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Governo tenta acertar passo, mas setor aéreo ainda antagoniza

Por NATUZA NERY
Atualização:

Apesar da orientação do governo de que todos os setores da aviação compartilhem responsabilidades para dar uma resposta à crise, a Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) e a Infraero ainda protagonizam um jogo de empurra. Enquanto o Palácio do Planalto tenta acertar o passo na gestão dos atuais problemas, agravados com o maior acidente aéreo da história do país na semana passada, o diretor-presidente do órgão regulador, Milton Zuanazzi, está procurando a proteção pessoal no Congresso para defender-se das críticas de omissão. Emissários dele passaram os últimos dias disparando telefonemas a parlamentares para tentar atrair aliados a sua linha de defesa, centrada especialmente na estratégia de descolar a agência da crise e do acidente. Ele busca apoio para o depoimento na CPI da Crise Aérea da Câmara, marcado para esta quarta-feira. "Apoio a medidas para melhorar o tráfego, eu dou, mas não para encobrir os erros da Anac. Foi ele (Zuanazzi) quem transformou a Anac em uma sucursal das companhias aéreas", afirmou o deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ), membro da CPI e um dos integrantes da lista de contatos de Zuanazzi para pedir apoio. "Congonhas já trabalhava no limite de sua capacidade e isso piorou muito. A Anac fez concessões de rotas, permitindo essa bagunça no país", acrescentou o deputado. A assessoria de imprensa da Anac foi procurada para comentar a informação, mas não deu retornou sobre o assunto nas últimas 24 horas. Desde o acidente com o vôo 3054 da TAM, Zuanazzi repete que a instituição é cobrada por respostas que fogem às suas atribuições legais, que seriam muitas vezes de competência da Infraero. CRÍTICA VELADA O presidente da estatal que administra os aeroportos, brigadeiro José Carlos Pereira, apontou nesta semana que até agora o país não tinha uma política de aviação ou um plano aeroviário, o que implicava ausência de "unicidade de comando" no setor. A declaração se encaixa na contenda entre as duas instituições e ganha peso quando combinada com a avaliação nos corredores do Palácio do Planalto de que uma das grandes falhas do órgão regulador foi não ter elaborado nem uma política nem um plano nacional de aviação. Mesmo antes do acidente, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva já estava irritado com a atuação da Infraero e da agência, segundo fontes do governo. No primeiro caso, planeja uma substituição para os próximos dias. No segundo, não pôde intervir, pois a Anac tem autonomia jurídica determinada em lei. Algumas áreas de governo chegaram a discutir sugestões de intervenção na agência, mas a hipótese abriria nova frente na atual crise e foi descartada. Uma possibilidade em avaliação é dar mais poder ao Conac (Conselho de Aviação Civil) para cobrar medidas da agência no escopo de suas atribuições. Indicado diretor-presidente da Anac no início de 2006, Zuanazzi tem mais quatro anos de mandato pela frente. Desde que passou a funcionar, a agência enfrentou a falência da Varig; o acidente com o avião da Gol e suas repercussões sobre o controle do espaço aéreo; atrasos nos aeroportos e a tragédia com o vôo da TAM.

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