sobre o assunto que eles quiserem. Eu vejo com naturalidade. Se eles acham que têm que investigar isso, que seja criada.Estadão/Broadcast - Qual a opinião do senhor sobre o pagamento do auxílio-mudança para os deputados. O benefício deve ser pago para os parlamentares reeleitos? Vitor Hugo - Na minha visão particular há espaço para discutir para os reeleitos, porque se não houve mudança e transporte, não faz sentido receber. Agora, o deputado que está vindo em primeiro mandato e está efetivamente fazendo uma mudança, que tem gasto com transportes, aos moldes de várias carreiras públicas, e imagino que em algumas privadas também. É viável. Acho que faz sentido.Estadão/Broadcast - Mas o senhor, por exemplo, já trabalha aqui há quatro anos e há outros parlamentares que já moram e trabalham em Brasília também. O pagamento do auxílio então teria que ser analisado caso a caso? Vitor Hugo - Eu vou abrir mão. A norma deveria ser aperfeiçoada. Embora eu ache que o melhor caminho é que isso fosse resolvido por lei, foi uma regulamentação que deixou as hipóteses de uma maneira mais clara. Então, será que é o caso do deputado receber o benefício no início e no fim da legislatura, sendo que ele nem saiu daqui e já tem passagem para ir para casa: Realmente é preciso discutir.

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