Governo procura culpados por falhas em informações

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Por Agencia Estado
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Um jogo de empurra se estabeleceu no governo federal para descobrir de quem foi a culpa pela invasão da fazenda Córrego da Ponte, de propriedade da família do presidente Fernando Henrique Cardoso. No governo, em uma análise preliminar, as informações são de que houve um erro de avaliação do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), responsável pela guarda do patrimônio do presidente da República e de sua família, em não tomar medidas preventivas reforçando o policiamento na fazenda, já que a ameaça existia e era de conhecimento do Palácio do Planalto, conforme admitiu o próprio general Alberto Cardoso. Há 20 dias o Movimento dos Trabalhadores Sem-Terra estava reunido, em Buritis (MG), a 60 quilômetros da fazenda do presidente, em negociação com o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra). A Agência Brasileira de Inteligência (Abin) alertou o Planalto sobre a presença dos sem-terra na área e a possibilidade de invasão. Esta era a quinta vez que o MST agia da mesma forma. O Incra, por sua vez, informava hoje que havia advertido o governo sobre a disposição dos sem-terra de invadir a fazenda. Mas o Planalto ressalvava que todos os dados repassados pelo Incra indicavam que as negociações transcorriam muito bem, com atendimento de reivindicações e, por isso mesmo, o risco de invasão era mínimo, não havendo motivos para expor o governo, reforçando a segurança da fazenda com a convocação do Exército. Os funcionários do Desenvolvimento Agrário, por sua vez, alegam que não tinham como garantir que não haveria invasão e diziam apenas que havia negociações em aberto. Apuração Hoje o general alegou que, durante esta semana, será feita uma detida apuração em relação aos fatos "à guisa de aprendizagem, para que não se repitam eventuais possíveis falhas e erros que tenham permitido essa surpresa". Indagado se não era o caso de se prevenir para evitar a invasão, já que havia indícios de que ela poderia ocorrer, o general avisou que é exatamente isso que vai ser apurado. Ele insistiu que a invasão ocorreu em plena negociação com o Incra e, a partir de amanhã, vai haver uma investigação para saber o que houve e porque "os indícios relevantes e alguns não tão relevantes" não foram levados em conta. Por causa desses últimos acontecimentos, o governo poderá destacar uma guarda especial para proteger a fazenda da família do presidente. "Estamos avaliando essa possibilidade", reconheceu o general, que já foi duramente criticado por ter deslocado as Forças Armadas para a propriedade particular do presidente. Desta vez, ele quis evitar novas críticas, mas a invasão, depois de quatro tentativas, agora aconteceu. Alguns setores do governo lembravam que o general Cardoso já tem em mãos todos os instrumentos necessários, inclusive jurídicos, para colocar o Exército na fazenda Córrego da Ponte e criticaram o fato de ele ter hesitado em tomar essa decisão. Nas discussões no Planalto, houve quem advertisse que não era o caso de procurar culpados porque a responsabilidade seria de todos: do Incra, da Polícia Federal, que também tem um serviço de inteligência e poderia advertir e forçar uma ação, da Abin até do Exército, que tem também seu serviço de inteligência. As reuniões no Planalto se estenderam da noite de ontem até às duas da manhã de hoje, quando as negociações para a saída dos sem-terra estavam encaminhadas. Houve críticas também em relação à demora na chegada do Exército à fazenda, o que só ocorreu à noite. A alegação da área militar foi de que, como havia ameaça de que os sem-terra poderiam incendiar o local, os bombeiros foram acionados para ir juntos e demoraram a ficar prontos. Abin Representantes tanto da oposição quanto do governo estranharam as circunstâncias em que ocorreram a invasão, sem resistência dos empregados da fazenda ou do governo. O deputado José Genoíno (PT-SP) disse hoje que a Abin "comeu mosca ou ajudou a colocar mosca na comida". Ele lembra que o governo já sabia que há 20 dias os sem-terra estavam na área e não fizeram nada para evitar a invasão. "Ou o País não tem inteligência ou ela está conivente com tudo isso. Por isso, precisamos fazer uma investigação sobre o verdadeiro papel da Abin", desabafou Genoíno. Já o líder do governo no Congresso, deputado Ricardo Barros (PPB-PR), acha que "faltou atenção" por parte do governo federal, mas acha que a polícia de Minas Gerais pode ter colaborado para confundir as investigações. "Se não fosse Minas, eu diria que houve erro da Abin, mas por ser em Minas, eles podem ter sido tapeados pela turma do Itamar."

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