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Governo do Rio faz campanha para atrair turistas

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Por Agencia Estado
Atualização:

Marqueteiro de si mesmo, o governador do Rio, Anthony Garotinho (PSB), comanda a maior investida de publicidade de um governo na história do Estado, e de forma peculiar: interfere nas campanhas, sugere slogans e esboça textos. Com R$ 90 milhões, sob contestação judicial, para gastar no setor até o fim de 2002, o governador até cria bordões, como o mote: "Governo do Estado do Rio de Janeiro, fazendo o nosso povo mais feliz". Ele prepara-se novos vôos: hoje, o governo, sem a presença dele, lança uma campanha nacional de R$ 2 milhões para promover o turismo no Rio. "O governador já me ligou com idéias até cinco vezes por dia; das 7 horas à meia-noite, pode telefonar a qualquer momento", conta o publicitário Hayle Gadelha, de 54 anos. Sócio da Internad Publicidade, uma das cinco agências que cuidam da propaganda oficial, ele confirma que é Garotinho o autor do principal slogan da administração, atualmente martelado no rádio, na televisão e em outdoors. "O grande marqueteiro do governo, em conhecimento, é ele, que tem todos os números na cabeça; às vezes, telefona e diz: ´Olha, quero um texto que diga isto assim e assim´. Só fazemos a redação final." Gadelha não sabe quantas iniciativas de publicidade resultaram de idéias do governador, mas diz que foram muitas. "Nem tudo que ele sugere é aproveitado", esclarece o publicitário, que trabalhou na campanha do socialista (na época, no PDT) em 1998, foi filiado ao PT e atuou para os ex-governadores Leonel Brizola (PDT), presidente nacional do partido, e Moreira Franco (PMDB), assessor especial da Presidência da República. Entre os palpites de Garotinho que se concretizaram, cita o nome Vida Nova, de um programa de assistência a jovens. Outras idéias - denominações e até símbolos oficiais - foram criados por publicitários, o que demonstra a preocupação do governo com a mídia. "Nós criamos o nome Nova Polícia aqui na Internad, na época do Luiz Eduardo Soares (então coordenador de Segurança Pública, que rompeu com o governo em 2000 e hoje trabalha no Rio Grande do Sul)", conta o publicitário, referindo-se ao projeto de unificação das Polícias Civil e Militar, atualmente, paralisado por questões na Justiça. "Aquele logotipo dos carros policiais (NP, com os dizeres ´Nova Polícia´ em preto) também saiu daqui." A Internad, entre outros, criou ainda o nome Passe-Cidadão, de um programa de transporte popular a ser lançado. O tamanho da ofensiva publicitária de Garotinho está nos números do Sistema Integrado de Administração Financeira de Estados e Municípios (Siafem), acessados via computador pela liderança do PT na Assembléia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj). Uma pesquisa constatou que, só até 20 de junho, tinham sido comprometidos com o pagamento de nove agências de publicidade R$ 22.686.394,00. Sondagem anterior, feita em março, constatou que, em 2000, o governo Garotinho destinou pelo menos R$ 27,6 milhões para a mesma finalidade. Em 1999, o dispêndio fora de menos de R$ 9 milhões. Uma análise das cifras mostra que, até 20 de junho, o Estado comprometeu o equivalente a mais de 81% do que despendeu em 2000. Do total de dinheiro empenhado em 2001, mais de 76% saíram da Coordenadoria de Comunicação Social - ligada à Secretaria do Gabinete Civil - diretamente à chefia do governo. O curioso é que a proposta de orçamento do Executivo para este ano reservava R$ 9,6 milhões à publicidade - e a Assembléia aprovou apenas R$ 2 milhões. O restante do dinheiro tem sido suplementado pelo governador, que tem usado, para isso, a prerrogativa legal de realocar parte do orçamento. O governo fluminense argumenta cumprir a lei, ao divulgar as realizações. Segundo o coordenador de Comunicação Social, Carlos Henrique Vasconcelos, tudo tem sido feito legalmente, com autorização do Tribunal de Contas do Estado (TCE). Segundo Vasconcelos, a administração estadual não teme investigações na área e responde a todos os requerimentos de informação sobre o assunto - afirmação que é contestada por oposicionistas com o deputado Chico Alencar (PT), que diz que faltam dados importantes nas respostas. "O valor gasto até agora este ano é acumulado, com dinheiro dos dois contratos, o do passado e o que foi assinado este ano", diz Vasconcelos. Nos dois primeiros anos de governo, a propaganda oficial ficou com um pool de sete agências: Internad, V&S Publicidade, Cult Comunicação, Fischer América Rio Comunicação Total, Artplan Publicidade, Giovanni FCB e Standard, Ogilvy & Mather. Para 2001 e 2002, após a licitação dos R$ 90 milhões, o setor ficou a cargo de cinco agências: saíram Cult, V&S, Fischer e Standard, e entraram DPZ Propaganda e Agência Três. As demais permaneceram. A ofensiva publicitária está espalhada pelo Estado. São outdoors, anúncios em pontos de ônibus, em relógios de rua. Nas emissoras de rádio e de televisão, peças curtas exaltam as obras e programas do Estado. "As Delegacias Legais do Rio foram consideradas pela Organização das Nações Unidas (ONU) as mais modernas da América Latina", diz um deles. "O Restaurante Popular Betinho já serviu 500 mil refeições a 1 real", afirma outro. "O Rio está construindo a segunda clínica pública para dependentes de drogas do Brasil", exalta um terceiro. Na oposição, o PT critica o que considera abuso com o dinheiro público. Uma ação popular tentou impedir a licitação de R$ 90 milhões, alegando erros no edital. Um deles: o texto, feito em 2000, teve de ser corrigido a pedido do Tribunal de Contas do Estado (TCE). Ele estabelecia que R$ 10 milhões seriam gastos ainda em 2000. A questão é que, por causa de atrasos, a licitação só pode ser feita este ano, criando o impossível: licitar, em 2001, R$ 10 milhões (dos R$ 90 milhões) para gastar em 2000. Uma liminar da 3.ª Vara da Fazenda Pública determinou a suspensão da licitação, mas o Estado alegou que os contratos tinham sido assinados. A Justiça, então, determinou que as cinco agências fossem incluídas como rés na ação popular, mas não suspendeu a execução dos contratos.

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