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Governo conclui etapa de despoluição do Rio Pinheiros

Até agora, 120 mil imóveis tiveram ligação de esgoto regularizada; objetivo é chegar a 533 mil localidades até 2022

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Por Bruno Ribeiro
Atualização:

As obras para a despoluição do Rio Pinheiros, promessa do governo João Doria (PSDB), terminaram 2020 atingindo a marca de terem feito ligações de esgoto em 120 mil imóveis na cidade de São Paulo. Embora a meta seja coletar os dejetos de 533 mil localidades, técnicos do governo acreditam que, até o fim de 2022, o governador possa anunciar o cumprimento da proposta. 

Com o rio sem cheiro nem água turva, o governo planeja reocupar suas margens, trazendo a população para perto do Pinheiros. O Estado já assinou concessões para renovar a ciclovia existente ali e para a construção, na área da antiga Usina de Traição (rebatizada Usina São Paulo), próximo à Ponte Estaiada, de um centro de convenções e gastronomia. Na semana que vem, deve anunciar o resultado de outra licitação, um chamamento público ocorrido na última terça-feira, para a criação de um parque linear.

Localizado na zona sul da capital, o Córrego Zavuvus, da Bacia do Rio Pinheiros, integra a operação de despoluição Foto: Werther Santana / Estadão

Transformar as margens do rio Pinheiros em ponto de encontro e área de lazer é uma das apostas de Doria para se redimir com os moradores da capital paulista – onde sua taxa de rejeição chegou a 51%, na última pesquisa Ibope, em novembro. Na nova Usina São Paulo, concedida por R$ 280 milhões a um consórcio privado, o governador espera que seja criado o que ele chama de “Puerto Madero” brasileiro, em referência à área revitalizada de Buenos Aires, na Argentina

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Obras

As obras de ligações de esgoto estão sendo feitas em bairros distantes até 10 quilômetros do rio, em geral em favelas com casas construídas irregularmente, que lançam o esgoto diretamente em 16 córregos que deságuam no Pinheiros. Nesses locais, a Sabesp está construindo dutos de coleta dos dejetos bem ao lado dos córregos, e levando até esse duto os canos dos imóveis que, antes, iam para o rio. Os serviços são complementados pela retirada de sujeira no próprio rio.

Parte do otimismo dos técnicos está no fato de que as empreiteiras contratadas para o serviço são remuneradas não mediante a conclusão de novas ligações, mas sim por resultado (quanto esgoto deixa de ser lançado). Quanto antes o córrego fica limpo, antes elas recebem. “Elas têm um estímulo extra para concluir o serviço”, diz o secretário estadual de Infraestrutura e Meio Ambiente, Marcos Penido. O rio estará “despoluído”, segundo as metas, quando a Demanda Biológica de Oxigênio (DBO) for de 30 mg/l. Hoje, é de 75. Quando menor o DBO, mais oxigenada está a água, o que permite a vida.

As metas do governo são tidas como “exequíveis” pela gerente da Causa Água Limpa da SOS Mata Atlântica, Malu Ribeiro. Para ela, o projeto pode de fato retirar o odor do rio. “A forma de fazer, ter uma rede coletora ao lado do rio e essa rede receber os dejetos, tendo em vista que a ocupação das casas é irregular, é adequada. Finalmente temos uma solução para essas pessoas que eram invisíveis.”

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Porém, segundo Malu, com esse índice DBO, o Pinheiros só servirá para navegação ou para a diluição de esgoto. Ela defende que haja um projeto de longo prazo para que a despoluição seja maior, o que permitiria outros usos. “O máximo (DBO) que o rio deveria ter, segundo a legislação, é 10”, afirma. “A gente venceria esse desafio promovendo uma reurbanização: retirando essas pessoas de áreas irregulares.”

Ao visitar as obras, observa-se que as ligações são feitas de canos de plástico ligadas aos dutos, seguradas em estruturas de cimento cru que se assemelham à estética precária comum das favelas. Porém, quem recebeu o serviço em seu lar o aprova. “Em casa não tinha muito cheiro de esgoto, era mais para o fim da rua. Mas eles vieram aqui, quebraram o piso e fizeram uma tubulação para a minha casa e para as duas casas de trás”, disse a pensionista Edilene Conceição Dias, de 51 anos, cuja casa foi alvo das obras em julho.

Limpeza dos rios é bandeira do ‘Estadão’

A despoluição dos rios – em especial a do Tietê – é uma bandeira do Grupo Estado. Reportagem do Estadão de 17 de outubro de 1898 já abordava o problema – uma pesquisa realizada pelo Instituto Bacteriológico apontava que amostras indicavam um rio “sujeito à contaminação de toda a espécie: recebe aguas servidas, dejecções de homens e animaes, nas margens encontram-se lavadeiras e tudo isso colloca a agua deste rio em condições perigosas”.

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Até hoje, a questão é tema de editoriais e reportagens.

No início dos anos 1990, a Rádio Eldorado encabeçou uma campanha pela limpeza do rio. Um abaixo-assinado reuniu 1,2 milhão de assinaturas. A movimentação mobilizou o governo a lançar, em 1992, o Projeto Tietê para a despoluição do rio.

“Se as águas servem a todos – e estão mortas para todos –, todos devem assumir a sua cota de responsabilidade na sua ressurreição”, afirmou o Estadão no editorial A agonia do Tietê, de 8 de outubro de 2019, sobre um pacote de medidas anunciado pelo governo de São Paulo para limpar o Rio Pinheiros até 2022, assim como promover a despoluição do Rio Tietê até 2027.

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