Os líderes da base governista estão convictos de que haverá número suficente de parlamentes para tentar concluir amanhã a votação dos destaques ao Orçamento da União de 2002. A expectativa é de que a sessão da Comissão Mista de Orçamento, prevista para começar às 14h30m, seja tumultuada e repita o duelo entre governo e oposição, ocorrido na madrugada de sábado, quando os trabalhos foram interrompidos por falta de quórum. "O governo tem maioria esmagadora na Comissão e, se quiser, conclui a votação dos destaques de um Orçamento que, além de inflacionário, é uma demonstração de falta de austeridade nas contas públicas", avaliou o líder do PDT, deputado Miro Teixeira (RJ). Mas o vice-líder do governo no Congresso, deputado Ricardo Barros (PPB-PR), reagiu: "A oposição perdeu o discurso e terá muita dificuldade para sustentar uma obstrução. Poderá até tentar essa manobra, mas vai custar caro, pois sua atitude será cobrada eleitoralmente". Tanto os aliados do governo quanto os líderes de partidos de oposição reúnem-se amanhã para avaliar suas estratégias. Pela manhã, o líder do governo no Congresso, deputado Heráclito Fortes (PFL-PI), fará um levantamento da presença de parlamentares em Brasília e reafirmará a estratégia de realizar sessões de, no máximo, duas horas para impedir eventuais manobras da oposição. Uma delas, o pedido de verificação de quórum. Para manter a sessão na Comissão Mista de Orçamento e votar os destaques, o regimento exige a presença de 12 senadores e 33 deputados. "Deveremos ter entre 15 e 16 senadores. Se precisar, ainda podemos chamar os parlamentares substitutos para cobrir eventuais ausências", afirmou o vice-líder do governo no Senado, Romero Jucá (PSDB-RR). Ainda na reunião de avaliação, os líderes governistas vão analisar as chances de o Orçamento ser votado amanhã no plenário do Congresso Nacional, caso consigam votar todos os destaques até a madrugada de quinta-feira. Essa hipótese, porém, não é consenso na base aliada. "A tendência é encerrar a votação na Comissão na quinta-feira, mas estamos preparados para ir até sexta-feira", previu Jucá, revelando pessimismo quanto à possibilidade de o plenário do Congresso aprovar o Orçamento até o dia 28. Enquanto os governistas fazem as contas, os líderes de oposição estarão também reunidos em busca da unificação do discurso. O deputado Miro Teixeira vai propor que os partidos oposicionistas tentem, por meio de destaque, suprimir do relatório as verbas que, segundo o líder pedetista, estariam destinadas aos líderes governistas e aos integrantes da Mesa da Câmara. "São recursos advindos de receitas condicionadas para atender ao núcleo de poder da Comissão de Orçamento, um processo semelhante ao que ocorreu na era Collor e no escândalo dos anões do Orçamento", denunciou. O líder do PT na Câmara, Walter Pinheiro (BA), concorda com o colega do PDT ao afirmar que "as condições de elaboração do Orçamento são muito perigosas". "O relator-geral do Orçamento, deputado Sampaio Dória (PSDB-SP), tem poderes para movimentar sozinho, por exemplo, o montante de R$ 850 milhões. Mesmo que não se levantem suspeitas sobre a honestidade do relator, não há dúvida de que é algo muito arriscado", disse Pinheiro. Segundo ele, esses recursos seriam usados depois como moeda eleitoral. O único ponto em comum entre integrantes da base governista e da oposição é de que a reunião de amanhã atravessará a madrugada e, mais uma vez, explicitará as divergências entre os dois grupos. "Será uma discussão cansativa e política. Um exercício de paciência. Vamos esperar e ver o que acontece", concluiu o deputado Heráclito Fortes.