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Governo fica surpreso com tamanho da manifestação e aliviado com caráter pacífico

Monitoramento feito pelo Planalto não indicava que as adesões poderiam superar as dos protestos de março de 2015

Foto do author Vera Rosa
Foto do author Beatriz Bulla
Por Vera Rosa e Beatriz Bulla
Atualização:

BRASÍLIA - Apesar da previsão inicial de que as manifestações deste domingo seriam maiores do que atos anteriores, o governo se surpreendeu com a multidão que ocupou as ruas em todo o País. O protesto deste domingo bateu recorde de público na comparação com os demais realizados no segundo mandato da presidente Dilma Rousseff. 

A presidente, que passou o domingo no Palácio da Alvorada acompanhando as mobilizações, reuniu um grupo de ministros ao longo da tarde e início da noite para definir a estratégia a ser adotada pelo governo como reação às manifestações.

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Por volta das 20h, a Presidência divulgou uma nota sucinta, de quatro linhas, na qual destacou o “caráter pacífico das manifestações”, que demonstra a “maturidade de um País que sabe conviver com opiniões divergentes e garantir respeito às leis e às instituições”. “A liberdade de manifestação é própria das democracias e por todos deve ser respeitada”, diz o texto. 

O governo teme que os atos fortaleçam o processo de impeachment da petista, que deve ser retomado pelo Congresso ainda nesta semana. O presidente da Câmara, deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ), já avisou parlamentares que a Casa retomará o processo de impedimento da presidente assim que o Supremo Tribunal Federal concluir o julgamento sobre o rito do impeachment, o que está previsto para acontecer na quarta-feira.

Os ministros Jaques Wagner (Casa Civil), Edinho Silva (Comunicação Social), Ricardo Berzoini (Secretaria de Governo) e José Eduardo Cardozo (Advocacia-Geral da União) fizeram neste domingo o balanço do dia e discutiram com Dilma os próximos passos do governo. 

Até o final da última semana, o governo avaliava que os atos deste domingo seriam maiores que os três últimos, no rastro da delação premiada do ex-líder do governo no Senado Delcídio Amaral (PT-MS) e da condução coercitiva do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva no depoimento à Polícia Federal. O monitoramento feito pelo Planalto não indicava, porém, que as adesões poderiam superar as dos protestos de março de 2015.

Dilma se preocupa com o esfacelamento da base aliada, depois do aviso prévio dado pelo PMDB ao governo. Na convenção nacional de sábado, o partido definiu prazo de 30 dias para discutir o desembarque oficial da gestão petista e a entrega de cargos. Até lá, peemedebistas ficaram impedidos de assumir novos postos no governo federal. Muitos no Planalto falam na necessidade de uma “concertação”, sem indicativos concretos de como a ideia pode sair do papel.

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Pacto. Em conversas reservadas, interlocutores de Dilma dizem que é preciso um pacto nacional para sair da crise, mas ainda não conseguem definir os próximos passos. “A situação é muito difícil”, disse um ministro ao Estado. “Os problemas não são poucos e matamos muitos leões por dia. Mas achamos que nem todos os caminhos estão interrompidos.”

Bloqueio.

O receio de atos violentos e tentativas de invasão à residência oficial da presidente fez com que o entorno do Palácio da Alvorada, onde Dilma permaneceu durante todo o domingo acompanhando em tempo real as manifestações, ficasse bloqueado para passagem de carros e pedestres. Cerca de um quilômetro antes da guarita de entrada no Alvorada, o bloqueio era feito por placas de metal e segurança ostensiva.

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