Governo ignora ongs e deve lançar Kelly Key contra aids

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Por Agencia Estado
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A escolha da cantora Kelly Key para protagonizar a campanha de carnaval de prevenção à aids desagradou ao fórum de organizações não-governamentais ligadas ao combate da doença. O Ministério da Saúde não deu ouvidos à chiadeira e lançará a partir do dia 18 a campanha ?Sexo sem camisinha? Só olha e baba baby?, estrelada por Kelly. O governo sustenta que aproveitará a popularidade da cantora para estimular a mudança de comportamento ao retratar uma jovem que não abre mão do seu poder de negociação pelo uso do preservativo. ?Em suas letras, (Kelly) assume-se como mulher vaidosa, dominadora e que sabe o que quer?, explica o ministério em nota oficial. Integrantes do fórum, que assistiram ao filme publicitário nesta quinta-feira, não gostaram de não terem sido ouvidos antes e reclamaram que a campanha explora a figura da mulher objeto. Em carta entregue ao ministro da Saúde, Humberto Costa, o fórum definiu a imagem de Kelly Key como contraditória para a luta de prevenção da aids. ?É perversa com as/os jovens quando vende um modelo de sucesso e modo de vida baseada no consumo e na futilidade?. Mais adiante acrescenta ainda que a imagem da contora ?propõe uma pseudo liberdade sexual, onde o homem é o oprimido e a mulher é a opressora?. A representante das Ongs do Nordeste na comissão nacional DST/aids, Solange Rocha, disse que o governo escolheu a estratégia errada para uma campanha educativa. Solange afirmou que a cantora fala apenas para um determinado tipo de jovem, principalmente do eixo Rio-São Paulo. Na opinião dela, as músicas da cantora não contribuem para a construção de valores e autonomia dos jovens. Mas garantiu que o fórum não fez qualquer julgamento moral sobre Kelly Key. Defesa O presidente do Grupo Gay da Bahia, Marcelo Cerqueira, discorda da posição do fórum. ?Estou convencido de que o apelo da Kelly Key ajudará a salvar vidas?, disse, considerando uma ?bobagem todo este esperneio? em torno da campanha do carnaval. O coordenador da Coordenação Nacional de DST/Aids, Paulo Teixeira, explicou que a escolha foi técnica, considerou ?a vulnerabilidade da mulher à epidemia da aids por ela ser subjugada às decisões do homem?. A cantora, diz Teixeira, pode ajudar a convencer a jovem a impor sua vontade e necessidade de uso de camisinha. Além do ?discurso?, Kelly se aproximaria do público que se pretende atingir por seu perfil: aos 20 anos tem uma filha e foi casada por seis anos com um homem dez anos mais velho. Teixeira afirma que a velocidade de crescimento da aids entre as mulheres é nove vezes maior do que entre homens e que o número de casos já é maior entre as adolescentes de 13 a 19 anos do que entre os rapazes nesta mesma faixa etária. Segundo ele, isso ocorre porque elas iniciam a atividade sexual cada vez mais cedo, com rapazes mais velhos, e se sentem ?inibidas e intimidadas?. O governo anunciou que pretende realizar uma campanha para conter a epidemia entre mulheres de até 24 anos. Os protagonistas da campanha serão os irmãos Sandy e Júnior, que têm imagem de bons moços. ?Sandy e Júnior também são fenômeno de público, mas um público muito diferente do de Kelly Key.?

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