Bolsonaro decreta luto oficial por morte de Olavo de Carvalho

Escritor morreu aos 74 anos nos Estados Unidos; texto do Executivo afirma que ele deixou como legado 'um verdadeiro apostolado a respeito da vida intelectual'

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Foto do author Eduardo Gayer
Por Eduardo Gayer
Atualização:

O presidente Jair Bolsonaro decretou luto oficial de um dia, em todo o País, pela morte do escritor Olavo de Carvalho, considerado guru do bolsonarismo. O governo também emitiu nota oficial para lamentar a morte de Olavo. No texto, o escritor e astrólogo é definido como “intransigente defensor da liberdade”, que deixa como legado “um verdadeiro apostolado a respeito da vida intelectual”.

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Olavo de Carvalho morreu na noite desta segunda-feira, 24, aos 74 anos. Ele estava internado em um hospital nos Estados Unidos e não teve a causa da morte divulgada. No último dia 15, a equipe de Olavo – crítico contumaz das vacinas contra o novo coronavírus – anunciou o diagnóstico de covid-19.

Extremista, o escritor era líder do que se convencionou chamar de “bolsonarismo raiz” e influenciava a ala ideológica do governo. No início do governo, indicou ministros para Bolsonaro, como Ricardo Vélez Rodríguez (Educação), Ernesto Araújo (Relações Internacionais). Olavo também apoiou a nomeação de Abraham Weintraub para o lugar de Vélez, que saiu sob críticas. No ano passado, Olavo protagonizou vários embates com o governo e criticou Bolsonaro. Chegou a dizer a aliados, em mais de uma ocasião, que se sentia abandonado pelo presidente. Em dezembro, Olavo afirmou que só votaria novamente em Bolsonaro por falta de alternativa.

Bandeira Nacional foihasteada a meio mastro, emlutopela morte do escritor Olavo de Carvalho. Foto: Dida Sampaio/Estadão

Com a decretação do luto oficial, a bandeira do Brasil ficará a meio mastro em todo o País. De acordo com a nota oficial emitida pelo governo, Olavo ofereceu “inúmeras contribuições que inspiraram e influenciaram dezenas de milhares de alunos e leitores – inclusive, levando muitos à conversão à fé, segundo incontáveis relatos”. “O governo do Brasil lamenta a perda do filósofo e professor Olavo de Carvalho e manifesta seu pesar e suas condolências a familiares, amigos e alunos”, diz o texto. 

Apesar de não ter finalizado a graduação em Filosofia, o escritor se apresentava como professor da disciplina e ministrava cursos. Teve entre os alunos o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), filho do presidente Jair Bolsonaro (PL), e ajudou a formar uma legião de bolsonaristas. 

A nota do governo ainda cita elogios que Olavo de Carvalho teria recebido, no passado, de intelectuais brasileiros como Jorge Amado e Ariano Suassuna.

Veja a nota do governo na íntegra. 

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O Governo do Brasil lamenta a perda do filósofo e professor Olavo de Carvalho e manifesta seu pesar e suas condolências a familiares, amigos e alunos.

De contribuição inestimável ao pensamento filosófico e ao conhecimento universal, Olavo deixa como legado um verdadeiro apostolado a respeito da vida intelectual, com uma vasta obra composta de mais de 40 livros e milhares de horas de aulas. Entre suas inúmeras contribuições, defendeu a primazia da consciência individual; apresentou uma inédita e inigualável teoria sobre os quatro discursos aristotélicos; teceu valiosas considerações sobre o conhecimento por presença e originais análises sobre as etapas do desenvolvimento da personalidade humana; além de inúmeras outras contribuições que inspiraram e influenciaram dezenas de milhares de alunos e leitores – inclusive, levando muitos à conversão à fé, segundo incontáveis relatos.

Intransigente defensor da liberdade e escritor prolífico, o professor Olavo sempre defendeu que a liberdade deve ser vivida no íntimo da consciência individual e na inegociável honestidade do ser para consigo mesmo: "Não fingir saber o que não sabe nem fingir não saber o que sabe", resumia assim o conceito da honestidade intelectual. Olavo de Carvalho oxigenou o debate público brasileiro e inseriu no mercado editorial do país e popularizou centenas de autores, dentre os quais se destacam Mário Ferreira dos Santos, Louis Lavalle e Viktor Frankl.

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Admirado por proeminentes intelectuais, foi classificado por Roberto Campos como "filósofo de grande erudição"; segundo Jorge Amado, possuía "reconhecida competência na área da filosofia". Para Paulo Francis, "Olavo de Carvalho vai aos filósofos que fizeram a tradição ocidental de pensamento, dando ao leitor jovem a oportunidade de atravessar esses clássicos". E para Ives Gandra Martins, "Olavo é o mestre de todos nós". O filósofo também foi reconhecido por grandes escritores nacionais, como Herberto Salles, Josué Montello, Ariano Suassuna, Antônio Olinto, Hilda Hilst, Miguel Reale, Bruno Tolentino e muitos outros.

"O amor não é um sentimento: é uma decisão, um ato de vontade e um comprometimento existencial profundo. Os sentimentos variam, mas o amor permanece. Quem não compreendeu isso não chegou nem perto da maturidade. É um juramento interior de defender o ser amado até à morte, mesmo quando ele peca gravemente contra você. O amor é mesmo, como dizia Jesus, morrer pelo ser amado. Quando a gente espera que o amor torne a nossa vida mais agradável, em vez de sacrificar a vida por ele, a gente fica sem o amor e sem a vida. O amor é o mais temível dos desafios, porém, quando você o conhece, não quer outra coisa nunca mais." Olavo de Carvalho.

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