Governo fez acordo para desviar foco de Denise Abreu

Por Cida Fontes
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Por orientação do Palácio do Planalto, o governo decidiu não ficar na defensiva e mudar a estratégia na Comissão de Infra-Estrutura do Senado. Fez um acordo com a oposição para aprovar o comparecimento de Denise Abreu, ex-diretora da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), em audiência marcada para a próxima quarta-feira. Para evitar que o foco do debate se concentre em Denise Abreu, o PT e o PMDB incluíram em requerimento outras pessoas envolvidas na transação como Milton Zuanazzi, ex-diretor da Anac, e o juiz Luiz Roberto Ayoub. Denise Abreu acusou a ministra Dilma Rousseff, da Casa Civil, de ter pressionado a Anac durante a operação de compra e venda da Varig. Diante dessa ofensiva do governo, o senador Demóstenes Torres (DEM-GO) acrescentou três nomes que também serão ouvidos pela Comissão de Infra-Estrutura: o advogado Roberto Teixeira, o ex-procurador da Fazenda Manoel Felipe Brandão e Leur Lomanto, ex-dirigente da Anac. Na tentativa de demonstrar que o governo deseja também apurar as denúncias, os líderes da base aliada concluíram que a defensiva, uma prática adotada em momentos anteriores, resultou em fracasso. Por isso, seria estrategicamente inadequada e só serviria para dar munição à oposição. "Poderíamos ter ido para o voto e ficar apenas nos nomes que sugerimos", reagiu a líder do bloco governista, senadora Ideli Salvatti (SC), deixando claro que, se quisesse, o governo poderia ter derrubado os requerimentos e recorrido ao rolo compressor da maioria para imobilizar a oposição. Com o fracasso da Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) dos Cartões Corporativos, PSDB e DEM ficaram sem instrumentos de pressão para atingir a chefe da Casa Civil. "A oposição teme Dilma como candidata à Presidência da República", afirmou Jucá. Depois de se reunir com o ministro de Relações Institucionais, José Múcio, no Planalto, o líder do governo no Senado, Romero Jucá (PMDB-RR), voltou ao Congresso na noite de ontem e convenceu Ideli a recuar no enfrentamento. A petista, inclusive, assinou o requerimento de Jucá pedindo o comparecimento de três ex-dirigentes da Anac, além de Denise Abreu. Na avaliação do governo, medir força com PSDB e DEM seria traduzido em medo, passando a versão de que a ordem é de não apurar nada. As audiências envolvendo os dois lados na operação de compra e venda da Varig e Variglog serão, na avaliação do líder governista, decisivas para esclarecer as dúvidas. Ficou decidido que sete pessoas participarão da primeira audiência pública semana que vem, ficando outras cinco para 18 de junho. Dessa forma, haverá uma espécie de acareação e o governo poderá se aproveitar de eventuais contradições, não deixando a palavra apenas com Denise Abreu.

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