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Governo vai auxiliar na busca por desaparecidos

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Por Agencia Estado
Atualização:

Pela primeira vez, o governo federal vai colocar na internet listas de nomes de crianças desaparecidas e encontradas em todo o País. A partir da primeira semana de dezembro, o site do Ministério da Justiça terá um portal específico para isso. Pelo site, será possível denunciar o sumiço de crianças e adolescentes preenchendo uma ficha de cadastro. O portal também vai listar as crianças e adolescentes localizados. Muitas vezes, eles são encontrados em outro Estado ou desmemoriados e, por falta de uma rede de comunicação, não voltam para casa porque a família nem sabe que foram achados. O caso do garoto Pedrinho, seqüestrado há 16 anos em uma maternidade de Brasília e localizado na semana passada por seu pai biológico Jayro Tapajós, é emblemático para a iniciativa. Pedrinho, registrado como Oswaldo Martins Borges Júnior, foi encontrado a partir de um telefonema para o SOS Criança do Distrito Federal. Desconfiada da filiação do amigo, a informante, uma jovem de 18 anos, encontrou uma foto de Tapajós com 10 anos no site da Organização não-governamental Missing Kids e estranhou a semelhança. Agentes do SOS foram a Goiânia e confirmaram, após exames de DNA, a procedência da informação. Encontrar crianças e adultos desaparecidos e avisar suas famílias e a polícia. Essa deveria ser a regra nos hospitais e entidades de acolhimento de crianças e adolescentes, mas a falta de estrutura e de pessoal prejudica o funcionamento do sistema. Ao contrário do governo federal, que inaugura no próximo mês o seu serviço de crianças desaparecidas, as secretarias estadual e municipal da saúde não têm nenhum órgão que centralize as informações sobre o problema ou trate dele especificamente. Tudo depende da boa vontade de assistentes sociais e de funcionários de carreira. A Secretaria Estadual de Assistência e Desenvolvimento Social de São Paulo mantém apenas três pessoas no setor responsável por crianças e adolescentes desaparecidos. E o problema não é pequeno. Ao todo, 17 mil pessoas sumiram no Estado em 2001, das quais 10.700 foram encontradas vivas ou mortas. Até setembro desde ano, o número de desaparecidos chegou a 14 mil em São Paulo. Uma lei estadual obriga hospitais e instituições de acolhimento de crianças e de moradores de rua a informar à polícia a entrada de pessoas sem identificação ou inconscientes, o que nem sempre ocorre. De acordo com a Secretaria Estadual da Saúde, os assistentes sociais dos hospitais devem, quando necessário, fazer pesquisas e procurar a polícia, além de recorrer à mídia para tentar identificar uma pessoa inconsciente ou que não se recorde do endereço ou do telefone de casa. Rubens Kon, assistente-técnico da coordenação hospitalar da secretaria, afirma que as orientações para o tratamento desses casos na rede muncipal são antigas. "O problema não é raro, mas só uma minoria dos pacientes que entra como desconhecidos permanece assim quando se recupera. Nesses casos, a polícia é informada", diz. O setor de crianças e adolescentes desaparecidos da Secretaria Estadual de Assistência e Desenvolvimento Social (Rua Guaianases, 1.385, tel: 3331-1333) mantém um cadastro de 8 mil casos no site www.missingkids.com.br. Seus três funcionários trabalham divulgando fotos de crianças e mantendo contatos com famílias e instituições como o Centro de Referência do Programa Criança Cidadã, para onde são encaminhadas crianças encontradas perambulando pelas ruas de São Paulo - eles obtêm sucesso em 50% dos casos. Quando chegam ao centro, as famílias são orientadas sobre onde procurar seus parentes. Os pais devem levar fotos recentes de seus filhos. A maioria dos desaprecidos em São Paulo, no entanto, é de pessoas com mais de 18 anos. São casos como o do comerciante Otto Spiess. Um dia Spiess sumiu. Saiu de casa com a roupa do corpo. Já faz dois anos que sua família não tem notícias. Ele estava cheio de dívidas, como tantas outras pessoas que desaparecem. Não é só por causa de dinheiro que isso ocorre. Um estudo dos casos mostra que o uso de drogas, a desagregação familiar e os problemas de relacionamento de adolescentes com os pais estão por trás de muitos dos casos ocorridos no Estado. Mas há aqueles, principalmente os de crianças, para os quais a polícia não tem explicação. Desespero e esperança não são os únicos sentimentos de uma família diante do fato. É muito forte a tentativa de entender por que isso ocorrreu. "Só quando sentimos na pele é que nos damos conta de como o problema é grave, diz a professora aposentada Renata Maria do Carmo Ribeiro Spiees, de 56 anos, que continua atrás do marido com quem foi casada durante 29 anos. Segundo dados da polícia, 59% das pessoas que desaparecem em São Paulo são homens. Eles lideram a estatística em quase todas as faixas etárias, exceto a dos adolescentes entre 13 e 18 anos, em que as mulheres somam 64% do total em 2001 e em 2002. O interior concentra 64% dos casos no Estado. Os casos envolvendo crianças são poucos - 1,8% nos últimos 21 meses. A polícia afirma que nunca houve qualquer indício de que elas tenham sumido para a extração de órgãos, como consta da lenda urbana. "Muitas crianças não sabem o telefone ou o endereço de casa e se perdem na cidade", disse o delegado José Flamínio Ramos Martins, da Delegacia de Pessoas Desaparecidas, da Divisão de Proteção à Pessoa (DPP). A polícia conta com a ajuda de hospitais, entidades assistenciais e de centros de acolhimento de moradores de rua e de crianças para encontrar as pessoas. "Quanto mais a família fornece dados precisos das características e roupas da pessoa desaparecida, mas fácil é encontrá-la", afirmou a delegada Elizabeth Ferreira Sato, titular da DPP, que chefia a Delegacia de Pessoas Desaparecidas. O boletim de ocorrência pode ser feito em qualquer delegacia. É possível ainda registrar o caso por meio do site da Polícia Civil (www.policia-civ.sp.gov.br). Pelo e-mail pessoas-desaparecidas@sp.gov.br o interessado pode enviar fotos do parente e pedir informações à polícia, que incluirá os dados em seu cadastro, com cerca de 100 mil casos. O serviço é gratuito.

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