Governo mobiliza até governador tucano pela CPMF

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Por CHRISTIANE SAMARCO E MARCELO DE MORAES
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Na blitz deflagrada para tentar obter os votos necessários para aprovar no Senado a prorrogação da cobrança da Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira (CPMF), o governo mobilizou até um governador de oposição. Hoje, o governador da Paraíba, Cássio Cunha Lima (PSDB), propôs ao senador Cícero Lucena (PSDB-PB) que se licenciasse do mandato para que o suplente Carlos Dunga (PTB), votasse no lugar dele a favor da administração federal. Lucena recusou a idéia e manteve a posição contrária à CPMF. Na prática, o Poder Executivo pôs todos os agentes, ministros e governadores para virar votos na Casa e assegurar os 49 necessários à aprovação da proposta. Para o Executivo, a rejeição da CPMF significa uma perda de arrecadação de cerca de R$ 40 bilhões. O ataque do Palácio do Planalto foi deflagrado em vários pontos, mas ainda está longe de produzir os 49 votos necessários para a contribuição. Hoje, o ministro dos Transportes, Alfredo Nascimento conversou com o senador Expedito Júnior (PR-RO) para tentar convencê-lo a apoiar o projeto. Não teve sucesso na primeira investida. "O ministro perguntou-me como era a minha posição e se não tinha jeito de mudar. Respondi que continuo do mesmo jeito: contra a CPMF", afirmou Expedito Júnior, que tem hoje pelo menos um companheiro de dissidência dentro do PR, o senador César Borges (BA). Em outra frente, o governador do Mato Grosso, Blairo Maggi (PR), tentou atrair votos até de senadores de oposição, como Jonas Pinheiro (DEM-MT) e Jayme Campos (DEM-MT), aliados dele no Estado. Como os partidos de oposição fecharam posição contra a proposta, Pinheiro e Campos tiveram de dizer não a Maggi. "Não voto a favor da CPMF nem que o papa peça", afirmou Campos. O ministro do Trabalho, Carlos Lupi, ficou encarregado de tentar atrair votos entre os senadores do PDT. Por causa disso, reúne amanhã a comissão executiva nacional do partido para tentar dobrar eventuais resistências dentro da bancada. O novo chefe da Secretaria de Relações Institucionais da Presidência da República, José Múcio Monteiro, também tem a agenda cheia. Hoje à noite, janta na casa do senador Gim Argello (PTB-DF) com a bancada do PTB, na qual vários senadores ensaiam uma resistência à proposição. Dos seis integrantes da bancada, os senadores Mozarildo Cavalcanti (RR) e Romeu Tuma (SP) resistem a apoiar o Planalto nesse assunto. "Se eu fosse o ministro, também tentaria me convencer. Mas minha decisão está tomada contra a CPMF", afirmou Cavalcanti. Múcio conseguirá, pelo menos, a garantia de que a legenda não fechará questão contra a aprovação do imposto, o que facilita as negociações dentro da sigla. Ele pode ter conquistado o voto do senador Sérgio Zambiasi (PTB-RS), que participou das negociações do ministro da Fazenda, Guido Mantega, com a governadora do Rio Grande do Sul, Yeda Crusius (PSDB), em torno de ajuda financeira ao governo do Estado, que enfrenta grandes dificuldades. "O governo tem uma causa, que é a CPMF. A minha causa maior é o Rio Grande do Sul. Não quero nomear ninguém. É outro nível de discussão. Meu voto é diretamente vinculado ao meu Estado", afirmou Zambiasi, recebendo a compreensão dos colegas de bancada. "A pressão de apelo regional é terrível", reconhece Cavalcanti. "É forte, mas não é fisiológica", acrescenta. Em outra frente, o novo chefe da Secretaria de Relações Institucionais da Presidência da República levará amanhã à Mantega para jantar com a bancada do PMDB na casa do líder da agremiação no Senado, Waldir Raupp (RO). A idéia é que o ministro da Fazenda mostre aos senadores do PMDB a importância da aprovação do tributo. De acordo com o líder do PSB na Casa, Renato Casagrande (ES), toda essa mobilização é necessária para evitar a derrota da emenda. Casagrande quer que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva ajude nessas articulações. "O governo desarticulou-se nessa votação. Hoje, não temos votos necessários para aprovar a CPMF. Mas amanhã podemos ter. Agora, o técnico tem de usar todo mundo para ganhar o jogo e o artilheiro Lula tem de entrar em campo", disse.

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